refém | kjmila

oito

Quando o dia do casamento com Charles chegou, eu me via mais perdida do que nunca. Sem ninguém ao meu lado que eu realmente amasse, não leve a mal, isso tinha sido uma escolha minha. Assim como eu, todos esperavam que esse dia chegasse, mas não da maneira que vai ser e com quem vai ser.

Lili mesmo sem entender o porque, mesmo depois de ter me questionado milhões de vezes a minha volta com Charles, se ofereceu para estar comigo hoje. Disse que mesmo sem compreender ela ainda era minha amiga e estaria comigo em todas as situações. Mas neguei, aquele dia não seria nada especial e feliz. Nem minha mãe eu quis que tivesse comigo, ela questionou, mas aceitou quando eu disse que queria ser uma surpresa para todos.

Mesmo contra minha vontade - o que não me deixava nada surpresa - Charles havia programado uma enorme festa para uns duzentos e cinquenta convidados. Havia contratado o melhor buffet e contratado os melhores profissionais para deixar tudo perfeito. Charles sempre amou o luxo, óbvio que ele não economizaria no casamento. 

"O melhor para minha noiva" se justificava.

Eu me esforcei ao máximo para não ficar relembrando do Kj o dia inteiro, mas isso era uma missão quase impossivel. Agora estou aqui com lágrimas nos olhos e me esforçando ao máximo pra não chorar na frente do cabeleireiro. Pensava como tudo seria diferente se hoje fosse meu casamento com ele. Como eu estaria feliz e ansiosa, e não cheia de feridas incuráveis.

Pude dar pela primeira vez, depois de muito tempo, um meio sorriso sincero. Imaginei como ele estaria ansioso e provavelmente deixando todos em sua volta doidos com seu nervosismo. Imagino ele andando de um lado para o outro se perguntando se eu surtaria e desistiria, o deixando plantado no altar. 

O que se fosse com ele eu jamais pensaria em fazer. Casar com Kj seria a realização da minha vida. Sem dúvidas meu maior sonho. Casar como para a maioria das mulheres era meu sonho desde pequena. Imaginava meu vestido simples e singelo. Sem muito brilho, porém todo rendado. Sem muito volume, apenas com um pequeno balanço. O vestido perfeito para mim.

Mas até isso Charles havia roubado de mim. No dia de escolher o vestido ele havia ido comigo, ignorando a tradição de que dá má sorte quando o noivo vê o vestido da noiva antes do casamento, coisa que eu também ignorei, já que pra mim a situação não poderia piorar.

O vestido escolhido era no estilo princesa, muito rodado e bastante brilhoso. Totalmente diferente do meu sonho. Charles tinha aprovado e eu sem entusiasmo nenhum, querendo ir embora daquela tortura, aceitei. Afinal, se um dia eu tiver a oportunidade de me casar com o cara que eu amo, eu realizarei todos meus desejos de menina.

Agora pronta, me olhando no espelho, após todos os profissionais que me arrumaram terem ido embora me elogiando, dizendo que eu era uma das noivas mais lindas que eles ja tinham preparado. E apesar de tudo isso, eu não conseguia me ver como uma noiva.

Noivas estariam ansiosas para a hora do "sim" e eu só queria correr dessa resposta. Estariam explodindo de alegria e o que eu mesmo estou é feliz. Estava triste, machucada, infeliz e doida pra que tudo isso passasse logo.

...

Eu ja podia ouvir a marcha nupcial tocar. Minha respiração estava irregular, meu coração estava pequeno e tudo que eu queria era correr dali. Mas me mantive firme e diferentemente das outras vezes pensar no Kj agora me deu forças. Ele era a minha força. Então respirei fundo e adentrei a igreja, meu pai estava ao meu lado. Ele também era um motivo de força.

Comecei a entrar e todos se levantaram. Procurei ao maximo não olhar para o Charles, já que quando fiz isso uma única vez ele tinha um sorriso de vitória nos lábios. Estavam lá praticamente todos meus conhecidos, pessoas que com toda certeza se perguntavam o porque desse casamento tão repentino com Charles ja que a pouco tempo eu vivia e trocava juras de amor com Kj.

Eu me mantinha tranquila até meu olhar parar num canto escondido da igreja, lá estava ele. Seu olhar estava perdido assim como o meu. Acho que naquele momento meu coração parou. Foi preciso que meu pai chamasse minha atenção para que eu continuasse caminhando. Não acreditava que Charles havia tido a cafajestagem de convidá-lo.

- "Não acredito que fez isso. Foi longe demais convidando ele" -

Falei disfarçadamente assim que fui entregue a ele pelo meu pai. Meus olhos se encheram de lágrimas. Então ele apenas sorriu mais uma vez da maneira que eu odiava. Eu era como um troféu para ele e naquele dia, era a concretização disso.

Na hora do "sim" eu quase travei, mas como não havia como correr em outra direção, tratei logo de responder. Trocamos as alianças e um selinho rápido, era o primeiro e o unico contato intimo que eu teria com ele. E mesmo assim só aconteceu pelo fato que as pessoas estranhariam se não houvesse.

Na festa eu estava totalmente alheia de tudo e todos. Eu agia conforme as pessoas me chamavam. Uma foto aqui, outra ali. As felicitações vinham a todo momento. Meus pais e amigos mais proximos estavam a todo momento me observando de forma estranha. Eles me conheciam o suficiente para saber que eu não estava bem ali. Por mais que eu tentasse, eles sabiam. Mas não diziam nada, já tinham feito muitas vezes isso antes e eu sempre dei a mesma resposta.

"Estou bem e satisfeita com minha escolha"

Minha maior mentira.

Aleguei para Charles que não estava me sentindo bem e que precisava descansar. Ele concordou e se despediu das pessoas alegando que a noite de nupcias iria começar, o que fez com que eu sentisse ainda mais nojo dele.

Definitivamente agora eu estava presa a um monstro, num laço que deveria ser eterno, mas que eu queria a todo momento desfazer. E para meu desespero, eu não me livraria tão cedo.

Mais um capítulo...
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