Aline

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*Viva a rivalidade feminina*

...
Uma semana depois de casados, Mário continuava como um estranho para Nana, os dois iam trabalhar em carros separados e ela continuava chateada de por culpa dele, Sofia ter descoberto o casamento da mãe; ela sabia que a filha sofria com a falta de um apoio paterno pelo distanciamento do pai, agora seria mais uma coisa com o que ela teria que lidar depois que finalmente ela e Mário, estivessem divorciados.
...
O pessoal da editora depois de um dia corrido de trabalho, como sempre, saíram para jantar e Mário vivendo praticamente sozinho na mansão, sem ter contato com Nana que falava apenas o mínimo com ele, aceitou o convite dos colegas para o jantar regado a bebidas e papo furado. Ao chegar no restaurante, foi até o balcão pedir a primeira rodada para abrirem o apetite, ouviu uma voz doce lhe dizendo "oi", quando se virou a reconheceu imediatamente.
- Aline!
- Parece que não sou só eu que tenho uma memória boa. - Ela sorriu amigavelmente.
- Está indo pra casa? Tão cedo? - Percebeu ao vê-la com uniforme em mãos.
- Sim, deu meu horário, bom ver você, dessa vez sem o álcool. - Os dois riram.
- Também, obrigado por aquele dia, eu não sou do alcólicos anônimos só pra deixar claro.
- Não imaginei que fosse, mas bem, eu preciso ir, se eu perder o ônibus, vai demorar demais pra pegar outro.
- Você vai de ônibus?
- Sim, meu carro está na oficina, sabe como é.
- Oportunidade perfeita para que eu possa retribuir a carona.
- Imagina, não precisa; você está com seus amigos e deve estar com fome.
- Você também, que tal a gente jantar e depois eu te levar? Resolve todos os problemas, e então?
Mario apresentou Aline a todos que de maneira automática gostaram da meiga mulher.
As únicas pessoas da editora que sabiam do casamento de Nana e Mário eram, além deles dois, Marcos, o que deixou todos animados com a mulher que Mário trouxe a mesa. Em poucos minutos descobriram que a moça era solteira, fazia pedagogia e era apaixonada por livros o que chamou a atenção de Mário; além de ser linda, inteligente e simpática, ela amava ler.
Após o jantar os dois conversavam a caminho da casa de Aline, que beijando o rosto de Mário se despediu entrando em casa, e ao observá-la entrando o poeta se pegou sorrindo. Era tão estranho para ele, nunca tinha se interessado por outra mulher que não fosse Nana e agora, por ironia do destino ele está casado com a mulher que sempre amou e interessado por outra, o que ele poderia fazer se tudo o que recebia de Mariana era desprezo? Tudo o que sempre fez foi amá-la a vida toda e quem sabe agora a vida não lhe tenha tido pena e aberto seus olhos em direção a outro horizonte.
Chegou em casa mais tarde do que costumava chegar, porém tinha algo de diferente, a luz da biblioteca estava ligada e ele ouviu ruídos, ao entrar Sofia chorava com o retrato do avô no colo. A pequena não tratava Mário mal, não gostou muito de saber que a mãe tinha casado com aquele maluco, mas cresceu com a presença de Mário na mansão, por mais que não fosse amigo de Nana sempre esteve por perto, Marcos o tinha como amigo e o considerava como um irmão, até Alberto sentia  apreço pelo atrapalhado escritor, era como se o considerasse pelo menos um amigo da família, o que tornava mais fácil a aproximação da carente menina. Mário perguntou o porque do choro e logo a pequena revelou que era porque seu pai tinha cancelado o final de semana com ela e que se sentia sozinha, com saudades do avô.
- O meu avô era o único que se importava comigo, e eu sinto tanta falta dele. - Mário se abaixou para olhar a menina que permanecia deitada no sofá da biblioteca.
- Tem muita gente que se importa com você, tem a Paloma, o Peter, seu tio Marcos, e a sua mãe. - Ela levantou, colocando os cabelos castanhos para trás ainda segurando o porta retrato com a foto do avô.
