A conversa nada esclarecedora.

13 1 2
                                    

Bom, após chegar no hospital e deixá-lo sob cuidados médicos, fui interrogado por alguns policiais sobre o ocorrido. Foi particularmente difícil dizer que a causa do desmaio foi um soco provocado por mim após ele me beijar, então dessa vez, só contei a verdade.
— Então, ele tentou te beijar após ser atropelado e você o socou? —Pergunta o policial.
— Ahn, não. Ele me beijou depois de eu atropela-lo e então eu bati nele. — Respondi.
Tenho certeza de que estava com uma enorme cara de sonso, mas eu não estava fingindo, era como se eles esperassem que eu falasse: "Olha, é o quinto velho que atropelo essa semana, estou cansado, posso ir agora?".
Depois de ser interrogado cinco vezes sobre a mesma coisa, estava me sentindo um maluco, senti que me dobraria na cadeira, começaria a balançar e falar "velhos voadores, cadeiras de roda, cadeira de velhos, velhos de rodas". Após a sexta vez, me liberaram, mas eu tive que esperar por notícias do velho tarado, não gostaria de me tornar um fugitivo assassino de senhores.
Ele acordou depois de umas quatro horas, a enfermeira falou que ele estava estável, que só tinha batido a cabeça e que queria falar comigo, então todo relutante, fui ver meu assediador.
— Ah! Você, que bom, venha, venha.— Diz ele assim que apareço na porta,  e cara, eu juro que senti que teria de soca-lo novamente.
Entrei e deixei a porta o mais aberta possível, e fiquei na beirada da cama, longe de suas mãos e de sua boca, ele parecia um louco, olhando tudo na sala como se fosse algo totalmente novo, mas na verdade só havia um sofá de dois lugares, uma televisão acoplada na parede, uma pia pequena e os tubos que estavam no velho, e eles eram o que mais interessavam o cara.
— Ahn... você pode me explicar quem é o senhor? — Pergunto.
— Ah sim, onde estão meus modos, sou Jack. Eu faria uma reverência, mas sabe, eu não posso. — Logo após essa frase, ele soltou uma risada que me pareceu muito verdadeira, e parecia que ele fumava.
Eu não ri, tenho quase certeza de que estava com cara de bravo, o velho parou de rir e emitiu um suspiro que mais pareceu um "ai,ai".
— Enfim, você que me encontrou, então queria lhe perguntar... aquilo ali é um hambúrguer?! — Nesse momento a enfermeira chegou com um carrinho com um hambúrguer e um copo de suco, acho que ele não está acostumado a ver esse tipo de comida. A enfermeira lhe entrega as coisas e ele as devora como se fosse a primeira vez em anos que comia comida de fast food.
— Cara, eu não como um desse a séculos. Os fast foods foram extintos a mais ou menos duas décadas no meu tempo. — Fala ele com a boca cheia.
— Espera, no seu...tempo? — Eu estava meio perplexo, os fast foods não foram extintos em nenhum lugar no planeta, e estudos apontam que se eles pararem de vender, será daqui a uns 2.000 anos.
— Ah claro, não lhe contei. — Ele lambe os dedos e se ajeita na cama, toma um gole de suco e fala.
— Sou do ano 5.025, 25 anos depois da humanidade ser extinta por causa de algum estúpido egocêntrico. Arrumei uma forma de voltar no tempo e impedir isso, por que cara, como faz falta ver uns filmes adultos...e claro, os humanos! — Ele acrescenta após ver minha cara de nojo. Um viajante do tempo, simples assim?
— Enfim, essa é a parte chata, por acaso você sabe onde foi parar minha cadeira?. — Ele pegunta como se tudo o que falou antes fosse nada de mais. Tenho certeza que balbuciei algo do tipo "hupf".   — Ande professor, você atropelou minha Rose, onde está ela?.
— Você... você chama sua cadeira de rodas de Rose? — Considerando tudo, foi a pergunta mais idiota que fiz, ele revirou os olhos e se sentou.
— Bom, eu não faço amor com ela. — E soltou outra risada daquela, parou uns bons segundos depois. —Ai...haha, enfim, apenas me tire daqui que eu mesmo procuro por ela, pode ser?.
Eu realmente não sabia se estava sonhando ou não, mas como sempre, tomei uma decisão madura: saí a passos rápidos da sala, escutei ele dizer do corredor:
— Mas que covarde filho da...
E fui ao banheiro, lavei o rosto e disse a mim mesmo que deveria diminuir a dose de café, até eu escutar o som de uma vidraça quebrando, pensei: "Pronto, o velho se jogou da janela".
E sai correndo do banheiro.

Um cientista, um professor e uma cadeira.Onde histórias criam vida. Descubra agora