Quarto Capítulo

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Meu amor, eu nunca quis que essas palavras fossem lidas por você. Minhas orações clamam para que tudo isso seja um desespero precipitado; um pedido de desculpas que nunca será preciso. Contudo, eu não dormiria em paz sem te deixar esses últimos versos, sabendo que o amanhã nada mais é do que uma floresta de incertezas; uma incógnita.

Eu nunca quis te deixar e me dói imaginar a possibilidade, mas se você está lendo esta carta agora, é porque, de alguma forma, eu falhei. E eu jamais vou me perdoar por partir. Eu nunca quis ser a razão de lágrimas suas que não serei capaz de secar. Em nenhum segundo que respirei ao seu lado, eu desejei te causar algum mal. Se você pode compreender essas palavras, é porque eu não estou mais, fisicamente, ao seu lado.

Me perdoe por isso, ainda que eu não possa me perdoar.

Mas eu peço que continue. Por mim, pelo nosso filho, por você. Eu preciso que você viva a vida que me foi tirada e que carregue a alegria que sempre residiu dentro de seu peito. Eu imploro que lute, meu amor, e que me mantenha em memória, sabendo que, não importa onde, eu sempre vou olhar por você. Não desista do que há pela frente, eu imploro. A sua vida e a vida de Adriel vão continuar e eu suplico que não se entregue.

Não poderei mais te abraçar quando houver escuro e nem poderei cuidar de vocês, mas, por favor, se cuidem por mim. E saiba que, independentemente de onde eu esteja, nunca quis algo na vida tanto quanto as suas felicidades. Lembrem-se disso.

Eu serei o seu anjo, Camila, e farei morada dentro de você. Se a saudade te sufocar, eu quero que você seja fortaleza. Como sempre foi, meu amor.

Você sabe que nossas almas estão conectadas há muito tempo, em outras vidas. Sabe que, no final, haverá uma razão. A gente vai se encontrar e entender sobre isso. E o nosso amor vai ultrapassar qualquer universo até que nos encontremos no fim. E eu vou te amar desesperadamente por todos os segundos de outras vidas que viverei. Você e o nosso filho.

Diga ao nosso menino que eu o amei como amei você e que ele foi e sempre será nossa maior felicidade. Quando puder entender a imensidão desse amor, eu espero que sinta o fervor invadir seu coração. Também lhe devo desculpas, filho, mas espero ter tempo de ensiná-lo a andar de bicicleta. Espero lhe ver se casar ainda. Eu te amo, Adriel, desde o momento em que você ainda era uma ideia na cabeça das mamães.

Me machuca muito escrever uma despedida hipotética, mas eu não te deixaria sem respostas, amor. Queria que você não precisasse ler essa carta. Nunca, nunca, nunca. Nesse instante, enquanto escrevo, choro por nós. Pelo amor que vivemos. E que seja longo. Mas me alegro pela dadiva que me foi dada quando pude amar você. O tempo é um rei e o destino é brincalhão. Mas nós duas somos perpétuas.

Não sucumba, meu amor. Continue!

Para minha esposa Camila e nosso filho Adriel.

Eu amo vocês, sempre, em qualquer lugar, qualquer tempo.

Lauren, 2019.


Eu senti o amargo de cada suspiro arder em minha garganta. Os dentes rangiam. A carta amassada em minhas mãos se empedrava, fazendo parte de mim, à flor da pele. Não havia choro em todo mundo maior do que o meu.


Dois dias antes:

Meus olhos pareciam cegos pela luz branca que invadira o lugar. Onde era e por que não ouço som algum? Não havia nada além de uma dor que castigava meus pulmões. Eu mal podia respirar. Eu abri os olhos e toda minha energia se foi para poder fecha-los. Mas então ouvi:

PerpétuoWhere stories live. Discover now