- A minha mãe só gosta do trabalho e você sabe disso, porque nem pra você ela dá atenção, eu acho que se eu for embora ela nem vai sentir minha falta. - Mário sentou do lado da menina que tinha lágrimas nos olhos sem perceber Nana chegando.
- Quando a sua mãe tinha sua idade ela me dizia a mesma coisa sobre o seu avô, e eu como conheço ela a muito tempo, posso afirmar que ela te ama muito, só não sabe demonstrar muitas das vezes. - Tirou os óculos dela limpando suas lágrimas. - E se você fugir - Ele sussurrou- Me leva com você ? Porque eu sim vou sentir muita sua falta. - Sofia deu um meio sorriso.
- Você é meio bobo, mas eu gosto de você tio das camisas esquisitas, é bem melhor do que o outro marido da minha mãe. - Pegou os óculos rosas e colocou de volta.
- Fico feliz, E... eu to livre no final de semana, que tal a gente ir acampar?
- Não sei se quero - Ela olhou para ele pensativa com cara de sapeca - Só se você me contar uma história do livro que eu escolher.
- Fechado, mas a gente vai ler lá no seu quarto porque já tá muito tarde e você já devia tá dormindo, se sua mãe acorda...
- Ih nem me fale, vamos antes da fera acordar - Nana que ouvia a conversa com lágrimas nos olhos, saiu voltando ao seu quarto.
Era triste pensar que ela tinha se tornado o pai, que assim como Mário tinha dito estava fazendo a filha passar por tudo que ela passou, se sentia uma péssima mãe, e ter que enxergar isso com Mário em sua casa, tornava tudo mais dolorido, todas as recordações que ele a trazia, coisas que ela já tinha enterrado, doíam, não era fácil ter que manter todo aquele papel de mulher forte e imbatível a todo momento.
...
Amanheceu, como prometido a Sofia antes de que ela dormisse na noite anterior, Mário foi até o quarto de Nana com uma proposta.
- O que é Mário? Estou atrasada . - Falou abrindo a porta, sentando na pequena poltrona para terminar de colocar as botas pretas.
- Eu sei que você é muito ocupada, mas hoje é a primeira aula da Sofia no balé.
- Sim, eu a matriculei, eu sei. - Ela o interrompeu ficando de pé.
- E ela queria muito que você fosse com ela, que a mãe a acompanhasse, sabe, todas as mães vão e... - Nana de costas procurando a bolsa, parou, respirou fundo em meio as palavras exageradas de Mário e lembrou do que ouviu dos dois na noite passada.
- Ok ! - Mário a olhou surpreso - Vou só ligar pra Gisele cancelar algumas reuniões e, peraí, não sei se eu posso cancelar com a...
- Silvana Nolasco? Eu e o Marcos podemos ir encontra-lá - Nana o olhou com o celular na mão, não tinha muita opção, não queria ser igual ao pai, precisava e deveria priorizar sua filha, sabia exatamente como Sofia se sentia. Respirou fundo novamente sabendo que essa era uma exceção que ela precisava abrir em relação a quem ela era, pelo bem da filha e concordou - Tudo bem, só não me façam nenhuma burrada.
- Pode deixar - Ele sorria feito bobo.
- Já pode ir! Só preciso de mais alguns minutos.
...
O momento mãe e filha era realmente necessário, Nana se divertiu como a muito tempo não se divertia e Sofia que sonhava em ter a atenção da mãe, amou a manhã e toda empolgada falava com a mãe sobre o acampamento que ia fazer com Mário. Ao ver Sofia tão feliz, a empresária se deu conta de todos os momentos perdidos com a filha, quis agradecer ao maluco do poeta por abriu seus olhos e também por ser tão atencioso com a pequena, ele não tinha o porque tomar um papel que não era dele, os dois não tinham nada, Mário não precisaria ou pelo menos não tinha a obrigação de ser um "bom padrasto". Pela primeira vez surgiu um sorriso ao ouvir a filha falando de Mário.
- Foi mãe a senhora tem que ver, ele disse que consegue fazer uma fogueira de cor azul, eu quero só ver, vou chamar o Peter ele vai amar, você vem com a gente né mãe?
- Claro meu amor. - Sofia pegou o celular para enviar a novidade para Peter.
- Filha? Você sabe que eu te amo não sabe? - Sofia olhou pra mãe que dirigia.
