Os dias se passaram, com a labuta que chegava às dezesseis horas diárias para Miriam.
E foi com alegria e ansiedade que recebeu o sábado, contando as horas para o anoitecer.
Eram mais de sete horas da noite, quando chegou à praça, montada em sua bicicleta azul.
Ainda estava um pouco claro do dia que se findava, mas as luzinhas das árvores, do presépio e do coreto estavam acesas, fazendo um lindo jogo de luzes coloridas e brilhos difusos com a atmosfera laranja-avermelhada do entardecer.
Miriam encostou a bicicleta no canteiro ao lado do banco verde de madeira e esperou em sua calma ansiedade.
Joshua morava numa das ruas transversais à Rodovia Amaral Peixoto, na área nobre do distrito, há duas quadras do Praião.
Em sua casa estilo colonial, de grande quintal bem ajardinado, onde sempre era tranquilo e silencioso, uma calorosa discussão acontecia, quebrando o sossego e a rotina daquela pequena família.
- Vocês não podem fazer isso comigo! Eu passei a semana inteira estudando até de noitão! Vocês não podem me proibir de sair por umas horinhas! Isso não é justo! É noite de sábado!
- Não é justo o que você aprontou conosco, garoto! - Maria retrucava, muito aborrecida. - Você não faz outra
coisa na vida além de estudar e ainda assim fica na dependência de três matérias!- Eu não me adaptei direito ao colégio, mãe! E esse ano foi complicado pra mim, tá bom?! Ainda assim, tirei as
melhores notas na maioria das matérias! Vocês estão sendo
radicais comigo! Só quero dar uma volta, pô!José passou a chave na porta da sala, encarando irritadiço ao filho.
Pouquíssimas vezes Joshua viu seu pai com aquela expressão medonha.
Diziam que quando ele perdia a paciência, a universidade inteira se calava e se encolhia.
- Não há justificativas para o seu comportamento, Joshua! Você nos desrespeitou por duas vezes! Primeiro
ficando em dependências e agora nos afrontando dessa maneira!- Mas, pai...
- "Mas, pai" coisa nenhuma! Você está proibido de sair de casa até passar nas provas de recuperação! E ficará sem
televisão e computador! Quero você em seu quarto, só diante dos seus livros e cadernos! Você tem tudo muito fácil, Joshua! O mínimo que pode fazer para retribuir à sua boa
vida é tirar boas notas e passar de ano! Vá para o seu quarto agora, estudar!Joshua engoliu a raiva e o pranto, se controlando para não sair chutando o que houvesse no caminho. Mesmo assim não resistiu em bater a porta do quarto com estrondo.
Encostou-se à porta, sentando-se no chão. Levou as mãos à cabeça, em desespero.
- Droga! A Miriam vai pensar que eu tô sacaneando ela!
Por favor, meu Deus! Que ela não esteja me esperando na praça!
~*~*~*~
Eram quase nove horas e a noite descera completamente.
A praça e arredores estavam com sua típica e minguada movimentação, de algumas crianças a brincar; dois ou três casais a namorar; um grupo de amigas que circulavam; outros mais dispersos que estavam pelas mesinhas do bar próximo; os dois pipoqueiros que ficavam em cada esquina.
As luzinhas brilhavam, piscavam, dançavam, fazendo uma coreografia ensaiada que se contrastava com a negritude da noite.
Alguns cupins ainda se debatiam contra as luzes amarelas dos postes, e o Museu Casa de Casimiro de Abreu cerrava suas portas.
Miriam olhou pela última vez para o relógio de pulso.
Levantou-se, pegou a bicicleta, montou e saiu... com sua luz apagada.
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Três Cantos
Random🔥 História Completa e Finalizada 🔥 Um Conto De Natal. "Três Cantos" refere-se à Esperança, ao Amor e à Saudade. A história é ambientada em Barra de São João, distrito costeiro de Casimiro de Abreu, município do Rio de Janeiro.