Parte 6 - No Jardim

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— Caramba! Você me assustou!

Foi tudo o que Miriam conseguiu dizer, depois de se libertar do transe em que ficou. Detestou-se no instante
seguinte, pois foi grosseira sem querer.

— Foi mal! Mas eu não ia deixar você pegar sozinha essas caixas! Devem tá pesadas!

— Bem... um pouco.

Enquanto um grupo separava os “ramos do pinheiro” para montar a árvore, Miriam e Joshua separavam os enfeites.

Do outro lado da praça, outro grupo organizava as peças que comporiam o Presépio.

Com um enfeite em mãos, que tinha a forma de uma tartaruga feita de cipó e conchas, Joshua olhou assombrado,
finalmente percebendo os detalhes da peça.

— Uma tartaruga? De galho? Não deveria ser... sei lá... uma rena, um urso ou uma papai-noel? E plástico não seria mais durável? Isso tudo vai ficar exposto ao tempo!

Miriam parou de arrumar um dos enfeites, olhando com estranheza para o garoto, tendo um vinco entre os olhos.

Abrandou sua expressão ao notar que ele não debochava ou criticava, mas apenas fazia um comentário inocente.

— Esse é um dos que eu fiz... – Miriam apontou para o enfeite. Joshua a olhou surpreso. — E isso é Cipó Caboclo, não galho. A tartaruga marinha é um animal da nossa região
e já foi muito abundante por aqui, antes dessa poluição toda. Fizemos enfeites de mico-leão, tamanduá-bandeira, muriqui, arara, garça, que são bichos daqui. Não temos renas ou ursos na nossa região! E quanto ao material, usamos os nossos recursos naturais. A árvore, os enfeites e o presépio durarão o tempo que precisam durar.

Joshua admirou-se com a garota.

Acabou de levar um sermão, mas isso, incrivelmente, não o aborreceu.

Sentiu-se apenas um pouco infantil... para quê foi falar de renas e papai-noel de plástico? Que coisa mais idiota!

Miriam sorriu ante o desalento do carioca.

O ricacinho do Rio de Janeiro tinha muito que aprender da vida... e ela não se importaria nem um pouco de lhe ensinar algumas coisas.

— Meu nome é Miriam... qual o seu?

— Joshua.

Miriam se levantou com uma das caixas sob o braço, estendendo a mão livre ao seu novo amigo.

— Nome legal, Joshua! Vem, vamos ajudar a montar a nossa Árvore de Natal!

O garoto sorriu, aceitando o convite.

Carregou outras duas caixas e, junto com a menina, foi para onde um
pequeno grupo arrumava a armação de bambu que receberia o forro de folhas de bananeira e de palmeiras, que formariam o pinheiro de Natal.

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