Lucas

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Aquelas férias em Capri, na mais maravilhosa ilha de Nápoles, e uma das sete maravilhas de Itália tinha sido, como em todos os anos, em família. Já no último dia de praia, Lucas admirava a paisagem sem fim daqueles tons de azul ondulado com dourado salgado, do mar que se confundia com o céu e que dava ar que o mundo era só azul, um azul belo, claro, turquesa, celeste e marinho. Despedia-se daquela praia com o mesmo desgosto de uma criança que não tinha acabado de fazer o seu castelo de areia. Lembrava-se de quando era pequeno, a sua primeira memória naquela praia de ter ficado a observar as ondas pequenas e seguras e de se perguntar quantas existiriam. Com este pensamento sorriu e disse para ele mesmo "infinitas". Voltar para casa era sinônimo de rotina, era também sinónimo de voltar a ver os seus amigos, de voltar a escola, de estudar, de acabar o verão e toda a sua felicidade.

Por um lado sabia que estava a exagerar ao pensar assim, era sempre bom voltar a ver os seus amigos, era bom voltar a casa, a ter metas, andar de bicicleta até à escola, sair com amigos no fim de semana, mas por outro  lado sabia que isso não atenuava o desejo de ficar, o desejo de continuar para o mar, de reviver as férias todas. A vontade de competir com a irmã na natação, de fazer sub com o pai, de comer cornetti e boconotti com a mãe logo pela manhã, de ver o por do sol na sua casa de praia e pensar no imenso. Foi a pensar em tudo o que tinha feito que se dirigiu para casa e começou a fazer as malas para voltar para casa.

Como sempre a viagem ia ser de comboio, uma viagem longa e um pouco aborrecida de três horas. Lucas estava habituado a este tipo de viagens e então metia sempre à mão aquilo que mais precisava nesses momentos : os seus airpods, cartas de uno, um livro para ler e um bloco de notas para se precisar. Foi depois de meter estas relíquias na mochila que se preparou para ir para o comboio.

No princípio nada de mais aconteceu, a sua frente estava um homem com cerca de 30 anos e a sua diagonal estava vazia. Foi assim que o comboio parou pela primeira vez que aquela viagem começou a ser melhor do que Luca esperava. Assim que o comboio parou deu entrada a várias pessoas, de entre elas, uma rapariga que se sentara na sua diagonal.

Era de uma beleza inexplicável, o seu cabelo ondulado e dourado fazia-lhe lembras as ondas seguras de Capri, os seus olhos mostravam uma felicidade e complexidade que Lucas não soube descrever com o seu pensamento e o seu sorriso genuino e indefeso, fazia-lhe recordar a infância, de cada vez que a mãe dá um brinquedo a um filho sem este o pedir. Luca sentiu toda essa beleza atravessar no seu corpo e então um desejo forte apoderou-se então dele, não sabia expressar aquela sensação de dor e emoção ao mesmo tempo.

Queria saber quem era aquela rapariga tão especial, queria poder falar com ela, o problema era que não encontrava nada para lhe dizer que podesse expressar o que sentia, e aquela dor percorria-lhe tanto no corpo que decidiu que não poderia acabar o dia sem ficar pelo menos com uma probabilidade de falar com ela, de a voltar a ver. Então, como não queria dar nas vistas da família pegou num papel e começou a escrever uma coisa para ela. Tinha a intenção de demorar a sair e lhe deixar o bilhete. O que tivesse que acontecer, acontecia.

De tão nervoso e feliz que estava por concluir o seu plano até se esqueceu de concluir o jogo com a irmã e as três horas que se passaram duraram uma eternidade demasiada. Mas agora finalmente estava na ora de executar o seu plano. Como tinha revido vezes na sua cabeça fez tempo a preparar as coisas como se tivesse apenas a arrumar e nada mais, e assim que a sua família começou a andar, lançou discretamente o papel para a rapariga, mas, para seu desânimo esta nem olhou para ele. E então toda a energia e alegria que tinha consumido naquela viagem como por magia saiu da sua cara, perdendo toda a sua esperança.

Quando finalmente metera na sua cabeça que a ideia tinha sido estúpida e que nunca devia ter deitado aquele mero papel, que aquele sentimento nunca daria em nada, se recusar de exprimir qualquer tipo de felicidade ou sinal de entusiamo, ouviu um vibrar no seu telemóvel. Com o coração a palpitar e com uma nova esperança acesa vê que a mensagem tinha sido da rapariga que estava no comboio e foi preciso quase a força do mundo para que Lucas, naquele carro agora, não saltasse de alegria e desse um grito de entusiamo e animação.

o rapaz do comboioOnde histórias criam vida. Descubra agora