Pensamentos confusos

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_Posso saber que tanto revira essa perna? _ Questionara-me visivelmente sério enquanto mantinha os braços cruzados na altura do peito.

Parei por um momento. Olhei nos olhos de meu médico e abri um sorriso largo em sua direção antes de voltar enfiar meus pés com certa dificuldade sob o lençol ao som gemidos de dor. Dr. Henrique continuou me encarando. Os olhos claros firmes a meu rosto, os lábios reprimidos a uma linha reta, a testa franzindo-se. Ele sabia que no fundo não estava dando a mínima para todas as coisas que esteve me dizendo desde o momento que entrara em meu quarto e se mantivera ali, falante sob um vocabulário complexo cheios de termos técnicos que me fizera desejar grandemente que Madu estivesse ali para traduzir todas aquelas coisas para mim. Mentira. Na verdade eu não queria. Só queria que ele se calasse. Se calasse depois de dizer que finalmente poderia ir para minha casa.

_Só estou me certificando. _ Respondi indiferente.

_Se certificando de que? _ pressionara-me.

_Se está tudo bem com elas.

Ele suspirou profundamente. Seus olhos se reviraram pela sala enquanto trocava o peso de seu corpo de perna a outra.

_Mas eu já te disse incontáveis vezes que elas estão em ótimo estado.

_Eu sei.

_E qual a dúvida?

_ Eu não confio tanto em médicos. Ja vi inúmeros noticiários onde tentam justificar erros de procedimento injustificáveis. Na infância quase morri por uma hemorragia na sobrancelha depois de cair. O médico que me atendeu disse que não doeria nada fazer as suturas, e eu senti minha alma desencarnar de corpo e vagar pelo pronto-atendimento quando ele enfiou aquela agulha em mim se esquecendo da anestesia local. Está vendo essa marca? - Disse apontando a cicatriz que dividia o fim de minha sobrancelha- É marca de puro sofrimento. A vida toda tive péssimas experiencias com médicos o que me faz crer que agora não poderia ser diferente. No fundo, sei que seria capaz de dizer que eu quebrei a clavícula e a solucão seria amputar minha perna. E eu preciso de minha perna.

_E porque uma intecorrência na clavícula me levaria a amputar sua perna?

_Não sei. _Disse sério_ Me diz você. Porque mesmo amputaria?

Silêncio. Ele voltou a suspirar. Profundamente.

_É impressão minha ou está colocando a prova meu trabalho com meus pacientes? Quero dizer. Isso é ridículo. Eu e minha equipe salvamos sua vida. Deveria no mínimo ser grato. Além do mais, até onde soube sua namorada é medica. Vai me dizer que tambem não confia nela...?

_ Confio. _ Me apressei em responder_ Mas não por ser médica. É diferente. De qualquer forma isso não está em discurssão. Eu conheço ela. Conheço bem. Madu não amputaria minha perna. É uma excelente profissional.

Ele deu um meio sorriso mostrando-se claramente maléfico apto a plantar semente do mal em minha mente.

_Como pode ter certeza disso?

Ficamos nos encarando em silêncio.

Eu sentia dores por todo corpo. Muita. E parecia que minha cabeça havia ganho peso extra durante o tempo que me mantive totalmente inerte na cama. Meus olhos ainda dispunham de certa sensibidade a uma ampla claridade. E conseguia sentir meu corpo inteiro fraco. Extremamente. De uma forma que eu nunca me sentira antes.

Naquele fim de manhã quando estive prestes acordar de meu estado de sono profundo, senti uma imensa confusão tomar conta de meus pensamentos e se instalar ali por minutos ou horas que me pareceram eternos. Era surreal a sensação de se submeter a devaneios que mixavam alucinações e sobriedade numa realidade alternativa em nossa mente de forma completamente bizarra. A desordem de meus pensamentos naquele momento fizera com que perdesse a certeza do que poderia ser real ou não. E me ter a sensação de estar aprissionado a seu próprio corpo é terrível. Quando finalmente consegui abrir os olhos após uma batalha travada internamente comigo mesmo, eu estava sozinho num quarto amplo de paredes claras e janelas gradeadas. Todo ambiente cheirava a álcool e havia um bip irritante de aparelhos que alguma razão estavam ligados a mim. Tentei me erguer. Mas meu corpo pesou na cama. Meus braços fraquejaram e voltei desfalecer sobre ela. Minha cabeca doia. Sentia uma pontada insuportável em minhas costelas na lateral direita. Respirar doia. E meu coracão permanecia bombeando o sangue por meu corpo num ritmo acelerado.

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