Jeon Jungkook
K-Art, Seoul, Coreia do Sul, dois dias antes do regresso do Taehyung a Seoul
Era estranho carregar aquilo na minha mochila. Parecia que aquele mero livro iria me expor ao mundo. Não que todos que me conhecem não saibam de quem sou neto, mas era estranho. Claro que no fundo sabia que tudo não passava de uma paranoia minha e que ninguém sabia o que estava na minha mochila. Devia começar a pensar em conversar com alguém sobre esse assunto, mas não tem uma única pessoa que eu confie a esse ponto. Bom, talvez uma pessoa. Mas ela cresceu, tem a vida adulta construída e nem lembro mais da última vez que o vi. Já não contava os dias para vê-lo porque nunca mais meti a vista em cima. Devia ter uma mensagem dele por responder no meu telemóvel faz uns dois dias, mas não tive forças para ver o que seria.
"Já comeste?"; "Andas a hidratar-te?"; "Precisas de ajuda com algo?"
Claro que aquecia o meu coração saber que ele ainda se preocupava comigo, mas eu queria aquelas perguntas pessoalmente. Queria um abraço dele. Algum toque. Um sorriso bastava, caramba. Eu devia guardar rancor disso tudo, mas ele sempre foi tão compreensivo comigo em tudo. Ele que me mostrou o mundo, praticamente. E ele estava a crescer, sempre ocupado numa empresa que nunca falou onde era, a viver feliz por aí. Por uns momentos me sentia egoísta por querer que ele sempre estivesse por perto como quando eramos pequenos. Eu me sentia como se fosse o mundo porque eu era a sua prioridade. Agora ele cresceu e parece que se afastou para me tornar independente e para que cresça também. Era a única razão que me ocorria para ele ter se afastado de mim. Apercebeu-se do quanto me mimou e que eu não poderia ser a única prioridade dele no mundo.
Mas se passaram três anos. Era mau demais querer pelo menos que um desses dias a atenção dele fosse exclusiva minha?
Ele sempre aparecia no meu aniversario, pelo menos. Mas ele sempre parecia tão deslocado do lado dos meus amigos que eu nem queria que ele ficasse por muito tempo. Se ele quer estar comigo pelo menos que se sinta confortável em fazê-lo. Eu queria que ele estivesse do meu lado. Eu brincaria com ele se ele me pedisse nesse momento, sem me importar com a idade, sem importar com esses nossos anos conturbados. Eu sentia saudade do garoto que me ofereceu aquela espada de brincar há uns anos e que me oferecia um sorriso todos os dias. Porque tivemos que crescer? Talvez o erro fosse meu por não deixar claro que eu preciso dele. Talvez eu que devesse o mimar já que ele fez isso a sua vida toda. Talvez.
O dia foi se arrastando como sempre. Não que eu não gostasse do meu curso. Eu amo fotografia com todas as minhas forças, mas as vezes o dia me parecia tão lento. Tão sem emoção. Tinha amigos, mas os do meu curso eram como "amigos de lanche". Serviam para apenas falar de coisas banais, na maioria das vezes eles falam mal de outras pessoas, coisa que nunca prestei muita atenção e nunca concordei, chegando até às vezes me sentir mal por aquilo. O hyung sempre disse que não era "engraçado" falar mal das outras pessoas sem as conhecer direito. Eles falam sobre os meninos que quererem "ficar", boatos e fofocas que eu nem sabia como tinha começado. Eles falam muita merda. Eu mesmo tinha a sensação que falavam mal de mim pelas costas. Eles ficavam comigo no almoço e depois me ignoravam. Era sempre assim, mas o que mais podia fazer? Os meus amigos de verdade eram apenas um ou dois e eles não tinham o mesmo horário que o meu. São eles ou sentar sozinho. Talvez fosse melhor a segunda opção. Eu só queria alguém que me entendesse e se sentasse comigo por querer ser amigo e não por querer algo no futuro. Conhecendo eles têm toda a razão para querer alguém que conheça um advogado. Eu sempre achei que tudo isso for dar uma acalmada quando acabasse o ensino secundário, mas gente que não presta está em todo o lado, não importa a idade.
Acabei por ir à biblioteca depois que que comi, tinha tudo menos forças para aguentar aquela gente tóxica mais um segundo que seja. Indo para o canto mais escondido que conhecia, permiti respirar fundo. Já se passaram dois anos desde que entrei na K-Art e ainda me sentia um calouro. Ainda me sinto tão pequeno neste lugar, com tanto medo de acabar o curso e ter que ser um adulto. Será que Taehyung se sentia assim? Isso explicaria a quantidade de mensagens a perguntar se tudo está a correr bem aqui. Acho que a única coisa que me faz conseguir superar todos os projetos e a quantidade absurda de livros que tenho que ler é o conselho dele.
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Divine Promise • kth + jjk
FantasyNum mundo onde os deuses gregos são uma realidade aceita pelos humanos após anos a serem perseguidos, no meio está Kim Taehyung que teve sua vida virada de cabeça para baixo quando aos seus dezanove descobriu ser um deus. Após três anos se escondend...