proposta ?

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Nana entrou em casa com Sofia que trazia os olhos inchados daquele dia horrível, a casa continuava silenciosa, a biblioteca não mais frequentada exalava solidão.
- Mãe ? posso dormir com você hoje ? essa casa me assusta sem o vovô... - Nana apenas balançou a cabeça em confirmação, o dia tinha sido cheio, ela enterrou o pai e como de costume, precisava de forças para seguir em frente.

Uma semana passou, Nana e Marcos voltaram a editora decididos a reerguer o legado do pai, mas para a surpresa de ambos a situação era pior do que o imaginado, a editora estava a ponto de falir, os livros que estavam para ser lançados não cobririam os gastos e muito menos pagariam os débitos atrasados. A única coisa de valor que o pai deixou foi a casa e uma editora falida, não tinha o que fazer, apesar de nenhum dos dois aceitar a ideia de se desfazer da editora; lugar em que cresceram, lugar onde o pai construiu memórias; era o que restava.

Com tristeza anunciaram que a Prado Monteiro seria vendida, os funcionários tentaram argumentar, achar alguma solução, infelizmente não havia nenhuma; chateada com a única coisa que tinha do pai se perdendo Nana saiu em meio aquele anúncio, Mário sem pensar duas vezes a seguiu preocupado, acelerou os passos até alcançá-la no elevador.

- Eu sinto muito Nana...
- Não sinta, eu vou ficar bem! - Falou fria como sempre falava com o "amigo", o tempo e tudo que ela passou tinham a endurecido.
- Você não precisa ser essa Mariana comigo, eu te conheço bem e sei que você está destruída com tudo isso.
- Agora não Mário, por favor, eu só quero chegar em casa em paz.
- E se eu te disser que eu tenho a solução?
- Do que você tá falando maluco. - O elevador abriu e ela o olhou não entendendo do que o poeta estava falando - Eu não to pra você hoje tá Mário, me deixa em paz.
- E se eu tiver a solução pra você salvar a editora? - Ela o encarrou - Você está interessada?
- Qual solução? - Indagou irritada com a probabilidade daquilo ser uma perca de tempo.
- Eu tenho o dinheiro que vocês precisam, e posso emprestar ou melhor eu posso dar.
- Como que você tem esse dinheiro? Tá louco, você é só um editor.
- Meu pai... me deixou uma herança absurda quando morreu, não faço questão de espalhar e muito menos de usufruir desse dinheiro, o que eu ganho com meu trabalho já está bom pra mim, a gente não precisa de muito para ser feliz.
- Se você tá brincando comigo Mário, olha eu nem sei...
- Não é brincadeira, na verdade é uma proposta.  - Ele a interrompe.
- Proposta? que tipo de proposta seria? Você quer ser sócio?
- Não, quero que se case comigo! - Nana o encarou como se não acreditasse no que ouvia - Se você se casar comigo eu salvo a sua editora.
- Você não tá bem, eu já devia ter imaginado que tudo isso era uma grande besteira. - Diz caminhando até o carro e se distanciando de Mário.
- A proposta está feita, pensa bem Mariana, boa noite! - Ela entra no carro irritada com toda aquela conversa .
- Casamento.... perdeu mesmo o juízo! - Pensava alto enquanto dirigia a caminho de casa.
Ao chegar o vazio daquela casa se juntou ao dela, Sofia estava na casa de Paloma, a pequena evitava a todo custo ficar em casa, estava sendo difícil para ela superar tudo aquilo ainda com a ausência da mãe que se voltava totalmente ao trabalho deixando a menina de lado. Depois de um banho demorado, Nana pegou o celular olhando na barra de notificações que se acendeu, era uma mensagem de Marcos dizendo que Sofia dormiria lá, ela apenas jogou o telefone em cima da cama e abraçou um dos travesseiros deixando a máscara de lado e se entregando ao choro, estava tão infeliz; o trabalho dava a ela um motivo pra levantar e algo em que pudesse se apegar, agora não teria mais esse escape.
...
Amanheceu, Mariana se preparava para a negociação e seu último dia como responsável pela Prado Monteiro, Mário com o intuito de convencer Marcos a aderir a seu plano contou tudo que tinha em mente e que estava decidido a emprestar o dinheiro em troca de se casar com a irmã do amigo.
- A Nana nunca vai aceitar isso Mário, ela nunca gostou de você da maneira que você gosta dela.
- Marcos, você não entende? A sua irmã precisa de ajuda.
- E como você vai ajudar? fazendo com que ela se case com você ? isso é loucura Mário.
- Não é loucura, eu só quero a Nana feliz e se for esse o jeito, eu vou tentar. Eu não vou obrigar ela a ser minha mulher eu só quero tentar conquista-la e se não de certo nos divorciamos, eu só preciso de seis meses pra achar a minha Mariana mole que tá escondida ali dentro.
- Tudo bem Mário, mas acho impossível ela aceitar essa sua proposta.
...
Mario entrou na sala de Nana que arrumava as coisas em uma caixa branca de papelão.
- Então quer dizer que você vai mesmo deixar de ser a dona da editora que você tanto lutou para deixar de pé?
- Eu tenho outra escolha?
- Olha que tem... A minha proposta ainda está de pé.
- Lá vem você uma hora dessas com bobeira Mário, hoje não...
- Tá aqui a prova de que minha proposta é séria. - Ela para de organizar as coisas na pequena caixa e olha o papel que ele a oferecia. - Você não precisa guardar as suas coisas...
- Mário... - Diz após ver o valor que o documento comprovava que Mário tinha - Seria mais fácil acreditar que isso é uma brincadeira, você está querendo me comprar? Você acha que eu me venderia ?
- Não! Não Nana, eu não quis ofender você, só entenda minha proposta.
- Proposta essa que tenho que me casar com você pra salvar a minha editora? Eu só não te expulso daqui porque já não tenho mais esse direito! - Estava furiosa, como ele poderia oferecer algo tão baixo - Você não desiste né Mário? Você não entende que eu nunca quis e nem quero nada com você!?
- Você me entendeu mal, eu só posso receber esse dinheiro se estiver casado, é uma cláusula do testamento... Eu não estaria te comprando, você se casaria comigo por tempo determinado, eu recebo esse valor, você quita a editora e depois a gente se divorcia.
- Isso é loucura Mário.
- Eu estou aqui te oferecendo uma solução, agora é com você. - Ele diz saindo da sala - Vou te dar um tempo para pensar Nana, mas pense bem.
Nana olhou a foto do pai em cima de sua mesa, por um momento sentiu o rosto decepcionado dele a olhando, ele era tão exigente... O que diria agora ela pensou, certamente faria de tudo para não perder a editora. O que faria dali em diante, no que trabalharia, do que viveria, não poderia arriscar o futuro da filha a uma vida incerta.
- Ja está pronta Nana? - Marcos entrou na sala da irmã
- Não...
- Eu sei, é difícil se despedir de um lugar que foi a nossa segunda casa.
- Papai estaria furioso com a gente se ele estivesse aqui... - O olhar dela perdido passeando pela sala trazia lembranças.
- Mas ele não está ... o que torna tudo mais difícil né, vê o legado dele indo embora assim como ele foi...
- Eu não vou deixar Marcos, por mais que eu me arrependa depois eu não vou deixar, não vou decepcionar nosso pai, não dessa vez - Se levanta deixando Marcos sem entender indo em direção a mesa de Mário que estava se arrumando para sair . - Eu aceito!
- O que?!
- A sua proposta Mário, eu aceito!

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