A TEMPESTADE

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Merecem imensa admiração e considerações, as pessoas que vivem na área rural, onde o céu torna-se mais perto e as paisagens convertem em uma beleza panorâmica tudo que está em sua volta. Enriquece o olhar de quem a observa, transmutando em uma visão estupefata, lindíssima e colorida. Também habitam ali, animais e aves de várias espécies, onde os rios deságuam e o barulho intermitente das cachoeiras despencam das alturas entre as rochas. O brilho do Sol, as nuvens vagueando sem destino, o zumbido do vento nas frinchas, e o misturar das flores formam uma coloração impressionante. Tudo isso torna o viver muito mais saudável.

Os habitantes, se aglomeram e se ajudam; se entendem e procuram estar sempre em harmonia, cuidando, preservando e transformando o habitat em um deslumbrante visual.

Nem todos tiveram o privilégio de morar numa região dessa, que parece sonho. Mas ainda existem lugares que parecem cinematográficos, onde predadores da natureza não colocam em prática, o seu caráter de vandalismo.

Em uma área semelhante à descrita acima, vivi com meus pais e muitos irmãos. Éramos uma família pobre, sem muitos recursos. Sobrevivíamos do serviço rural numa fazenda, cuja atividade principal era a pecuária, embora a maioria das pessoas que lá habitavam, tivessem uma renda familiar diversificada proveniente dos afazeres do campo, como a manutenção de toda área daquela propriedade, cuja extensão compreendia à 542 hectares.

Diversos tipos de atividades, como: criação de bois de corte, extração de leite, criação de cavalos, criação de ovelhas e cabras, eram o serviço dessa fazenda. Muitos ainda faziam uso da caça e da pesca para o sustento da família.

Morávamos num casarão, cuja frente tinha um peitoril com balaústre de madeira, esteios a vista, e uma área grande cercada na frente. Um mourão esculpido com um numeral escrito: 1938, que provavelmente indicava o ano de construção. Apesar de ser uma casa grande, era mal dividida. Uma sala, dois quartos, uma sala de jantar, uma cozinha e mais um quarto no fundo, que devia ser para empregados ou hóspedes, e um imenso corredor que ia desde a entrada principal, até a cozinha. Um fogão de lenha bem grande que servia para o cozimento dos alimentos, também aquecia a casa na época de frio. Vários bancos de madeira, que serviam de assentos para toda família. Na parte externa dos fundos, tinha um quintal bem grande com três mangueiras, duas jaqueiras, duas laranjeiras, uma limeira, um pé de tangerina, dois pés de carambola e um pé de jenipapo.

Os meus pais tinham plantações de milho, feijão, mandioca (era a lavoura principal), também tinha outras espécies de frutos e cereais que colhíamos com abundância, como abóbora, melancia, mamão, jaca, outras espécies de feijão como andu, mangalô, feijão de corda, fava e muitos outros, tinha também maxixe, jiló, pimentão, quiabo...

No quintal, tínhamos uma boa quantidade de galinhas, criação de porcos...Deus já tinha planos em nossas vidas e nos favoreceu com suas bênçãos. Na frente da casa e nas laterais, a vista era deslumbrante: dois rios cortavam entre si e desaguavam num terceiro formando um só.

Diversos murundus, faziam a alegria da criançada, pois em cima deles, tínhamos uma visão privilegiada daquela localidade. Muitos pássaros, muitos animais, muito sol, muito vento. Céu azul era visto em todos os ângulos, colocando à mostra toda extensão da sua abóbada. Uma linda e extensa paisagem natural. Nas noites sem lua, a escuridão era total, mas podíamos observar os milhões e milhões de estelares formando pontinhos luminosos e cintilantes.

Na época das chuvas, os três rios transbordavam e se uniam como se fossem um único rio. Os peixes, Curimatã, se deslocavam para as margens, porque também era o período da piracema e como as águas secavam muito rápido, eles não tinham muito tempo para a desova e acabavam encalhados nas pradarias e na relva, que eram extensas. Consequentemente, todos os moradores aproveitavam a situação para uma pesca bem proveitosa; já que eram milhares de peixes que não conseguiam voltar para o leito do rio. Até sobrava muitos deles para os urubus e aves de rapina. Outra grande parte apodrecia.

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