5. Tradições de Natal

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Ana fingiu não perceber quando Helena e Marcelo voltaram descabelados do sótão para ajudar no preparo da ceia.

Fingiu que não viu Benito e Aurora se trancando no banheiro social.

Fingiu não reparar no exato momento em que Lívia e Tito saíram da sala de estar para, adivinhem só, se trancar no banheiro social.

Teria que colocar um aviso naquele banheiro: "proibido transar na casa da mamãe".

Faria o mesmo com o sótão e com o antigo quarto dos filhos. E com... Bom, melhor colocar um aviso geral na casa inteira. Seus filhos estavam parecendo adolescentes descontrolados.

— Por que está com essa cara? — Nico perguntou abraçando Ana Carolina por trás. A mulher estava terminando de fazer um delicioso doce para a ceia. Talvez fosse um pudim, mas Ana não era muito boa na cozinha, não tinha como saber ao certo o que era aquilo.

— Porque meus filhos estão transando pela casa inteira — ela respondeu de mau-humor. — Eles não nos respeitam mais. É véspera de natal, Nicolas!

— As pessoas transam no natal, Ana — Nico respondeu rindo e apertando-a dentro do abraço. — A gente transou no natal do ano passado. E no natal do ano anterior também. E...

— Ok, eu entendi — ela respondeu irritada.

— O mais importante é que a gente não viu e nem ouviu nada, ok? É véspera de natal e, mais importante que isso, é a primeira véspera de natal do nosso menino — Nico segurou a cintura da mulher e a virou para si. Encarou os olhos castanhos com divertimento. — Depois a gente também se tranca no banheiro e mantém essa tradição de transar no natal, ok?

Ana ficou com o rosto vermelho e deu um tapa no ombro do marido.

— Indecente.

— Só com você — ele respondeu se preparando para beijar a mulher, mas foram interrompidos por Benito.

— Eca, é a nossa mãe, cara! — Benito reclamou tampando os olhos do pequeno Léo que estava em seu colo.

— Tinha que ser Benito, o engraçadinho... — Nico riu se afastando de Ana Carolina. — Você já é grandinho o suficiente para encerrar essa implicância com o afeto.

— Eu não tenho problemas com afeto, meu problema é ver minha mãe beijando na boca — Benito fez uma careta.

— Benito, vem aqui — Ana chamou o filho com um sorriso de lado muito suspeito.

O rapaz se aproximou com o caçula no colo e ela sussurrou:

— Eu vi você entrando no banheiro com a Aurora, então... — a mãe o encarou com um sorrisinho cínico.

— Não aconteceu nada demais naquele banheiro — ele se defendeu. — Só discutimos a relação.

— Ah, é assim que chama hoje em dia? — Nico comentou pegando Léo do colo do irmão. — Estamos velhos mesmo, Ana. O mundo não é mais o mesmo.

— Muito engraçadinho você, Nicolas Avelar — Benito resmungou. — E seu filho está com a fralda suja — apontou para Léo que deu uma risadinha como se soubesse que todos os adultos fogem da responsabilidade de trocar sua fralda suja.

— Ah, então você pode brincar com ele à vontade, mas Deus me livre de trocar uma fralda, né? — Nico provocou.

— Eu sou o irmão legal, apenas — Benito riu e deu dois tapinhas nas costas do padrasto. — Vai lá, bonitão. Esse bebê está começando a deixar a cozinha com um cheiro ruim.

— É verdade, Nico — Ana concordou rapidamente com o filho que se apressava para sair da cozinha. — E eu estou de olho, Benito.

— É claro que está... olhos de águia, lembra? — o rapaz provocou saindo da cozinha.

O Natal da Família BecchioOnde histórias criam vida. Descubra agora