Capítulo 1 - Nunca beijei ninguém

12.2K 1K 335
                                    

Amanhã é Halloween e os gêmeos vão aproveitar a casa vazia para dar uma festa. Meus pais viajaram hoje cedo para um casamento em Hallstatt e só voltam no domingo, mas antes que o teto caia sobre as nossas cabeças e alguém acabe indo parar na delegacia, eu gostaria de dizer que eu avisei. Deixar David e Alex sem nenhuma supervisão nunca foi uma boa ideia. Ou talvez, dessa vez, a ideia seja boa e só tenha algo de errado comigo. Não é como se meus irmãos fossem tão mais velhos que eu, e até os meus amigos estão animados para o Halloween este ano. Aparentemente, todo mundo que eu conheço foi convidado. Quer dizer, todo mundo viu o cartaz pregado no mural de avisos no corredor da escola e decidiu que a minha casa seria o lugar perfeito para fazer gostosuras e travessuras.

Neste exato momento, Selina está segurando sua fantasia de Princesa Jujuba. Não protesto contra a minha de Finn de Hora da Aventura quando ela me arrasta para o caixa da loja. A essa altura, faço tudo o que Selina espera que eu faça. Não somos um casal, como a maioria das pessoas pensa. Somos amigos desde o primário e esse pensamento nunca atravessou a nossa mente. Bem, nunca atravessou a minha.

— Sabe, Max, você poderia pelo menos fingir estar animado — ela diz, enroscando o braço no meu. Selina parece minúscula do meu lado. — Quem sabe não encontramos alguém bêbado o suficiente pra te beijar nessa festa?

Eu rolo os olhos. Sei que é brincadeira, mas fico incomodado mesmo assim.

Tenho 16 anos e nunca beijei ninguém. Nunca cheguei remotamente perto de beijar alguém, ou sequer senti vontade de fazer isso.

— Acha que o Julian vai? — uso o nome dele para mudar de assunto, e funciona. Julian é o tópico preferido de Selina ultimamente.

— É claro que ele vai — ela responde com um sorriso discreto. — E vai fantasiado de Conan.

— Que original — eu digo e é a vez dela rolar os olhos. — Bom, antes Schwarzenegger do que Hitler.

— Cala a boca — Selina ri, me empurrando pro lado.

A verdade é que eu não vou muito com a cara do Julian. Ele é musculoso, não como o Arnold Schwarzenegger na década de 80, nem perto disso, mas tem um cérebro minúsculo – alô, estereótipo –, e eu não entendo como alguém como Selina pode se atrair por esse tipo. Não digo nada disso para ela porque essa é a primeira vez que a vejo demonstrar interesse real em outra pessoa.

E por mais que eu não aprove, acho que o Julian gosta dela também.

Acompanho Selina até sua casa e depois continuo o caminho sozinho até a minha. Salzburgo não é uma cidade grande. Dá para ir para quase todos os lugares andando. Lembro de como fiquei impressionado quando eu e meus irmãos viajamos para Viena pela primeira vez, e do quanto chorei quando fomos embora. Eu achava que o mundo se limitava às montanhas que cercam Salzburgo, até que, com oito anos, descobri que não havia limite algum.

Há sempre uma nova cidade por trás das montanhas.

Quando chego, sou recebido com um time inteiro de futebol espalhado pela casa. Acho que os amigos dos meus irmãos vieram ajudar na ornamentação da festa, o que me deixa levemente surpreso. Eu nunca os vi tão empenhados em alguma coisa antes, como se a vida de todo mundo dependesse disso. David e Alex são gêmeos idênticos. Os dois puxaram ao lado da família do meu pai, onde todo mundo tem cabelo loiro, pele rosada e olhos azuis. Eu pareço mais com a minha mãe, que é italiana. Nosso cabelo é escuro e, como ela gosta de dizer, temos olhos cor de âmbar. Seus olhos são a única garantia que tenho de que não sou adotado.

Subo os degraus da escada de madeira em direção ao meu quarto sem perguntar se eles precisam de ajuda. Não costumo ficar confortável na presença de pessoas com quem não tenho intimidade, e pela bagunça e quantidade de latinhas de cerveja que vi lá embaixo, acho que ninguém vai embora tão cedo.

Provo a minha fantasia e dou uma olhada no espelho. Acho que eu não poderia parecer mais ridículo. Pego o celular e começo a digitar uma mensagem para Selina avisando que desisti da fantasia, mas desisto de enviá-la. Sei que ela arrumaria uma forma de me fazer usar a fantasia de qualquer jeito. Me pergunto quando foi que eu me tornei tão submisso aos desejos da minha melhor amiga. Acho que existe tanto das vontades de Selina em mim que não sobra espaço para a minha própria personalidade.

Talvez eu não passe de uma estrela morrendo.

Oi, gente! Agradeço pela leitura e espero que tenham gostado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Oi, gente! Agradeço pela leitura e espero que tenham gostado. Lembrando que vocês ajudam muito favoritando o capítulo e deixando feedback nos comentários! <3

Supernova (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora