Amor e Magia - O Herdeiro do Fogo

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Não digo nada o caminho todo, apenas observo as coisas passarem por minha mente e pelo vidro do carro que segue até minha casa.

- Que maravilha filho você trouxe uma visita - Fala minha mãe sorridente enquanto retira seu notebook do colo e se levanta para cumprimentar Araevin.

- Este é Araevin Argus mãe, ele é novo na escola e está aqui para... para conversarmos sobre um trabalho. - Falo enquanto minha mãe já abraça Araevin dando boas vindas a casa.

- Só se passarem na cozinha pra almoçar - Impõe minha mãe.

- Por mim tudo bem senhorita Carmen. - Araevin sorri me olhando como se quisesse dizer que sabe nomes e sobrenomes de todos na minha vida.

- Gostei dele - Minha mãe diz toda feliz.

- O que pensa que está fazendo? - Pergunto baixo sentando à mesa e me servindo.

- Precisamos conversar Matthew - Araevin diz apenas, me olha com o mesmo rosto sério de sempre.

- É lógico que sim mas precisava mesmo invadir meu carro, minha casa e minha vida ? - Falo indignado com a audácia de Araevin.

- Você podia ter me expulsado do carro mas não o fez, podia não ter me deixado entrar em sua casa mas não o fez e sobre sua vida Matthew - Araevin fica tenso - foi você que entrou na minha 33 anos atrás.

- Quantos anos você tem afinal ? - Ele não parece ter mais de 33 mesmo naquela aparência monstruosa.

- 367 - Araevin continua a comer ignorando minha expressão boquiaberta.

Após o almoço seguimos para os fundos mais afastados da casa onde há uma grande área verde  com mesas e cadeiras.

- Ok Araevin eu pensei muito e acredito na sua história... quero dizer, eu acredito em tudo. Antes de qualquer coisa queria te agradecer pelo que você fez a minha irmã Laura. - Estou convicto de que tudo é real.

- Você não precisa agradecer pois foi a sua magia que a salvou, eu apenas canalizei o que você emitia. - Ele se senta de lado na cadeira e observa o jardim.

- Você disse que um servo seu me observa ,onde ele está? - pergunto cauteloso.

- Quer saber se ele ainda vigia você não é ?- Araevin é esperto, o que não é novidade vindo de um cara com 367 anos. - Eu o matei, ele foi descuidado e isso é inaceitável.

Sinto um pouco de pena pelo servo mesmo sem saber se era uma criatura boa ou má. Araevin é muito ríspido, ele sabe parecer educado e fingir sorrisos mas no fundo eu acho que só existe ódio nele.

- Então você mata quem te decepciona ? Não seria novidade se você me dissesse ser... sozinho - O humor de Araevin muda rapidamente.

- Eu não quis dizer dessa forma - A expressão de Araevin muda, agora mais serena como se tivesse lembrado de algo. -É que servos são criados por magia, e o dever tem que ser feito com perfeição ou nós os matamos.

- O que você pretende fazer agora que sabe que eu sou o emissor daquele tal sinal no seu mundo ? - Falo com menos receio pois se ele tivesse a tarefa de me matar já teria feito eu acho.

- Eu preciso levar você para que os mestres descubram por que um feérico nasceu onde a magia morreu há milhares de anos.

- Está brincando, né?

- Não, eu preciso levar você nem que seja... - Araevin para como se não pudesse continuar.

- Seja ?

- Morto.

- Isso é loucura cara! como eu deixaria minha família, escola, amigos e tudo mais pra simplesmente seguir um maluco que eu mau conheço ?

- Você tem ciência de que é um perigo eminente pra todos estes que citou e muitos mais ? - As palavras de Araevin são afiadas - Esquece que se eu não estivesse lá naquela tarde você teria queimado centenas de pessoas ? Quem sabe a cidade inteira! -Ele esbraveja.

Responder perguntas com mais perguntas é um golpe baixo. Encaro a mesa pensativo.

Araevin prossegue.

- Eu já estou quase sem magia e não posso ficar neste mundo te vigiando e evitando que você mate os de sua espécie. Você tem magia como nós e isso significa que é nossa responsabilidade.

Ele está redondamente certo mas eu estou com medo disso, não dele... disso. Como eu vou embora ? Pra quem vou dar tchau ?. Pensamentos assim me corroem por dentro.

- Quando ? - consigo falar.

- O tempo que passa aqui em relação ao meu mundo é diferente, se partíssemos hoje e voltássemos 30 dias depois só teriam se passado 5 dias aqui. - Araevin parece não conseguir terminar. - E talvez tenha um feitiço... ele pode fazer ao menos as pessoas na sua casa acreditarem que você saiu em uma viajem importante.

- Por que tanta relutância nesse talvez ? - Pergunto pensando ainda se concordarei com isso ou não.

- O feitiço precisa ser abastecido com magia o tempo todo ou perde o efeito. Seria fácil pra mim mantê-lo mas se eu entrar em uma fenda para o meu mundo a ligação da minha magia com esse se perde. - Ele diz sereno me olhando.

- Então é inútil ?

- Há métodos de armazenar magia só que eu não posso fazer pois estou quase sem, nós feéricos temos uma espécie de poço de magia em nossos corpos, ele se esvazia conforme usamos e só se enche em locais mágicos e a terra não é um local mágico há séculos.

- Mas? - Ele não pode estar falando tanto sem saber uma solução.

- Você Matthew aparentemente gera a própria magia ou se recarrega em uma fonte desconhecida por nós, quando desmaiou naquele dia significou que havia secado o seu poço e quando isso acontece, nós feéricos ficamos horas e horas dormindo para repor. - Araevin me encara um pouco e continua -Você não demorou uma hora e já estava emanando magia novamente.

- Então eu posso armazenar magia para que o feitiço que você vai fazer continue sem a nossa presença? - Falo na esperança de não haver mais nenhuma restrição.

- Exato.

- Como faremos isso? - Pergunto um pouco ansioso, eu quero ver minha magia.

Araevin retira uma pequena caixa prateada do bolso, abrindo-a ele me mostra um cordão preto que segura uma pedra branca entrelaçada.

- Coloque isso. - Araevin diz jogando o cordão em minha direção, fecha a caixa e guarda.

Coloco o cordão e me assusto quando percebo que a pedra não está mais branca, está verde e parece brilhar.

- Pronto ? - pergunto sem realmente entender o que está acontecendo.

- Só não tire isso daí até amanhã. A princípio eu não quero forçar você a fazer nada, mas eu tenho que cumprir ordens então temos que partir amanhã. Conte para quem você quiser, mas a responsabilidade do que disser será só sua. - Araevin fica pensativo.

Afirmo com a cabeça. Não por que concordo com tudo mas por que eu não tenho escolha. E com certeza eu não diria isso a ninguém. Já foi difícil pra mim acreditar imagino isso com os outros.

- Eu preciso ir. Sei que tem muitas perguntas e sei que você pode guardá-las pra depois. - E eu sei que você disse isso só pra evitar meus interrogatórios respondo a mim mesmo em silêncio.

- Ok cara, nos vemos amanhã então. - Fico um pouco frustrado, preciso pensar.

Araevin ao sair para do meu lado e coloca sua mão direita em meu ombro, logo termina o trajeto até a porta se despedindo de minha mãe e Laura que por sorte só largou o celular e saiu do quarto quando toda a conversa havia acabado. Me pego pensando em como ele irá voltar para casa... onde será que ele mora mesmo ? Sorrio.

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