Parte 9 - Palavras a Alguém

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Os pais e o avozinho de Miriam, que mal sabiam ler e escreviam apenas um pouco mais que os próprios nomes, estavam radiantes de orgulho ao ver a filha receber o diploma
da formatura simbólica da terceira serie do ensino noturno para adultos.

Miriam e mais duas outras meninas eram as mais jovens daquela turma, cuja aluna mais velha era uma senhorinha de 70 anos.

Todos estavam muito felizes.

O que para muitas pessoas passar de ano no Nível Fundamental ou mesmo frequentar uma escola fosse algo tão comum que não merecia atenção,
para aquelas pessoas que ali estavam, fossem alunos ou professores, aquela formatura simbolizava uma etapa
vencida: simboliza uma vitória!

Em casa, um bolo de abacaxi confeitado, refrigerante, sorvete e batata-frita era o banquete de comemoração que aguardava pela formanda.

Miriam estava sorridente como sempre, mas gostaria de poder ter dividido essa alegria com Joshua.

~*~*~*~*~

Era quinta-feira de noite e faltavam cinco dias para o Natal.

Como ordenado, Joshua passou dias e noites com a cara enfiada em livros e cadernos, entre números, equações e
tabela periódica.

Conseguiu, com muito custo, sobrepujar a vontade de rever Miriam, sacrificando todos os pensamentos em relação a ela.

Conformava-se ao imaginar que, a essa altura do seu sumiço, ela tenha achado que ele era só um
playboyzinho calhorda que apenas queria se divertir com a cara dela.

Foi um idiota por não perguntar onde ela morava, ou pedido o número do celular dela!

Foi ainda mais idiota por não ter se lembrado de dar o número do seu próprio celular!

Aquela garota o deixou completamente fora do eixo e tudo
que vivenciaram naquele dia, durante a montagem da decoração natalina na Praça As Primaveras, foi tão inédita
que ele simplesmente esqueceu-se das facilidades do mundo moderno.

Parou de repente ao meio de um cálculo de física, por causa de um pensamento estranho, quase filosófico... que nem a mais atraente modernidade tem o menor valor ou
importância no momento em que se vivencia uma emoção verdadeira...

Será que, ao se fugir para o mundo virtual através de maravilhosos aparelhos eletrônicos, não estará se evitando viver verdadeiramente ao experienciar emoções e
sentimentos?

Pois, por mais que se experimente sensações no mundo virtual, nenhum deles sequer se equipara ao final de
tarde numa pracinha, por exemplo...

Joshua sacudiu a cabeça com raiva.

Ele não podia se distrair e mais uma vez se traía ao se lembrar do dia na
praça, ao lado de Miriam.

Amanhã será sua última prova e se
ele reprovar... bem capaz do pai enfiá-lo em um colégio
interno!

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