Segundo Capítulo

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Fui acordada por Camila quando os raios solares já tostavam o meu rosto. Ela sorriu para mim com um semblante preocupado e uma xícara na mão. Meu corpo pareceu sucumbir quando tentei me pôr de pé. Um analgésico, talvez, cairia bem...

Uma noite indormível e sem sons acabara de passar e eu despertei cansada e com prováveis olheiras. Camila pareceu me ver por dentro e questionou:

- Está se sentindo bem, meu amor?

- Estou - menti - e você?

- Quão bem? Você não dormiu comigo... O que houve?

- Eu saí da cama na madrugada porque não consegui pregar os olhos. Fiquei aqui na varanda pensando nas coisas.

- Pensando ou fumando?

- Acho que ambos, não é?

- Por que não me chamou, Laur? - ela acariciou meu rosto e me olhou no fundo dos olhos. - Eu ficaria aqui com você. A gente poderia ter visto um filme agarradinhas.

- Me desculpe...

Ela me abraçou e, mais uma vez, seu abraço me trouxe paz.

Comi pouco, estava sem apetite. Sinto-me frustrada com esse estado de espírito que me encontro agora. Eu deveria estar feliz, curtindo minha mulher e a gravidez dela, mas mais pareço um saco pesado de pedra.

Em determinada hora do dia, eu me desculpei novamente com ela por causa da forma como estou. Camila sempre procurou me entender e me confortar. Tenho lutado contra esse sentimento ruim que está me afundando e, por um bom lado, estou melhor do que ontem. Chegar em casa e poder estar com o meu amor ajudou demais. Presumo que o amanhã trará novos resultados. Estou pensando positivo.

O problema é que Camila merece o meu cem por cento todos os dias e agora eu não consigo dar. Foram tantas perdas e tantas pessoas chorando...

Certo momento da tarde, Camz sentou-se ao meu lado e pediu para eu abrir o coração. Desse jeitinho mesmo, na lata. Disse que aquilo me ajudaria e eu fui obrigada a concordar. Comecei bem, até. Ela se atentou às palavras e me segurou as mãos, forte. Contei o que me causava tanta angústia e reconheci um pequeno sentimento de culpa que, até então, eu havia negado.

Me pus a chorar mas tentei parar, como fiz inúmeras vezes. Sinto que sou frágil quando não consigo controlar o que se passa dentro de mim.

- Por que você segura tanto o choro, Lauren? - perguntou-me em meio ao balsamo. - Sou só eu, sua Camila. Não precisa ter medo de chorar.

- Não é justo eu chorar! Eu não tenho direito disso, Camila. Quem pode chorar é aquele que perdeu o filho, a mãe, sei lá! Não eu.

Julgo egoísta esse meu comportamento quando a dor do próximo é soberana à minha. Engulo o choro por conta disso. Devo ser forte por pessoas que perderam a vida ou que estão em luto.

- Laur, olhe para mim - obedeci. - Você deve chorar e...

- Não, amor! Eu estou bem. Tenho você, temos o Adriel, tenho vida. Por que eu deveria chorar?! Eu não posso!

- Pense no que está dizendo. Acha que...

- Eu estou pensando!

Camila fechou os olhos e eu me calei por isso. Uma cólera crescia em meu peito que fez-me ser rude. Ela não tem culpa de eu ser medíocre e me encontrar num estado de fraqueza. E como se pudesse ler meus pensamentos, disse:

- Chorar não te faz fraca, amor. Segurar o choro não te faz forte. A gente é forte quando demonstra. Você não se cansa de ouvir isso?

- É que perdemos tanta gente naquela lama...

PerpétuoWhere stories live. Discover now