Parte 1 - Joshua

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BARRA DE SÃO JOÃO É O PRINCIPAL distrito de Casimiro de Abreu, município litorâneo e rural do Rio
de Janeiro, a cerca de 120 km da Capital do estado.

O seu filho mais ilustre, o poeta romântico Casimiro de  Abreu, emprestou o nome à pequena cidade localizada na região da baixada litorânea ao Norte Fluminense do estado.

Mas Casimiro não nasceu e cresceu em Casimiro... nasceu em Silva Jardim, que em sua época se chamava Capivary, e se criou em Barra de São João, sob as bênçãos de Oxum,
Yemanjá e São João Batista – que poderíamos até chamar de
Xangô.

Localizado entre o rio, mar e montanha, o pequeno distrito, ainda hoje, permanece com seu ar rústico e bucólico de cidadezinha litorânea, onde o tempo transcorre num ritmo
lento e cadenciado, muito diferente das metrópoles.

Outro ilustre personagem ligado a essa bela cidadezinha, de praças e ruas com nomes de Poemas, é o naturalista Charles Darwin, que navegou pelo caudaloso rio São João
numa expedição em 1832, que hoje faz do distrito parte do “Projeto Caminhos de Darwin”.

Esse fato histórico de relevante importância jamais foi comentado nas escolas, por ser um fato tão obscuro que mais parece lenda daquele povo
interiorano.

Essas coisas a mãe de Joshua, Maria Conceição, professora aposentada, sempre contava ao filho – com maior riqueza de detalhes culturais e históricos – na esperança de
despertar nele o mínimo de satisfação por morar naquela cidadezinha tão graciosa e agradável.

Mas, até então, seus pacientes esforços tinham sido em vão.

Não que Joshua fosse um adolescente rebelde e aborrecido com a vida. Na verdade, ele era um garoto até muito gentil e educado.

Mas tinha 14 anos e fora obrigado a ir morar naquela cidade parada e sem atrações para ele, há quase 1 ano.

Seus pais, Maria e José, que foram professores universitários federais por mais de 30 anos, finalmente
conseguiram se aposentar, decidindo abandonar a cada vez mais caótica Rio de Janeiro.

Caótica para eles, que já andavam na casa dos 60!

Pensava rancoroso o jovem Joshua. Ele era o caçula temporão de 5 filhos.

Quando Maria pensava que já estava às vésperas da menopausa e não seria mais necessário se “precaver”, eis que o pequeno príncipe Josh vem sem avisar, se instalando com mala e cuia no ventre que se acreditava já
estar seco!

Entre o susto e as muitas preocupações, o bebê cresceu forte e saudável por nove meses, até que o mundo intrauterino se tornou pequeno demais para ele.

É engraçado imaginar que, quando nasceu, o Pequeno Príncipe Banto já tinha um sobrinho e uma sobrinha mais velhos que ele em 5 e 3 anos!

Apesar do excesso de zelo que pais de meia-idade tendem a dar aos seus filhos temporões, Joshua cresceu feliz e muito bem amparado por um pai e uma mãe bastante experientes, que fizeram dele a ótima criança que ele sempre foi.

Porém, por mais bem educado, gentil e prestativo, é quase pedir demais que o adolescente criado a vida toda em
Botafogo aceitasse de bom grado viver num lugar que era mais quieto que a pracinha mais solitária de seu bairro natal!

Sim, convenhamos: era pedir demais!

Assim que a família chegou de mudança em Barra de São João, tudo parecia apenas mais umas férias de Verão, como tantas outras que ele já passou ali e nas cidades vizinhas,
como Cabo Frio, Búzios, Rio das Ostras e Arraial do Cabo.

“A ficha caiu” somente quando o ardor da mudança passou junto com o Verão e o Carnaval, e Joshua finalmente entendeu que não voltaria para seu apartamento na Praia de
Botafogo, nem para o seu caríssimo colégio dirigido por padres, quando foi deixado pelo pai diante da entrada de um colégio particular em Macaé.

Joshua estava no primeiro ano do Ensino Médio, numa escola que ficava a mais de 150 quilômetros da sua verdadeira casa!

Quando ele percebeu que a sua vida tinha mudado radicalmente, não havia um dia sequer que aquele bico de pato não aparecesse juntamente com um estalo de língua.

E justiça seja feita: Joshua até que se esforçava para se mostrar mais satisfeito e agradecido.

Entretanto, a modorra do lugar lhe dava nos nervos!

Porém, um dia tudo isso mudou como num passe de mágica!

Foi quando Joshua avistou, saindo das bravas ondas do Praião de Barra, a “aparição” de uma “sereia negra”, de
cachos miúdos e sorriso branco, com as mãos carregadas de conchas retorcidas.

Sim, desde esse fatídico dia, as coisas mudaram para Joshua e seu então costumeiro bico de pato não mais
apareceu nem para beber refrigerante no canudinho.

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