Combustão de horrores

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_Vocês acabaram com minha vida. Ótimo! Espero que estejam alegres com o feito. Passaram a vida toda se esforçando para isso não é? Conseguiram. Vocês conseguiram... E quer saber de uma coisa ? Esqueçam que eu existo. Porque eu acabo de esquecer que um dia vocês fizeram parte da minha vida.

Limpei as lágrimas de meu rosto com o dorso de uma de minhas mãos. Voltei-me a Teresa. Estava aparentemente inconsolável. Frágil. Ela me olhou com os olhos inundados.

_ Eu vou atrás da Madu.

Disse antes de passar por ela deixando para trás um rastro de destruição ocasionado por meu surto de fúria. Haviam poucos convidados no salão agora. Não notei, mas certamente boa parte deles haviam partido quando minha briga com meus pais ultrapassou o fosso e alcançou o esgoto. Lugar de onde alias tirei boa parte da ofensas que proferi contra eles. Agora eu sentia a garganta arranhando por elevar tanto o tom de minha voz. E no momento em que derrubei a mesa do bolo de casamento de minha irmã, para de fato não cair numa briga física com meu próprio pai, um corte se formou em minha mão esquerda fazendo-a sangrar incessantemente, entretanto, não mais que eu sangrava por dentro. Não mais que a dor que fazia meu coração arder no peito e algo me dilacerar de dentro para fora.

Estava mais perdido que nunca. Mais confuso que nunca. Enquanto saí do salão sem um destino certo e completamente atordoado gritei por inúmeras vezes seu nome. Inúmeras. E em todas elas o eco de minha voz correndo pela noite havia sido minha única resposta.

Queria que alguém me dissese o que havia feito. O que tão infame e nojento havia cometido na vida para que ela me recebesse exatamente com esse tipo de notícia. O que haveria feito de mais... Ou talvez de menos...Por que eu merecia isso? Eu realmente merecia? Nós mereciamos?

Madu sempre dizia o quanto era importante semear boas ações para que pudéssemos colher bons frutos no futuro... Então este era o tipo de bom fruto que estivera sendo reservado para nós durante todo este tempo? Não. Eu não o queria. Não aceitava sua inviabilidade e podridão. Eu não estava disposto a abrir mão de minha namorada. Não a favor do passado sujo que meu pai tivera. Não a favor da sua incompetência de se descobrir como homem e agir como tal.

Eu amava aquela mulher. Mais que ama-la, ela fazia parte do que havia de melhor em mim. Eu a amava e desejava com constância e loucura. De todas as formas possiveis. Pelo amor em si. Teria então eu que reconstruir todo este sentimento de outro modo? Não. Eu não seria capaz de fazer isso. Ou me permitiria tal ato insano. Eu já tinha uma irmã. Helena. Ela sempre foi uma ótima irmã aliás eu definitivamente não precisava de outras. E não queria.

_Bernardo!

Gostaria de ter olhado para trás com algum fio de esperança de ser ela. Com os olhos ainda inundados de lágrimas que escorriam por meu rosto vi André se aproximando quase ofegante.

_ Ela não está aqui. Enzo disse que a viu saindo com seu carro em alta velocidade... Ele disse que a chave estava com ela desde que chegaram aqui. Não sei bem se pode-se confiar em seu amigo, já estava bêbado bem antes da festa começar mas... Eu posso te levar de volta até BH... Enquanto isso você pode ligar e tentar falar com ela... Aceita minha ajuda?

Nos minutos seguintes André acelerava o carro pela estrada escura enquanto eu insistia em chamadas pelo celular que não eram completadas. Enquanto ouvia aquela mensagem gravada persistente com uma voz robotizada e calma dizendo não ser possivel completar a ligação, tentava manter a sensatez e o controle. Mas ao mesmo tempo sentia-me perdendo totalmente o equilíbrio e a lucidez. Minha cabeça doía. Cada articulação de meu corpo doía. Mas no fundo eu sabia que não se tratava de uma dor física, mas de uma dor na alma que se dissapava por meu corpo e o levava a algo bem perto do extremo padecimento.

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