Capítulo 4 - "I'm Good"

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Descemos para a festa assim que Selina ouve o primeiro tocar de campainha. Meus irmãos estão combinando as fantasias esse ano, o que não é uma novidade. Graças à Marie, que é incrivelmente habilidosa quando se trata de maquiagem, é quase impossível diferenciar um do outro agora que eles parecem sósias do Evan Peters com o rosto pintado de esqueleto em American Horror Story. Não sei o que penso sobre o fato de David e Alex se vestirem parecido e manterem o mesmo corte de cabelo. Às vezes é meio patético, como se um não conseguisse se reconhecer longe do outro, mas outras vezes, como hoje, admito que é legal. Sei que a ligação que existe entre gêmeos, apesar de nós três sermos irmãos e ligados geneticamente, é muito mais forte e acho que sempre me senti meio deixado de fora por causa disso.

Pelo menos tenho Selina. Ou tinha, até Julian aparecer e tirá-la de mim.

Quando Nora e Anton chegam, metade da casa já está ocupada. A música está alta e tem gente bebendo, dançando e conversando por todos os lados. Toda vez que alguém chega, eu volto a atenção para a porta, mas nem sinal de Sai.

— Vem, vamos dançar — Nora me puxa pela mão e me arrasta até o meio da sala, onde todos os móveis foram recuados até as paredes propositalmente.

Somos amigos há quase tanto tempo quanto eu e Selina, mas nunca fizemos nada sozinhos. Todas as vezes que saímos, Selina, Anton ou Lucas sempre estavam juntos. Nora está usando uma camisa lilás com um desenho da Princesa Caroço que ela mesma fez, shorts e meias-calças roxas e uma estrelinha de papel amarela grudada na testa. Sua fantasia foi cem por cento produzida em casa, mas sei que isso não foi um problema para ela, porque seu cabelo também é roxo e essa é sua cor preferida.

E ela está linda hoje.

— Adoro essa música — Nora diz. Seus olhos estão fechados e ela tem um sorriso doce no rosto.

— Eu também gosto — eu digo, e quando me dou conta, também estou me movendo conforme as batidas de "I'm Good", da Glowie.

Nora é mais alta do que Selina e o topo de sua cabeça bate na altura do meu nariz. Quando ela me abraça, sinto seu coração bater acelerado contra o meu peito. Minhas mãos pousam em sua cintura e eu não sei bem o que fazer com elas. O cabelo de Nora tem um cheiro adocicado, e essa é a primeira vez que eu respiro tão perto dela. É a primeira vez que sinto sua respiração no meu pescoço.

Assim que a música termina e "Mi Gente" começa a tocar, meu coração também acelera. Quando Sai entra na sala com uma garota, está usando uma capa de chuva amarela, calça jeans, galochas verdes e segurando um balão vermelho. Ele logo me vê e acena de longe, e eu aceno de volta, porque é a única coisa que posso fazer.

— Tá afim de beber alguma coisa? — eu pergunto, me afastando de Nora. Olho para os lados à procura de Selina e Anton, e o vejo próximo à escada, com uma garrafa de cerveja na mão e mexendo no celular.

— Pode ser — ela responde e entrelaça os nossos dedos quando eu me viro em direção à cozinha.

Nunca fizemos isso antes e eu não sei o que está acontecendo. Nora continua agindo naturalmente, como se andar de mãos dadas comigo não fosse nada demais. Selina é a única pessoa com quem eu tenho esse tipo de contato físico; a única pessoa com quem eu posso ficar abraçado por horas sem que isso pareça estranho. Quando o Lucas ainda estava aqui, nós três costumávamos passar a tarde na minha cama ouvindo música ou jogando videogame. Às vezes ele continuava mesmo depois de Selina ter ido embora, e a gente ficava deitado sem conversar sobre nada, só escutando o silêncio. Um dia, Lucas me abraçou e chorou com o rosto no meu peito. Eu o abracei de volta, mas não perguntei por que ele estava chorando.

Nunca perguntei por que ele estava chorando.

— E aí — Anton sorri quando eu e Nora nos aproximamos. Solto a mão dela para checar o meu celular, mesmo sabendo que não tem nada novo.

Ele está usando um onesie amarelo com a cara do Jake pintada no capuz, que é extremamente infantil para um garoto de 16 anos, mas como minha fantasia também não me faz parecer nem um pouco mais velho, eu me reservo o direito de não dizer nada.

— Selina desapareceu há alguns minutos — Anton diz, e eu e Nora viramos o rosto para o centro da sala. Não vejo Selina ou Julian, e faço um pedido mental para que ela não esteja bêbada.

— Vou ver se ela está lá fora — eu digo, e por um segundo acho que Nora vai me acompanhar, mas ela desiste e se senta ao lado de Anton na escada.

Nós tínhamos 14 anos quando tomamos o nosso primeiro porre. Selina roubou uma garrafa de aguardente com 70% de teor alcoólico do depósito de bebidas de seu pai e nós passamos a noite enchendo a cara no deque da piscina de sua casa. Fazia pouco tempo que a mãe de Selina havia ido embora para viver com outro homem e o pai passava o final de semana quase inteiro na rua. Eu nunca havia ficado bêbado, e odiei a sensação. Odiei o que veio depois dela também.

Mas odiei mais ainda os pais da minha melhor amiga.

Oi, gente! Muito obrigada pelo feedback, fiquei bem feliz com os resultados da publicação essa primeira semana

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Oi, gente! Muito obrigada pelo feedback, fiquei bem feliz com os resultados da publicação essa primeira semana. A próxima atualização será na terça-feira. Espero que tenham gostado, e peço que continuem favoritando os capítulos e deixando a opinião de vocês nos comentários! <3

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