23 de dezembro de 2019

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     Tedy passou a vida temendo várias coisas. Temia o escuro, motos que faziam muito barulho, traição e tudo mais, porque nem conseguia colocar no papel a quantidade de coisas que o assustavam.

     Entretanto, ele temia principalmente a solidão. Seu estômago se revirava e as lágrimas rolavam nos momentos iniciais de suas tentativas de dormir ao pensar em um cenário em que estivesse sozinho. Consequentemente, temia perder suas pessoas favoritas.

     Assim, pensava sempre em um poema que assombrava seu coração em reflexões sobre morte. O texto que despertava a ansiedade mortífera em seu corpo nos mais aleatórios instantes de seus dias comuns.

Canção Póstuma

Fiz uma canção para dar-te;
porém tu já estavas morrendo.
A Morte é um poderoso vento.
E é um suspiro tão tímido, a Arte...

É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diária.
Choro de pomba. E a Morte é uma águia
cujo grito ninguém descreve.

Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estás de ouvidos fechados
para os meus lábios inexatos,
— atento a um canto mais profundo.

E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando
aquele universo de pranto
com a lágrima da sua face.

E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde.
E sofro sem saber de que Arte
se ocupam as pessoas mortas.

Por isso é tão desesperada
a pequena, humana cantiga.
Talvez dure mais do que a vida.
Mas à Morte não diz mais nada.

Cecília Meireles, em "Retrato Natural"

     Quando ainda era uma criança, Teo teve contato com o poema ao prestar atenção à leitura de sua professora da quarta série. A mulher leu o texto para conversar com a classe sobre a partida da mãe de uma das alunas. Naquele dia, não houve lição alguma, por interessante que fosse, capaz de prender sua atenção. Remoeu por horas o pensamento de que, em algum momento, chegaria sua vez de se despedir de alguém querido.

     Entretanto, Teodoro viveu uma infância e adolescência de poucas despedidas. Em meio ao horror à morte, não precisou realmente enfrentá-la até sua vida adulta, quando afundou sua alma no abismo do luto por seu primo.

     Cada dia era uma luta diferente para Teo, mas as datas marcantes eram uma tortura maior. A pior delas era, com certeza, a data de falecimento. No primeiro ano de separação, foi horrível o suficiente para ser lembrada como um episódio perdido de sua vida. Porém, no segundo ano, o dia foi trágico o suficiente pra ser melhor esquecê-lo do que contá-lo a qualquer pessoa. Portanto, ele será esquecido.

Teodoro Precisa SuperarOnde histórias criam vida. Descubra agora