Mário entrou na sala de Nana e os dois conversaram sobre como seria aquele acordo. Era necessário o casamento para que pudessem ter o dinheiro, começariam por aí.
- Então é isso, vamos ao cartório e nos casamos, precisamos apenas das testemunhas certo? - Disse friamente o olhando com um dos braços encostados em sua mesa.
- Calma aí Nana, primeiro tem que marcar uma data no cartório para que isso aconteça.
- Você sabe que não temos todo esse tempo não é?
- Faz assim, você da a casa como garantia de que vai pagar a dívida e ganhamos tempo.
- A casa? Mário a casa é tudo que temos eu não posso me desfazer dela.- O encarrou
- Você não vai! quando sair a data nos casamos e pagamos a dívida.
- Porque eu continuo achando tudo isso tão errado? - Suspirou preocupada.
- Vai ficar tudo bem! - Eles se olharam - Deixa que eu solicito uma data amanhã e você cuida dos cobradores, tudo bem? - Ele soltou um sorriso bobo.
- Tá rindo de que maluco ? - Nana Sentou colocando a bolsa em baixo da mesa que estava uma bagunça, cheia de caixas.
- Lembra de quando estávamos voltando da escola de bicicleta? você estava indo rápido demais e eu vinha logo atrás...
- Devagar, porque tinha medo de cair - Ela o interrompeu.
- Não, eu só tinha cuidado, enfim, você caiu e ficou desesperada porque além do joelho ralado a sua bicicleta tinha quebrado a cestinha, você ficou preocupada dizendo que seu pai ia te da uma bronca daquelas e eu concertei a cestinha e ainda fiz um curativo no seu joelho.
- E me disse que ia ficar tudo bem... - O olhou com nostalgia e ele sorriu - E ficou...
- Seu pai até elogiou sua coragem por não ter chorado com o machucado.
- É..
- Eu só queria que você confiasse um pouquinho do que aquela garotinha confiava em mim, aquela Mariana...
- Tudo bem Mário, mesmo achando isso tudo um absurdo eu vou confiar em você; e aquela Mariana, por quem você era apaixonado...
- Sou! - Ele a interrompeu.
- Era! Porque aquela Mariana não existe mais, e a nossa amizade não pode ser a mesma porque eu não sou a mesma, a vida muda a gente poeta. Eu sei que é difícil você vê isso porque vive nesse seu mundinho de contos e camisas coloridas, mas as coisas mudam e eu espero que não haja nenhum tipo de esperança no que eu concordei em fazer, porque é absolutamente pela empresa e pela minha família que eu farei isso, agora se você puder me dá licença eu vou ligar para os nossos cobradores.
Mário saiu da sala cabisbaixo, pensou que precisaria de muito mais paciência para conseguir o que queria, respirou fundo e voltou ao trabalho.
...
Os dias se passaram, Nana procurava falar apenas o necessário com Mário, sempre deixando claro que ali não tinha mais uma relação de amizade e muito menos qualquer outro tipo de coisa que ela sempre soube que ele sonhava em ter; ficaria difícil depois de casados, mas estava tudo planejado, iam se casar no papel apenas, como em uma negociação.
Mário a fazia se sentir irritada, estar com ele depois de tudo que aconteceu com ela; depois que a mãe morreu e ela teve que desistir dos sonhos pela família, para criar a filha, depois de todas as tentativas falhas de um casamento; a fazia voltar ao seu passado e com isso vinha as frustrações, por isso, com o tempo ela se afastou. Mário estava ali em busca da amiga e da amizade sempre que podia, ela apenas queria distância e hoje os dois pouco se falavam, o que maltratava demais aquele poeta.
Conseguiram uma data bem próxima, os cobradores concordaram recebendo a casa como garantia, o dia do casamento estava chegando e diferente de Nana, Mário estava ansioso.
- Acho tudo isso uma loucura Mário, você sabe que eu te amo né e o que você vai fazer por nós é mais do que qualquer outra pessoa faria, mas esse seu plano que eu na verdade ainda não entendi, é louco.
- O que séria do mundo sem a loucura meu amigo. E não é um plano, é apenas uma tentativa e se não de certo, não perco nada salvando a editora, para mim vocês sempre foram minha família. - Digitava em sua mesa enquanto Marcos, sentado no sofá da sala de Mario, olhava o celular.
- Bom eu tenho que ir buscar a Paloma, eu só posso te desejar sorte meu amigo.
