Capítulo 3 - A única coisa que eu não tenha que contar a ninguém

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Passo o resto da manhã tentando me concentrar na aula, mas não consigo encontrar nenhum aspecto atraente em química inorgânica. Meus pensamentos ainda estão no café da manhã – nos olhos pretos do Sai e no jeito como eles quase se fecham quando ele sorri. Quando o sinal toca para o intervalo, procuro atento algum sinal dele pelos corredores, mesmo sabendo que aquele é o último lugar onde eu poderia encontrá-lo. Não sei se me sinto decepcionado ou estúpido por isso. No refeitório, Selina, Nora e Anton estão sentados no lugar de sempre, comendo o almoço de sempre, e falando sobre o Halloween.

Não fico surpreso quando descubro que Anton vai fantasiado de Jake de Hora da Aventura, e que Nora vai de Princesa Caroço, e sei que Selina está satisfeita por todos estarmos fazendo exatamente o que ela havia sugerido duas semanas atrás. Pensar em nós quatro fantasiados de personagens estúpidos de um desenho animado de repente parece uma má ideia, porque sei que Sai vai estar na festa, e saber disso faz com que eu me sinta extremamente inseguro.

E isso não faz o menor sentido pra mim.

— Eu vou me arrumar na casa do Max, vocês deveriam vir também. Seria demais se todo mundo chegasse na festa de uma vez — Selina diz, sem perguntar o que eu acho disso.

Se tivessem me perguntado, eu teria dito que aquela era a pior ideia de todas. Talvez Anton e Nora concordem comigo, porque dizem que não vão poder chegar mais cedo. Seremos apenas Finn e Princesa Jujuba, e tudo bem por mim.

Até o ano passado, éramos 5, mas os pais do Lucas se divorciaram e ele se mudou com a mãe para a Argentina. Dizem que quando a amizade é verdadeira ela supera tudo. Acho que a nossa não era forte o suficiente para sobreviver à distância. Ainda nos falamos bastante nos primeiros meses, mas logo ele arrumou novos amigos e demorava cerca de dois ou três dias para responder às nossas mensagens. Até que parou de responder de vez. Não sei se posso culpá-lo completamente por isso, porque, até onde eu sei, não houve muito esforço de nenhuma das partes para manter contato. Às vezes fico pensando se vai acontecer a mesma coisa comigo e Selina quando formos para a faculdade. Não sei quem sou longe dela, e tenho medo de descobrir.

Enquanto eu a espero do lado de fora, na hora da saída, ela e Julian conversam em frente ao seu armário. As bochechas dele estão quase tão vermelhas quanto o envelope que Selina está segurando, e ficam mais ainda depois que os dois se despedem com um abraço. Eu não sei o que é isso. Gostar tanto de alguém ao ponto de mudar de cor. Gostar tanto de alguém ao ponto do seu corpo virar uma extensão dos braços de outra pessoa.

— Deixa que eu levo pra você — ofereço, estendendo a mão para segurar o caderno de Selina.

— Não precisa, Max, mas obrigada — ela sorri, e eu sei que guardou o envelope lá dentro.

Não conversamos sobre Julian no caminho, o que não me parece uma atitude esperada logo após os dois se esbarrarem propositalmente no corredor da escola. Acho que eu deveria estar contente por não termos que falar dele, mas não é assim que me sinto. Selina nunca passa tanto tempo sem ter o controle da conversa, e eu não tenho ideia do que fazer com tanto poder em minhas mãos. Ou em minha boca.

Penso em contar a ela sobre o Sai, mas não sei bem o que contar. E talvez eu não precise contar tudo para Selina.

Sai pode ser a única coisa que eu não tenha que contar a ninguém.

Tomo banho e fico pronto cerca de 40 minutos antes dela. Enquanto Selina está no banheiro, pego o envelope em seu caderno e vejo que tem um papel dobrado dentro, mas não leio. Ao invés disso, abro o Instagram no celular e procuro por Sai Kholi no perfil da Marie. Ele está com ela em algumas fotos, mas sua conta é privada e eu não tenho acesso a nenhuma de suas publicações. Levo um susto assim que Selina abre a porta e entra no quarto e tento não agir como se estivesse com o coração prestes a sair pela boca.

— O que? — ela pergunta, franzindo a testa.

— Nada — dou de ombros e bloqueio o celular. — Gostei da peruca.

Selina está usando uma peruca rosa chiclete que vai até a altura do quadril e um vestido que mostra mais de suas pernas do que eu lembro de ter visto quando ela provou a fantasia na loja.

— Fiz alguns ajustes — ela diz. — Ficou melhor desse jeito? — eu concordo com a cabeça e ela sorri, se voltando ao espelho. — Anda, vem tirar uma foto.

Vou até ela e vejo nossos rostos sendo enquadrados na tela do celular. Selina digita #HoradoHalloween e me marca. Dentro de segundos, 2.436 pessoas terão acesso àquela foto.

Dentro de segundos, 2.436 pessoas continuarão a viver suas vidas como se aquela foto nunca tivesse existido.

Oi, gente! Serão publicados três capítulos por semana, possivelmente aos domingos, terças e sextas

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Oi, gente! Serão publicados três capítulos por semana, possivelmente aos domingos, terças e sextas. Agradeço pela leitura e espero que tenham gostado. Lembrando que vocês ajudam muito favoritando o capítulo e deixando feedback nos comentários! <3

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