cinco

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- "Camilinha, você por aqui" -

Assim que cheguei no apartamento do Charles e toquei a campanhinha, fui recebida pelo mesmo. Eu estava enjoada, e com todo tom de deboche dele, minha vontade de vomitar era maior ainda.

- "Eu aceito sua proposta. Eu me caso com você" -

Falei logo, sem redeios. Não precisava ficar enrolando se eu sabia que teria que fazer aquilo mais cedo ou mais tarde.

- "Eu sabia que você aceitaria. Afinal, nós fomos destinados a ficar juntos" -

Minha vontade era voar no pescoço dele e mata-lo ali mesmo.

- "Eu estou fazendo isso pelo Kj, apenas por ele" -

- "Ai ai ai Camila. Você mais cedo ou mais tarde vai aceitar isso..." -

- "Eu nunca ficaria com um ser tão baixo e desprezível como você, sem que eu seja ameaçada, Charles." -

- "Não seja tão dura com seu noivo e futuro marido Camilinha, assim nosso casamento irá começar com o pé esquerdo" -

- "Se dependesse de mim, esse casamento nem existiria" -

- "Mas que bom que depende de mim. É você não tem outra saída, a não ser que queira ver seu ex namoradinho na cadeia. Estão trate de me tratar com delicadeza"

Ele falou irritado. Mas não mais que eu.

- "Eu te tratarei normal, apesar de te desprezar. Mas não me peça que te trate de outra maneira, a não ser com educação" -

- "Pro começo isso é o bastante. Sei que com o tempo você irá começar a se render aos meus encantos" -

Eu já estava farta daquilo tudo. Encantos? Ele realmente acha que depois disso tudo, Eu poderia me render a ele?

- "Eu me caso com você, mas tenho regras" -

- "Pode falar" -

- "Você não poderá de maneira alguma tocar em mim. E eu quero um quarto só pra mim, não confio em você" -

- "Quartos separados Camila? Tá doida? -

- "É a minha condição" -

Falei firme. Eu me casaria com ele, isso já era torturante o bastante. Não permitiria que ele me tocasse.

- "Tudo bem. Sei que com o tempo essa sua guarda irá abaixar mesmo." -

Ele estava mesmo convencido disso e isso me inojava.

- "Hoje mesmo passo na sua casa para pegar suas coisas" -

- "NÃO!" - gritei.

- "Porque não Camila? Tô começando a perder a paciência com você" -

- "Eu preciso de mais um tempo. Uns dois dias pelo menos. Você tá mudando a minha vida por completo, ninguém vai entender. E eu também preciso falar com o Kj, preciso me despedir" -

Falar aquilo me atingiu como um soco. Senti meus olhos arderem automaticamente.

- "Um dia Camila, um dia e mais nada" -

- "Espero sinceramente que um dia você reconheça o mal que você está fazendo. Que nunca irá conseguir amor dessa forma, muito menos o meu" -

- "Você não vê que eu não ligo pra isso? Eu quero o seu amor e se eu não posso ter, ninguém mais irá. Já me contento com isso" -

- "Você é desprezível" -

- "Já está ficando repetitivo Camilinha" -

- "Nunca pensei que teria um sentimento assim por alguém, nem quando você me traiu eu senti isso. Mas agora eu tenho ódio de você." -

Falei e saí dali, eu me sentia fraca, sem chão. Eu não acredito que estava passando por aquilo.

Meus pensamentos logo me levaram ao Kj. Eu não tinha condição nenhuma de ter uma conversa com ele hoje. Mas eu não tinha tempo. Charles não me deu.

Eu não sabia como falar com ele. Não havia uma maneira. De qualquer forma eu sabia que isso o machucaria e iria fazê-lo me odiar.

Eu precisava de uma desculpa, algo que fizesse ele acreditar e não fosse atrás de mim depois. Também não poderia contar a verdade a ele, Kj é cabeça dura e faria alguma besteira. E isso eu não poderia arriscar.

Peguei um táxi, eu não tinha condição nenhuma de dirigir. Chorei o caminho inteiro, o que provavelmente fez o motorista ficar assustado, mas não liguei, era mais forte do que eu.

Kj e eu sempre dormimos um no apartamento do outro, hoje seria no meu. Mas na minha cabeça isso seria pior. Eu queria falar com ele e sair o mais rápido possível antes que eu desistisse. Se fosse aqui eu teria que pedir para ele ir embora e eu não conseguiria fazer isso.

"Preciso conversar com você, então hoje eu vou aí. É algo sério"

Mandei a mensagem e ele logo me respondeu dizendo que havia ficado preocupado. Respondi que não havia necessidade, mesmo que tivesse. Eu não adiantaria esse assunto por mensagens.

Quando o táxi parou e eu desci, fiquei imóvel em frente ao prédio dele. Nunca imaginei ter que fazer algo assim. Eu não estava preparada, meu corpo todo tremia. Meu coração se quebrava cada vez mais, só de imaginar a reação dele.

Durante todo caminho até seu apartamento, eu pedia baixinho aos céus que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo e eu acordasse.

Vendo que aquilo era minha realidade e que eu não poderia fugir. Fiz mais uma presse aos céus. Que um dia o Kj me entenda e me perdoe por toda dor que estou prestes a causar nele.

Ele me perdoaria, não é mesmo?!

refém | kjmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora