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Camila

Cheguei à agência antes de todo mundo naquela quinta-feira. Fiquei na calçada, em frente ao portão fechado, olhando em volta, com o peito apertado. Eu queria ver Shawn, confirmar que estava bem, falar qualquer coisa só para olhar e estar perto.

Desde a noite anterior, o celular dele estava desligado.

Eu não tinha dormido direito, preocupada com ele, sem acreditar que havia vivido uma tragédia tão grande. Chorei tanto que agora sentia dor de cabeça. Chorei por ele, por seu irmão, por sua dor, por tudo de horrível que passou. Senti vergonha das minhas dores, tão minúsculas diante das dele.

Enquanto estava ali, sozinha, muita coisa passou pela minha cabeça. Lembrei-me das primeiras vezes em que Isaque falou de Shawn e de como o imaginei um mulherengo vazio, daqueles que só despertam uma coisa nas mulheres: vontade de transar.

E agora, tendo conhecido ele um pouco mais, vendo como tratava bem seus funcionários, conversando com ele ao celular, sabendo das suas dores, eu me dava conta do quanto tinha sido injusta ao julgá-lo.

Será que todo mundo era assim? Olhava para alguém e tirava suas próprias conclusões, como se tivesse o direito de decidir quem era bom ou não?

Eu tinha me enganado tanto.

Ele era um homem forte, que tinha se feito sozinho. Poderia ter passado a vida usando sua tragédia como desculpa para fracassar ou se revoltando, envolvendo-se com crimes e drogas, mas não. Ele foi pelo caminho mais difícil. Lutou por si mesmo, fez sua vida.

Eu me senti covarde. Vivia cheia de medos, culpas e vergonha. Estava infeliz, mas preferia ficar assim, camuflada, satisfazendo-me com conversas escondidas com um homem que não era meu marido e tentando me convencer de que bastava vê-lo todos os dias no trabalho para ser mais feliz.

Eu não teria o apoio de ninguém caso resolvesse me separar e seguir minha vida de maneira menos dura e proibitiva. Meus pais me renegariam, Isaque e a família dele me desprezariam. Mulher separada, ainda mais por escolha própria, sem "motivos", nem pisaria na igreja do meu pai. Seria preciso muita força e coragem.

Eu estaria sozinha. Mas não tinha sido assim com Shawn? E ele só tinha doze anos quando ficou sozinho.

Senti que a tristeza estava a ponto de me derrubar, mas uma força parecia ganhar terreno em meu interior. Muita coisa rebulia e me levava ao limite, a uma decisão. Tinha vindo devagar, como uma onda, mas aquela onda tornara-se um maremoto.

A primeira pessoa a chegar foi Lídia. Ela puxou assunto, mostrando-se simpática, querendo saber se eu estava gostando de trabalhar ali. Depois veio Cosme, que abriu a porta. Os funcionários foram entrando, conversando, rindo. Eu não estava em paz. Lamentei não ter como assumir minha identidade para Shawn, pois eu poderia conversar com ele sobre o que me contou.

Quando ele entrou na sala, tomei um susto tão grande que perdi o ar.

— Bom dia. — Ele parecia bem-disposto e à vontade, vestindo calça jeans e uma blusa branca justa.

Sua expressão não era de dor e ele não estava abatido. Estava másculo e viril, os olhos brilhantes. Sorriu para todos, inclusive quando o seu olhar encontrou o meu.

— Alex, preparou aquele relatório sobre custos? — perguntou, indo à mesa do rapaz.

— Tudo pronto, Shawn. Eu mando por e-mail.

— Obrigado. Soube que amanhã teremos uma aniversariante... — Ele sorriu para Talita. — Vai ter festa?

— Ah, tô ficando velha! — Ela riu com vontade. — Queremos tomar umas cervejas no Matuto's, aproveitar que amanhã é sexta-feira. Vem com a gente.

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