- As vezes eu acho que não, mas uma pessoa que te conhece desde que você era bem pequena me falou que você me ama e sabe, ele tinha razão. - Ela sorriu.
- Me desculpa por ser uma mãe ruim? - Os olhos de Nana se encheram de lágrimas.
- Você não é uma mãe ruim! Você só não sabe demonstrar que é uma mãe legal, mas eu posso te ensinar - Nana soltou um riso.
- Pode?
- Posso ué, o Mário também pode ensinar, mas eu te amo e nunca mudaría de mãe.
- Que bom meu amor - Ela tirou uma das mãos do volante e acariciou o cabelo da filha.
Nana almoçou com Sofia e logo depois foi para empresa, queria saber como tinha sido a reunião com a Silvana, mas ao procurar por Mário não o encontrou, Gisele a informou de que ele tinha saído para almoçar e que tinha mandado avisar que a reunião foi um sucesso.
Do outro lado da rua, Mário terminava seu almoço com uma companhia que muito lhe agradava.
- Obrigada pelo convite Aline, foi muito bom o almoço.
- Não precisa agradecer, é só retribuir o favor me convidando pra jantar amanhã, é meu dia de folga.
- É que... - Mário queria contar que estava casado, mas do que isso valia? Como dizia Nana, era só um contrato e dentro de todas as "conversas " ela sempre fazia questão de dizer que não era nenhum tipo de relacionamento e que ambos estavam livres, porque ele iria estragar uma coisa que nunca tinha acontecido com ele, que era se interessar por outra mulher?
- Você é daqueles tipos de homens que costumam não aceitar investida de mulheres? Porque sinceramente eu não sei como deixar mais claro que eu gosto de você.
Mário não poderia esconder ou mentir a uma mulher que o transmitia tanta verdade e leveza, contou sobre toda a sua situação.
- Você ainda a ama?
- Eu agora acho que amo uma pessoa que não existe mais sabe, a pessoa que eu amei foi aprisionada por uma que me quer ver o mais longe possível e sinceramente eu amei ela a minha vida toda, pela primeira vez eu me interesso de verdade por outro alguém, que por sorte, também está interessada em mim. Eu gosto de você e não podia esconder isso.
- Essa mulher não poderia ter mais sorte, um homem tão sensível e apaixonado como você, sinto em dizer que tudo o que você me disse só fez com que eu me interessasse mais, sua sinceridade é espantosa- Ela acariciou o rosto dele - Quando você resolver toda essa situação, a gente pode conversar sobre eu continuar paquerando você, até lá eu não quero deixar de conversar.
- E nem eu, conversar com você me alegra o dia. - Mário sorriu pegando a mão dela e beijando.
Nana viu da sua sala uma certa agitação, quando abriu a porta viu Mário constrangido "eles estavam de mãos dadas, trocando carinhos, eu acho que dessa vez o poeta achou a musa dele" "finalmente né Mário" "Aline é um belo nome pra musa".
- Então esse é o motivo do atraso?! - Todos se calam ao perceber a presença de Nana.
- Desculpe o atraso Nana, não vai se repetir - Diz indo até a mesa dele.
Nana o olha incomodada e volta até a sua sala chamando Gisele.
- Gisele, quem é Aline?
- Desculpa Nana?
- A mais nova... "musa do Mário" - Fala contrariada.
- Ah sim, ela é a moça que trabalha no restaurante aqui da frente, muito bonita, gentil e ...
- Não pedi as qualidades dela, faz tempo que o Mário conhece ela?
- Não, faz alguns dias, pelo menos que ele apresentou pra gente, faz alguns dias.
- Ele apresentou ela pra vocês? - Se exaltou um pouco.
- Sim... Qual o problema? Eu acho ótimo o Mário encontrar alguém, assim ele sai do seu pé de vez né.
- Nenhum, como você disse, é ótimo! Pode sair agora, obrigada.
Nana estava furiosa, como ele podia estar com outra pessoa estando casada com ela? Apresentando a todos como sua "musa", como ele dizia que a amava em um dia e no outro... Ah, mas isso não ia ficar assim, Nana estava disposta a colocar toda essa história a limpo.

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