- Vou te apanhar!
Corriam pela vegetação ainda molhada pelo pequeno orvalho que caiu durante a manhã. Alguns ramos eram quebrados enquanto os garotos corriam e riam como as crianças que eram. Uma delas tinha um ramo, já sem folhas, fingindo ser uma espada, o outro fugia dele mas não parecia nem um pouco assustado. Não estavam assim tão longe de casa, mas ambos adoravam fingir estar numa floresta muito, muito longe de casa. Os pais não estavam longe, mas ambos fingiam estar sozinhos. Era uma típica tarde de brincadeira para ambos que aproveitavam ao máximo o facto de os pais serem amigos desde o ensino médio. Eles se conheciam mesmo quando nem se entendiam por gente.
Quando chegaram ao "esconderijo" deles, pousaram as mãos nos joelhos tentando recuperar o fôlego. O chão tinha algumas poças de água, a cascata* estava a poucos metros. Estar perto de água fazia um deles se sentir de um jeito que não sabia explicar, amava quando chovia, estar do lado de fora chapinhando e rindo, adorava se sentir encharcado. E, estranhamente, nunca ficava doente quando o fazia. Ao tocar na água, se sentiu renovado, no entanto, esta sensação para si era natural. Se ele se atrevesse a contar alguém, talvez com tudo o que estavam a ocorrer no mundo naqueles últimos anos... Melhor era não pensar nisso. Uma criança não devia conhecer a sede de sangue de adultos sem empatia que só conheciam o poder. Apesar de que alguns desses adultos faziam parte da família de um deles.
O maior sorriu ao ver seu reflexo. Achava engraçado o buraco em que um dia foi preenchido por um dente de leite que caiu recentemente. A fada dos dentes foi generosa e lhe deu uma nota de 10000 wons* que ainda não havia gasto. Queria juntar dinheiro para comprar a Jungkook uma espada de brincar que tinha visto na vitrine de uma loja. Jungkook tinha uma paixão por armas. Espadas, arco e flecha, pistolas. O pai de Jeon achava que isso se devia à mãe dele ser polícia, mas o mais velho achava que ele tinha um futuro maior. Ele desde cedo imaginou que Jungkook mataria deuses. Jungkook o olhava fascinado para o outro quando falava aquilo. Com a inocência de uma criança que não sabia o significado de ter sangue nas mãos.
Estavam por toda a parte. Deuses primordiais estavam no mundo. Eles eram reais. Junto com eles veio uma série do que até então eram considerados mitos. Ninfas, sereias, centauros, sátiros, hidras até mesmo Medusa. "Eles são uma ameaça" era o que os fanáticos pela mitologia grega diziam. Era um facto. Haviam deuses, uns verdadeiros deuses, naquilo a que chamamos Terra. Eram de tamanho normal e se misturavam entre os humanos, apesar de tudo. E eles eram praticamente caçados. Existiam os famosos "God Hunters" que tinha a função dos caçar e prender.
Cada Deus tem a sua forma de morrer.
Isso disse Nix, a deusa primordial da noite. Era misteriosa, se escondia entre as sombras, era quase que uma ilusão. Ela parecia saber muito apesar de não estar nem aos pés de, por exemplo, Caos, o primeiro Deus primordial. No entanto, algo era certo, até deuses têm fraquezas e conhecimento limitado, apesar de milhões de vezes maior que um humano comum. Claro que muitos nem se importavam com quem eram ou com as capacidades que tinham e muito menos se tinham família. Eles são deuses. Eles têm uma fonte de poder inexplicável cientificamente, obviamente, toda essa caça fazia os humanos sentirem-se os 1 Cascata - português de Portugal para cachoeira 2 10000 won equivale a 7,60 euros e a 33,80 reais maiores, os reis, donos do primeiro lugar da uma cadeia alimentar. Os primeiros deuses não lutavam, nem sequer resistiam muitas das vezes, mas ainda assim famílias se vangloriavam por vencerem eles. Ainda não tinha caído a ficha que pelo menos um desses deuses iria controlar o lugar em que iam ficar após a morte. Os campos elísios, as ilhas afortunadas, a ilha dos amores, e claro, Tártaro, ou como os cristãos lhe chamam, o Inferno, eram uma realidade agora. E esses que maltrataram os deuses e ostentavam a sua conquista estavam agora com suas almas ardendo no tão temido inferno. Alguns comentadores de rádio e de TV achavam aquilo tudo um enorme erro, não se devia fazer uma caça a alguém inquestionavelmente maior que nós, um corvo que tenta andar como uma cegonha está destinado a quebrar as pernas. Mas os avisos de nada valiam, suas vozes que tentavam alertar sobre o caos que seria se continuassem a insistir numa perseguição eram abafadas pelas vozes de revolta do povo: "Eles são monstros!"; "Eles têm que morrer!"; "Se ninguém os parar, vão destruir as nossas famílias".
