Terceiro Capítulo

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Os dias passaram-se lentos como o despetalar de uma rosa. A rotina voltou sem muitas surpresas e quase três meses voaram em frente aos meus olhos. Às vezes penso que os dias estão se encurtecendo.

As coisas iam bem no corpo de bombeiros. Agradeci a Deus por tudo depois de tanta tragédia. Meu espírito precisava de descanso.

Estou bem agora.

Todo martírio é superável.

Camila portava a barriga mais bonita do mundo e eu não precisava pensar para dizer que ela era a grávida mais linda que já existiu na face da terra. Nossa paixão cresceu em absolutamente todos os dias que se foram.

Acabou de amanhecer. Meu plantão chegara ao fim e eu pilotei a moto até em casa. Uma manhã bonita formava-se e um sol tímido, vagaroso, nascia no horizonte.

Logo, Adriel nasce. Quero poder assistir ao parto e segurar as mãos de Camila. Mostrar que eu estaria ali e que ela não precisava temer.

Sugeriu, um dia desses, que eu realizasse seu parto porque, com suas palavras, quem trabalha num corpo de bombeiros certamente saberia o que fazer com uma mulher parindo. Ela estava assustada e se escorando em qualquer pensamento que pudesse lhe trazer algum conforto. Às vezes chora no mesmo dia em que se mostra brava e preparada.

As ruas carregavam um aroma matinal de café e manteiga derretida.

Encontrei uma Camila adormecida quando cheguei em casa. Tirei as roupas e me deitei ao seu lado, deixando um beijo em seu ombro e outro na bochecha. Ela me retribuiu com um sorriso sonolento mas não abriu os olhos. Agarrou-se mais ao meu corpo e acolheu o rosto em meu peito, como gostava sempre de fazer.

Meus pulmões se esvaziaram e resgataram de volta todo ar, como quem se renova.

– Ele se mexeu – resmungou contra minha pele.

Pude sentir quando coloquei a mão em sua barriga.

– Porque eu cheguei.

– Porque você chegou.

Em paz, contemplei o silêncio do quarto e a luz solar bem frouxa que escapava pela janela. O carinho de Camila e seus beijinhos em meu pescoço me trouxera ainda mais sono. Ela procurou minha boca e me beijou devagar, quase que sem se mover. Tínhamos isso, de quando em quando...

Um beijo, um olhar escuro, um zelo enorme. Sua boca passeava minha mandíbula. Não havia, naquela hora, desejo sexual. Era só a pureza de todo nosso amor. A sua carícia e cheiro me domava a alma e seu toque delicado era como sentir as asas de um anjo me abrandar.

Ela disse, então, num fiozinho de voz:

– Eu te amo tanto, Lauren... tanto...

– Mais do que eu amo você?

– É claro.

– Não sei, não...

– Tenho certeza que eu te amo mais.

– Que tal um empate? – sugeri.

– Um empate é bom...

A verdade é que essa relação sempre deu certo porque nosso amor era um igual ao outro. Somos como duas metades iguais de uma coisa só. Temos cumplicidade e o poder de saber uma da outra só por olhar nos olhos.

Divago, vez ou outra, sobre o dia o qual nos conhecemos. Manhã bonita, praça, gente e um show de talentos da escola.

Nós estudávamos no mesmo lugar, mas em turmas diferentes. Eu nem tinha ideia disso.

PerpétuoWhere stories live. Discover now