Capítulo Vinte e Quatro.

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Liam passou reto, mesmo vendo todos os seus "irmãos" ali e as crianças. Ele lidaria com todos eles mais tarde, porque naquele momento, Grace o guiava diretamente para a biblioteca da casa.

Merda, ele mal podia falar algo. Ela estava zangada e ele conhecia bem o que era Grace Payne zangada.

A biblioteca de Grace tinha uma lareira e era grande. Livros empilhados na mesa, romance misturado com contabilidade e aquele cheirinho de limão e hortelã que havia ali, fez Liam se lembrar da sua juventude. Ele ainda esperava entrar e ver Joseph encostado na poltrona, lendo as cartas do Papai Noel das crianças carentes que ele sempre doava alguns brinquedos, segurando uma caneca de café e escutando rock em um volume baixo. 

Grace fechou a porta e se virou para ele.

— Você chegou cedo.

— Não tinha nenhum plano na agenda.

— E vai continuar mentindo para mim até quando?

— Grace, a minha vida...

— Você fez algo com aquele garoto, não fez?

Maldita vidente, Liam pensou. Nada escapava dos olhos de água de Grace Payne.

— Escuta, a gente só brigou.

— E por isso veio correndo feito um cachorro assustado? O que você fez, seja exato.

— Não estou pronto para assumir uma vida em um lugar fixo. Ele não entendeu isso e acabamos brigando.

Grace fechou os olhos e suspirou.

— Como pode ser igual ao tio, meu Deus — Ela andou até a mesa de centro, pegando a xícara de chá e se sentando em uma das poltronas confortáveis que havia ali — Liam, o que você disse exatamente para ele?

— Eu disse que nunca tive nada além de casual e que não poderia ser fixo. Não menti.

— Menti sim — Ela bebeu um gole longo — Para si mesmo.

Liam tirou o boné e coçou a cabeça. Encostado na lareira, ele emburrou-se.

— Escuta, eu não menti...

— Você ficou lá quase quatro meses. Comprou uma casa, reformou um bar. Fez amigos, conheceu alguém e até apadrinhou uma escola local. Acha mesmo que isso não se chama estabilidade, Liam?

— Só fiz o que eu achei necessário fazer.

Grace olhou pela janela. St. Louis. Estava bem frio para aquela época, mas não havia neve. Fazia anos que ela não via aquela beleza branca, desde que foi para os Alpes com Joseph, meses antes dele morrer. Ela sentia saudades de seu amado marido, o verdadeiro pai de seus filhos. O homem que a amou até o último segundo.

— Joseph falou a mesma coisa quando me resgatou daquele hospital — Ela continuava falar, sem tirar os olhos da janela, vendo o sol desaparecer e a escuridão tornar a noite — Lá estava ele, na beirada da minha cama, conversando comigo, enquanto esperava a anestesia passar para voltar a pegar a moto na oficina. Ele disse que ia só me ajudar, já que ele foi atrás de toda a história enquanto eu estava de cama. Ele conheceu as crianças, viu a minha casa destruída e a lápide do Jack. Enquanto ele me dava uma casa e ajudava meus filhos, ele falava "Só fiz o que eu achei necessário fazer". E esse necessário nos fez casar, ter uma vida confortável e me fez segurar a mão dele até a hora dele partir.

Liam deu de ombros.

— Não posso me sujeitar a isso, Grace.

— Você não precisará se sujeitar — Ele bebeu o resto do chá — Porque já se sujeitou.

Road of Love (AU! Ziam)Onde histórias criam vida. Descubra agora