Ninguém pensava que eles eram deuses. Poderosos, superiores, algo muito maior que a raça humana e poderiam matar em um segundo caso assim decidissem. Para a felicidade das cabeças que só queriam saber de dinheiro e fama, eles eram jovens e estavam assustados. Cresceram achando que eram demónios, sem noção das próprias capacidades, escondidos da sociedade. No mínimo, apenas dois conseguiram fugir das mãos dos "normais". Não se revoltaram porque tinham medo. Medo do que eram e do que poderiam fazer. Mas as gerações a seguir? Não se sentiriam revoltados pelo que fizeram aos pais e avôs divinos? Não quererão justiça pelo que humanos, ironicamente, se achando deuses fizeram? Chegaram a condenar os deuses à morte apesar de ser praticamente impossível.
Mas as duas crianças não tinham noção disso. Achavam a caça algo épico. Sentiam orgulho por dominar alguém que era maior que a raça humana. Mas quem somos nós para julgar tal coisa. Espanhóis e portugueses sentem orgulho da sua história apesar de haver sangue nas mãos dos antepassados. Sentir orgulho de tragédia era algo típico do humano, mas e quando os reais deuses fizerem se ouvir? Jungkook achava que os poderia derrotar por alguma razão. Deuses eram o inimigo. Foi o que a criança aprendeu, foi o que os pais e toda a sociedade ensinou. O que esperavam de um ser que era tão influenciável? Crianças são o espelho das aprendizagens que a sociedade lhes ensina.
- TaeTae! Cuidado! – Jungkook ria brincando com a "espada".
Ambos lutavam contra uma árvore que fingiram ser um deus. Taehyung agora também tinha um ramo na mão. Este quebrou o frágil ramo quando bateu forte na árvore. De início, ficou assustado, depois chateado com Jungkook que ria tão abertamente da cara do mais velho. Ao contrário dos adultos não havia ódio em seus movimentos, apenas a sensação de orgulho e alegria por estarem a brincar um com o outro.
- Não te rias! – falou, emburrado, o garoto sem o dente.
Mas isso só fez Jungkook rir ainda mais. Quase nem respirava direito quando o outro inventou de fazer cócegas nele. Não havia problemas, nada de sério acontecia. Eram crianças comuns ou assim pensavam na altura. Acabaram deitados no chão molhado ainda rindo alegremente. Os risos foram parando aos poucos mas os sorrisos não os abandonaram. Em suas cabeças aquilo duraria para sempre. Eram eles contra os deuses, contra o mundo. Pelo menos, eles achavam que sim.
- TaeTae?
- Sim? – o mais velho o olhou sorrindo sem aquele dente. Jungkook achou adorável, queria ser como ele quando crescesse, apesar da diferença deles ser de apenas dois anos.
- Podes fazer uma promessa?
- Sim, o que é? – falou infantilmente o garoto.
- Prometes que quando crescermos... - o pequeno sussurrou no ouvido do outro.
Era uma promessa simples, na altura não havia dúvidas. Era isso que ambos queriam. Maldita foi a hora em que fez aquela promessa. Nunca pensou na tamanha volta que a vida lhe daria quando crescesse. As consequências que estariam relacionadas com isso, as decisões que tira que tomar, as pessoas que iam enfrentar ou o risco que ia correr por ter dito duas simples palavras.
- Prometo, Kookie!
Infelizmente, tinha prometido. Uma promessa feita por um deus.
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Divine Promise • kth + jjk
FantasyNum mundo onde os deuses gregos são uma realidade aceita pelos humanos após anos a serem perseguidos, no meio está Kim Taehyung que teve sua vida virada de cabeça para baixo quando aos seus dezanove descobriu ser um deus. Após três anos se escondend...