Tempo de escolha

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Madu

Acordei com a luminosidade do sol atravessando a fresta entre as cortinas de minha janela, e aquecer brandamente a pele de meu rosto.

Meus olhos se cerraram. Senti minha cabeça doer de novo. De novo . Me movimentei na cama em busca de Bernardo. Estava sozinha. Suspirei. Puxei para mim o travesseiro que ele havia usado na noite anterior e o abraçei com força. Senti o cheiro do condicionador que habitualmente usava impregnado a fronha invadir minhas narinas, e consequentemente minha mente. Apertei minhas pálpebras.

_Droga! _Exclamei atirando o travesseiro para o guarda roupas. O baque foi amortecido. Respirei o mais profundamente que pude antes de levar minhas mãos as temporas na altura de onde minha cabeça onde doía. E doía muito.

Foi então que de imediato o vi entre meus dedos. Franzi institivamente o cenho.

Levei a destra a frente de meu rosto. Toquei o fio de lã vermelho que estava envolto a meu dedo mínimo num pequeno laço desajeitado, e passava para o anelar o circulando em espiral até a ponta de minha unha. O puxei. Ele viera comigo. Ergui preguiçosamente o tronco da cama tirando os lençois de minhas pernas e segui com o olhar o trageto que ele fazia até a porta de meu quarto. Meus olhos se apertaram novamente. Mordisquei levemente meu lábio inferior enquanto um sorriso bobo e ao mesmo tempo cheio de curiosidade iluminava meu rosto. Girei a maçaneta devagar. Olhei para os lados do corredor. Vazios. Exceto por Brisa que adentrara meu quarto com notável pressa como se de fato esperrase por isso a noite toda. Sorri para ela. Tinha sentido dificuldade para subir em minha cama aconchegando-se em meu colchão em seguida.

Voltei os olhos ao fio suspenso de meu dedo ao chão. Continuei seguindo-o jogado junto a parede, e o acompanhei com passos lentos me embolando ao seu comprimento quando tentei puxa-lo para mim. Terminou na porta do quarto ao lado. O quarto de hóspedes a que Bernardo costumava o intitular "meu" sempre que se referia a ele. Segurei o fio que continuava indo adentro entre o vão que a madeira da porta e a soleira formavam. A abri num pique a mais de ansiedade e curiosidade do que costumava ter habitualmente quando sabia que meu namorado estava por lá.

Estava vazio. Totalmente. Mas ai da assim o vasculhei com o olhar. Nada. Em absoluto. Voltei a segurar o fio. O puxei para mim. Minha busca terminou sobre a cama quando vi uma rosa vermelha se destacar sobre a colcha branca. Sorri sem que se quer me desse conta dissso.

Caminhei até lá me sentando a beira do colchão e fiquei a olhando por um tempo. Estava disposta na diagonal ao lado de uma pequena caixinha preta aveludada por onde o fio ainda passava. Suspirei colocando-a junto a palma de minha mão. A abri. Lá dentro, vi quando um anel prateado adornado por uma pedra que cintilava em inúmeras facetas, coloriu a superfície da pele de meu rosto como minúsculos arco-íris.

Toquei brevemente o segundo laço que envolvia seu aro. Era a outra ponta do fio que ainda estava envolvto a meu dedo. Em seguida li o bilhete escrito com uma letra conhecida a tinta preta numa folha de papel sem pautas.

" O fio poderá se perder. Se emaranhar, se esticar mas nunca se partir" Te amo infinitamente. Mas mesmo este infinito é incapaz de mensurar todas as coisas boas que você me desperta.

Ps: Não conta para sua mãe que destruí a roseira dela. Bom dia :]

Senti meus olhos se inundarem por lágrimas.

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Era para ter sido um plantão normal dentro de suas anormalidades. Com seus estresses diários. Seus problemas diários... E  teria  sido  de fato,  se ele não me levasse até certo ponto.

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