4. Estratégias do Jogo

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Lívia encarou Aurora e Benito brincando com Léo no tapete da sala. Os dois pareciam diferentes. Mais sorridentes. Mais cúmplices. Mais babões pelo Léo. Talvez o espírito natalino realmente tivesse operando milagres, já que Benito simplesmente ignorou uma piadinha que Lívia havia feito alguns minutos antes.

A morena encarou Tito do outro lado da sala e fez um sinal com a cabeça para que o rapaz a acompanhasse para fora do recinto. Benito e Aurora pareciam que iam flutuar a qualquer momento na sala.

Lívia encarou o corredor vazio e puxou Tito para dentro do banheiro social. O rapaz riu baixo e logo trancou a porta.

— Sexo no banheiro da casa da sua mãe? Isso é muito os seus dezoito anos quando eu vinha de São Paulo pra te ver nos finais de semana — Tito comentou sorrindo e dando um selinho rápido na namorada.

— Nós não somos mais dois adolescentes cheios de fogo, ok? — Lívia resmungou cruzando os braços. — Papo sério, Tito.

— Ok, ok... diga, amor da minha vida.

— Nada de contar pra minha mãe sobre aquele nosso assunto — a mulher orientou séria.

— Ué, por que? O natal é perfeito para essas novidades — Tito passou os braços pela cintura da namorada. — Ela vai ficar muito feliz por você.

— Não, ela vai ficar feliz, mas depois vai ficar triste — Lívia respondeu encolhendo os ombros. — Só... só não fala nada, ok? Deixa pra dar essa notícia em outro momento.

O rapaz estreitou os olhos e negou com a cabeça. Não concordava com a conduta da namorada. Manter segredos nunca era uma opção.

— Tito, é sério, mantém essa boca bem fechada perto da minha mãe, hein! — Lívia orientou novamente e o rapaz só soube revirar os olhos.

— Eu já entendi, embora não concorde com a sua decisão de esconder isso dela — ele resmungou baixinho enquanto cruzava os braços.

— Não fica com essa cara feia pra mim, Tito — Lívia pediu passando os braços em torno do pescoço dele. — A gente não pode brigar por causa disso, muito menos no natal.

— Lívia, eu não entendo porque você acha que contar para a sua mãe é um problema. Quando você me contou, eu também fiquei muito feliz por você, mas é óbvio que depois fiquei um pouquinho triste. É normal. Vai ser a reação de todos. Felizes por você, mas tristes por ficar longe de você — Tito argumentou encarando os olhos azuis da namorada. — É uma oportunidade única, todos nós entendemos você dizer "sim" para ela.

— Uma oportunidade única... — Lívia falou com certo desânimo. — Na Itália... — completou baixinho.

— É a sua vida profissional, amor — Tito pousou as mãos nas bochechas dela. — Todos nós vamos continuar te amando. Não tem erro. Pensa assim, nós todos poderemos passar as férias na Itália com você. Teremos um lugar pra visitar!

Lívia tentou sorrir, mas sua expressão se assemelhava mais a uma careta desanimada.

— Será que eu tomei a decisão correta? — ela perguntou encarando os olhos do namorado. — E se eu for um fracasso na Itália? E se a gente não conseguir manter nosso relacionamento a distância? E se o Léo se esquecer de mim? E se... — ela parou e sentiu os olhos marejados. — E se ir pra Itália for a pior decisão de todas?

Tito segurou Lívia pelos ombros e a encarou com seriedade. A namorada era uma mulher prática. Nunca gostou de muitas enrolações. Usava a lógica para determinar diversas das suas decisões durante a vida.

Mas ninguém tinha uma bola de cristal para saber como seria o futuro. Não tinha nada de lógico em mudar de país e deixar tudo para trás. Entretanto, Lívia precisava entender que a vida não era lógica. A vida era muito mais do que isso.

— Quando você entra na quadra... — ele começou um pouco incerto. — Você tem certeza absoluta que vai ganhar?

Lívia deixou que um brilho de confusão tomasse conta do seus olhos por alguns segundos, mas logo negou com a cabeça.

— Não, não tem como saber. Não tem como prever o que vai acontecer no jogo, mesmo que a gente saiba todas as estratégias do adversário. O jogo é sempre imprevisível — ela respondeu com firmeza.

— Então vamos pensar nas nossas estratégias do jogo primeiro — Tito falou com um sorriso de lado. — Primeiro, nós vamos nos falar todo dia por mensagens de texto e vamos tentar nos falar por vídeo pelo menos três vezes na semana. Uma vez a cada dois meses eu vou te visitar na Itália. Isso é uma promessa. Nem que seja um único fim de semana. E todas as minhas férias serão ao seu lado. Independente se for no Brasil ou onde você estiver. Minhas férias sempre serão ao seu lado, Lívia Becchio.

Lívia deixou que uma lágrima rolasse pelo rosto e negou com a cabeça. Tito era maluco. Completamente maluco.

— E se a gente brigar? E se você achar uma advogada maravilhosa que vai estar todos os dias ao seu lado? — ela perguntou cética.

— Se a gente brigar... bom, nós dois vamos tirar um tempinho para respirar e vamos voltar a conversar e resolver seja lá qual for o problema. A gente vai precisar manter o diálogo, amor — Tito respondeu com calma. — E quanto a aparecer outra pessoa em nossas vidas... acho que eu quem deveria ficar preocupado, porque você vai ver italianos com cara de modelo internacional o tempo todo. Eu tenho a maior chance de ser chutado, verdade seja dita.

Lívia riu com a observação do namorado.

— Não precisa se preocupar com isso... Nenhum deles é você e eu só quero você.

Tito sorriu e deu um beijo leve nos lábios da namorada.

— Eu te amo — ele sussurrou. — Te amo muito.

— Eu sei — Lívia respondeu passando os braços pelo pescoço do rapaz.

— E é por te amar muito que eu vou te apoiar na Itália. O tempo todo. Mesmo que eu morra de saudades, eu vou ficar mais do que feliz se você ficar feliz.

— E se eu for um fracasso lá? — Lívia perguntou séria.

— Você tem a mim e a sua família para te apoiar e te receber de volta com os braços abertos. Igual a gente sempre faz quando você perde um jogo. A questão é, você não pode entrar em quadra achando que vai perder aquele jogo, entende? Então eu não quero que faça isso com essa oportunidade única. Você é sensacional. Eles não te ofereceriam uma vaga no maior time de vôlei da Itália se você não fosse completamente sensacional.

— Eu te amo, Antônio Sparzzo — Lívia sussurrou antes de beijá-lo com força.

No fim, acabaram mesmo transando no banheiro social como os dois adolescentes cheios de fogo que eles nunca deixaram de ser. 

 

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O Natal da Família BecchioOnde histórias criam vida. Descubra agora