Ao chegar no restaurante, fui ao banheiro colocar a minha linda farda do "Dulche's Restaurant". Saí, servi algumas mesas e nada da Dona Mercedes. Ela tinha faltado por algum motivo, e pelo que eu saiba ela não é de faltar, afinal ela é a dona. Achei estranho mas entendi que poderia ser por algum motivo realmente importante.
Continuei o meu dia normalmente, servindo, tirando, limpando, até o fim do período de trabalho. Ás sextas minha mãe vem me buscar pra passar o fim de semana com ela e o papai no Chalé. Eu particularmente acho o máximo, visto que minha rotina tende a ser decepcionante. Enquanto espero minha mãe, eu vejo o Ruy se aproximando. Ele é o cozinheiro do restaurante e me dá nojo por ser um cara muito babaca e se achar superior a tudo e a todos. Tivemos alguns problemas no início mas hoje só falamos o necessário, isso porque quase esfaqueei ele. Brincadeirinha, mas foi quase, sou contra à violência, a não ser que eu te veja fazendo mal a animais, aí sim sou a favor.
- Oi Ariel, está fazendo o que parada aqui na frente sozinha? – Que pergunta idiota, ele sabe que estou esperando minha mãe.
- Você sabe muito bem Ruy, para de se fingir de idiota. – Respondi bem curta e direta, não gosto de enriquecer diálogos com gente chata.
- Nossa calminha aí, você quer uma carona? Posso te levar no meu Porsche.
- Primeiro, você sabe que eu não iria, nem morta, e segundo, qual a dificuldade que você tem de só falar "carro"? Porsche agora não se encaixa mais nesse termo? É um barco?
- Só perguntei porque sua mãe era pra ter chegado a quinze minutos atrás, certo?
Sim, certo, mas não quis concordar com ele. Minha mãe não é de atrasar, eu realmente fiquei preocupada.
- Você é fofoqueiro mesmo ne? Ela teve que passar num lugar antes mas já está a caminho.
- Ah sim. Até segunda então.
Não quis me dar ao trabalho de responder. Só fiz aquele gesto de tchau com a cabeça, pode parecer confuso mas você entende qual é, ou não, sei lá. Ah, e se você, depois desse diálogo com o Ruy, está imaginando algo do tipo: "Hm, conheço esse tipo de casal, se odeiam mas se amam rsrsrs". Pode ir tirando o cavalinho da chuva, eu odeio romances clichê. Além do mais, acho que esse cara ama mais o carro dele do que a própria família. Desculpa o balde de água fria em você que esperava um romance avassalador cheio de sentimentos e todo esse tipo de coisa melosa.
Enquanto pegava o celular pra ligar e saber onde minha mãe tinha se metido, ouço uma buzina seguida de latidos que eu conheço muito bem de quem é.
-Entra filha, desculpa o atraso, hoje resolvi passar pra pegar o Tino primeiro.
Antes ela me buscava e depois íamos buscar o Tino, mas recentemente dei uma cópia da chave do meu apartamento pra ela, acho que assim ficou até melhor.
- Oi mãe! Sem problemas, eu estava com saudades desse garotão. - Coloquei os braços pela janela e fiz um carinho nele.
Abri a porta do carro, sentei, coloquei o Tino no colo e saímos para mais um fim de semana cheio de emoções e aventuras uhu.
- Querida, não esquece que amanhã você tem a última sessão do tratamento, ok?
- Sim mãe, estou mega ansiosa, mas feliz ao mesmo tempo.
Na verdade eu nem lembrava. Como vocês viram no início, eu estou fazendo tratamento de um câncer. Eu fui diagnosticada com Linfoma de Hodgkin aos quinze anos. Ele meio que afeta a imunidade ou algo relacionado, não entendo essas coisas. Ele tem uma taxa de sobrevida relativa, em torno de noventa por cento. Eu tive uma boa resposta fazendo o tratamento com radiação, significa que minha taxa de sobrevivência é altíssima, visto que o meu problema não chegou a ser um estágio avançado. Amanhã será minha última sessão, ainda bem.
- O seu pai e eu vamos com você, finalmente ne? – Disse ela, acariciando meu ombro
- Sério? Que legal!
O papai nem sempre tem tempo pra gente, mas ele é esforçado, faz de tudo pra ver eu e a mamãe bem, não culpo ele. Ele acompanhou eu e ela em algumas sessões, na verdade em quase todas, mas tinha um tempo que ele não ia. Ele viaja pra umas exposições de arte também, enfim, não é ausente mas nem sempre está presente, sacou?
- Como foi o trabalho? Tudo certo?
- Até que sim, mas estranhei o fato da Dona Mercedes não ter aparecido hoje.
- Estranho mesmo...ela não é de faltar. Peço pra o seu pai tentar ligar pra ela quando chegarmos.
Abaixei o banco do carro, coloquei as pernas no painel e abracei o Tino. Ele lambeu meu rosto, se aconchegou um pouco e dormiu. Eu com o tempo acabei fazendo o mesmo, senti meus olhos fechando lentamente enquanto a neblina cobria a janela do carro com árvores e mais árvores ficando para trás do lado de fora...árvores e mais árvore...árvor..ár...
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NÍNIVE'
AventuraMuitas vezes na vida precisamos de uma saída. Mas e se a saída for de um lugar estranho e misterioso? Neste livro você irá acompanhar a aventura de Ariel, que misteriosamente foi parar num lugar cheio de surpresas e criaturas digamos que um tanto "d...