Camila
Não dava para acreditar que eu estava de mãos dadas com Shawn, indo para a casa dele.
Enquanto andávamos em silêncio, lado a lado, como um casal de namorados, minha mente girava, meus sentidos se embebiam da realidade, tudo se agigantava dentro de mim. Era inesperado e surpreendente. Depois de tanta dor e tantas lágrimas, de semanas em que tive que me acostumar com a perda da minha família e do mundo que eu conhecia, Shawn voltava como um furacão, sacudindo tudo, levando-me da aceitação a um patamar alto de sentimentos.
Eu tive medo de voltar a me encher de culpa. Mas como resistir diante da realização do meu maior desejo? Sabendo quanto estava louca por ele? No fundo, eu achava que não o merecia, que ainda deveria pagar pelas coisas que tinha feito. O problema era que ele despertava em mim algo muito maior.
Paramos em frente à casa dele, e ele abriu o portão sem soltar a minha mão.
Tão alto e lindo, ocupou toda a minha visão.
— Eu tenho cachorros, mas não mordem. Fique tranquila — explicou quando me levou para dentro.
A última coisa que eu estava era tranquila, mas não pelos cachorros. Eram seus dedos entrelaçados nos meus, sua presença, a certeza do que faríamos.
Quando fechou o portão às nossas costas, dois cachorros vieram correndo e latindo. Apertei sua mão, e ele murmurou:
— Calma.
Eles não sabiam se pulavam em Shawn ou me cheiravam. Fizeram festa para nós dois. Relaxei e, quando um deles veio para receber carinho, acariciei sua cabeça. O outro o empurrou, buscando a minha mão. Shawn me olhou, sorrindo.
— São como crianças.
— Como se chamam?
— Apolo e Zeus — disse ele, apontando para cada um.
— Não sabia que gostava de animais — comentei enquanto o seguia em direção à varanda.
Mais uma vez, encantei-me com o casarão.
— Eu gosto. E você?
— Também. Mas nunca tive. Meus pais não gostavam, e Isaque reclamava que o apartamento era apertado — expliquei. — Mas aqui é ótimo para eles. Podem correr, ficar livres e soltos.
— É verdade.
Subimos os degraus da varanda. Era grande, cheia de estofados e plantas. Os cachorros voltaram correndo para o quintal, e Shawn abriu a porta.
— Lá dentro mora a rainha.
— Rainha? — Não entendi, e ele sorriu.
— Você vai ver. Entre, Camila.
Soltou minha mão, e passei na frente dele.
Era a primeira vez em que pisava naquela sala ampla e linda, com piso de tábua corrida, móveis elegantes e confortáveis e um cheiro bom de madeira.
Ouvi miados e me surpreendi quando uma coisinha preta veio em nossa direção. Era uma gata pequena, com pelo arrepiado, e fazia festa como se fosse um cachorro.
— Esta é a rainha Cleópatra. — Shawn sorriu mais, pegando-a no colo. — Não é linda?!
Eu me derreti vendo aquele homem grande, ser todo delicado com a gatinha, que ronronava e esfregava a cabecinha nele.
— Linda demais — murmurei e cheguei bem perto, acariciando a orelha dela. — Há mais animais escondidos por aí?
— Não, aqui termina a minha cota.