1. Joe

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As luzes do local eram mais baixas que o normal, mantendo os olhares mais brilhantes enquanto as línguas saboreavam os líquidos alcoólicos de escolha particular. 


Eu não ouvira nada que Theo disse do agora, ex-namorado, que o traiu com um antigo amigo. Tudo o fazia chorar. O loiro falava por horas, ao menos era o que parecia, enquanto bebia sua segunda caneca de cerveja quando eu, amigo e observador não tão atento por agora olhar para outra coisa, sequer havia terminado seu primeiro pedido.


Cerveja preta.



-Joe? Joe! - Chamou o loiro ao ver que não recebia minha total atenção. Viajei para a terra do nunca de minha mente dispersa. Olhava para o bar, aonde tinha milhares de pessoas fazendo seus pedidos, mas era algo específico que chamava minha atenção. Um alguém grande, que bebia sua provavelmente repetida dose de whisky.



-Oi... - Não parava de encarar o homem que por estar de costas, sequer sabia que o via com interesse. -Desculpe, o que falava?



-Vai falar com ele. - Falou Theo de modo descontraído, dando de ombros pelo fato de já ter visto isso acontecer diversas vezes naquele mesmo bar. -Eu vou ficar bem.



-O que? Não. - Franzi o cenho antes de voltar com minha postura e bebendo um gole de minha bebida. Fiz uma



careta ao ver que a mesma já estava esquentando. 


Não neguei o pedido apenas por deixar ele triste sozinho, mas por algo maior que fazia meu peito apertar. A insegurança de não saber ao certo o que poderia acontecer me fazia repensar se deveria encarar aquele homem.


Respirei fundo, escondendo um suspiro.



-Apostamos? - Perguntou o loiro antes de sorrir.


A aposta entre nós era baseada no medo do outro. Nesse caso era que se eu fosse falar com o desconhecido e conseguisse algo, Theo faria qualquer coisa que saísse da minha boca.


Sem perguntas, sem negar e sem medo.


Sorri, logo brindando os copos antes de dar fim ao líquido que ainda estava na caneca e encarar meu amigo mais uma vez antes de piscar um de seus olhos e caminhar em direção ao bar.



-Uma cerveja preta. - Pedi ao barman que atendia com sua camisa preta que ressaltava ainda mais seus músculos definidos. Aquilo sempre me fazia sorrir. 


De propósito, mas não aparente, olhei para o lado ao me escorar no bar. O desconhecido estava a centímetros de meu corpo agora um tanto nervoso, mas mais uma vez, não aparente.



-Whisky? Deixa eu adivinhar, dia difícil? - Quando falei, logo olhei de relance para o loiro que vi estar com os polegares pra cima, provavelmente amando a cena. 


Me arrependi do que disse ao ver o tal homem me olhar sério e propositalmente beber toda a bebida de uma vez só.



-É. Pode-se considerar isso. - Logo o assunto pareceu morrer, deixando ambos quietos por meros segundos. -E você? Cerveja preta? Deixa eu adivinhar, mal gosto?



O desconhecido riu do que disse, ainda mais ao ver a reação exagerada que tive. Um alguém que pra ele também era desconhecido.



-Eu estou aqui sendo gentil em puxar assunto com você e você critica a minha bebida preferida? Que tipo de homem é você? - Perguntei de modo dramático, sentindo a vontade enorme de ressaltar o quão lindo o sorriso do homem era.


-Um homem que ainda não entendeu qual é o objetivo dessa conversa. - Voltando a ficar sério, levantou umas das sobrancelhas. Sua provocação para algo mais direto me levou a franzir os olhos.

E se eu fosse você?Onde histórias criam vida. Descubra agora