C I N C O

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No final do dia cheguei, tomei uma ducha e fui para a varanda que tinha uma a brisa noturna arejada, ouvindo o grilar. As estrelas eram como grãos de areia numa praia vasta e adornavam o céu em um azul escuro majestoso. Ela estava lá, sentada nos dois degraus pequenos. Percebi em seus dedos um cigarro, não estava aceso e por isso me aproximei, sem lhe dar explicação sentei ao seu lado dividindo um degrau. As vezes quando o clima é abafado e o calor batia contra as paredes sem escapatórias era previsível a chuva no findar do dia, depois de um dia caloroso a chuva-de-verão vinha molhar e refrescar. O fresco orvalho, o cheiro da terra molhada da chuva serena, tudo isso contribuía para que eu amasse aquele lugar, era um lugar de paz. A juventude a flor da pele. Eu precisava entende-la, conhece-la o que me fazia ter mais desejo e instigação por sua figura misteriosa. Tomei coragem de falar a primeira palavra:

— Você vai fazer algo amanhã?

— Não. Eu não tenho lugar para ir.

Fiquei quieto, apenas os sons da noite ressoavam; as corujas.

— Vamos a praia, se você quiser...

— Eu quero.

— Legal. — Respirei fundo.

Ela entregou-me um meio sorriso. Fiquei observando-a com a mão apoiada no queixo; ela tinha o cabelo solto repartido, as duas ondulações como correnteza de um rio terminavam atrás das orelhas, seu nariz era pequeno, usava uma camisa por dentro do short, as pernas a mostra e o chinelo pendendo nos dedos. Conversemos:

Está ouvindo a chuva?

Estou sim.

É como um verso de uma canção.

Escutas ela?

Eu a sinto.

Me levantei:

Boa noite.

* * *

— Precisamos de cigarro — falou Carlos.

Ele não fumava, eu sabia disso. Ele só queria ter a oportunidade de falar com ela.

— Podemos falar com ela — eu também...

Havia contado o que vi na noite em que a encontrei na varanda. Eu sabia que ele queria conhece-la, tossi e me lembrei do cheiro horrível do cigarro que pendia na pontas dos dedos dela, eu realmente odiava isso. Carlos me olhou com um olhar de esperança então revirei os olhos e levantei do piso da calçada de casa e dei as costas para ele. Ele rapidamente se pôs em pé e correu atrás de mim, eu sabia que ele nunca tinha fumado e sabia que não iria fumar. Entrei dentro de casa, ela estava vazia. Meu pai estava resolvendo algumas coisas na cidade e minha mãe tinha ido junto, o Professor Aurélio estava no escritório que meu pai arrumou para que ele pudesse escrever durante as férias. Se eu ficasse em silencio conseguia escutar o barulho da máquina de escrever a todo vapor. Fiquei perto da porta dela encarando o trinco, Carlos fazia total silencio e estava curioso, então, bati na porta. Ela atender.

abriu a porta.

— O que querem?

— Cigarros — disse Carlos antes que eu pudesse falar qualquer coisa.

Ela arqueou as sobrancelhas e olhou para Emanuel de cima pra baixo, ele era menor que ela, Carlos sempre foi pequeno e magricela. Ela apoiou as mãos na soleira da porta e olhou agora para mim; ela usava um short claro, uma regata que pendia em seus ombros bronzeados e uma sandália. As sobrancelhas dela eram desenhadas, seus lábios finos, seus cílios curvos e seus olhos brilhantes.

Dias LongosOnde histórias criam vida. Descubra agora