- Amanhã às 9hrs Marcos, você e a Paloma no cartório.
- Você como noivo vai de terno? Tenho que arrumar um? Sua noiva deve estar radiante, já a imagino de vestido branco.- Ele riu e Mário o olhando também riu de modo debochado - Pode deixar amigo, a partir de amanhã seremos cunhados.
- Você pode avisar a Nana que aquela nossa reunião com o advogado é hoje à tarde? - Marcos já estava na porta e saindo acenou com a cabeça concordando.
Nana tinha milhares de coisas para resolver naquele dia, olhou no celular e lá estava uma mensagem de Mário dizendo que a esperava no estacionamento, para irem a reunião com o advogado responsável pelo testamento, no qual eles iam se beneficiar. Foram juntos no carro de Mário, se apresentaram, o advogado leu todas as condições estipuladas a entrega dos bens e como Mário tinha dito, ele precisava realmente se casar para possuir o valor e os bens, o que nenhum dos dois sabia é que precisavam ficar casados durante um ano, com provas de que o casamento era de fato verdadeiro. Nana ao ouvir o advogado falar "casados durante um ano", se exaltou, como precisariam de "provas" para saber que o casamento era real? Ele não ia ser real! E agora não tinha como voltar atrás, sua casa estava como garantia, se ela desistisse, perderia tudo.
- Sim, como eu falei para a senhora, aqui pede explicitamente para que essas cláusulas sejam cumpridas. Um ano de casamento comprovado e como ordenado eu preciso antes de entregar os bens, ter a certeza de que o casamento é real, foram as exigências do senhor Vianna. - Entregou o documento a Mário.
- Você sabia disso Mário? - Ela indagou.
- Não Nana, isso também é novidade pra mim, eu nunca fui muito interessado no que um pai que mal me criou, tinha deixado.
- Não entendo e nem vejo problemas, vocês iram se casar não é ? A não ser que planejem se separar em menos de um ano, está tudo dentro dos conformes.
- É claro, está tudo certo, não planejamos nos separar nunca não é meu amor ?! - Mário a olha sorrindo - Alguma exigência a mais?
- Não, apenas essas e que eu irei acompanhar vocês até que os bens sejam definitivamente entregados ao senhor.
- Acompanhar? - Nana estava buscando em sua cabeça uma saída para aquilo que se tornará mais um de seus problemas, como assim ele iria vigia-los?.
- Sim, como manda o documento, comprovar que todas as exigências estão sendo cumpridas os visitando e participando da vida de vocês, é claro.
- Claro... - Ela encara Mário - Eu e Mário apressamos esse casamento porque precisamos de um valor para uma emergência de família e...
- A dívida da empresa da sua família, eu sei. Aqui está um acordo.
- Mas eu não contei sobre... - O advogado interrompe Mário.
- Eu pesquisei senhor Vianna, eu sei tudo a seu respeito e como pode ver no documento que está em suas mãos, podemos fazer um empréstimo com a casa de garantia, já que os bens só serão seus daqui a um ano. Acredito que isso resolva seus problemas.
- Tira a casa das mãos dos cobradores...
- E coloca nas mãos do meu falecido pai - Mário olha o advogado um pouco contrariado imaginando o que Nana faria com ele após aquela reunião.
- Exato, de qualquer modo continua sendo de vocês já que vão estar em um casamento.
- "de vocês ".... - Nana sussurra respirando fundo e imaginando mil maneiras de acabar com Mário. Como ele poderia ter metido ela naquela enrascada, agora ela precisaria casar com um homem que ela não aguentava ficar na mesma sala, que a martirizava com um passado que trazia frustrações além de não poder ter o controle sobre sua editora, parecia um pesadelo.
Saíram em silêncio, ao entrar no carro Mário tentou falar, mas Nana o ignorou completamente, podia se sentir a raiva que ela transmitia, ela estava oficialmente se vendendo, se sentia como se tivesse comprado algo e ao abrir era totalmente diferente do que tinha pedido, se sentia enganada e por mais que quisesse brigar preferiu permanecer em silêncio, assim foi até a entrada da mansão onde pegou sua bolsa e desceu do carro cor de vinho que o poeta dirigia.
- Amanhã às 9hrs, não se atrase. - Ela disse a ele friamente.
- Então você quer continuar?
- E eu tenho outra escolha? Só quero deixar claro que nada mudou, não sei como será, mas não posso perder minha casa e MINHA editora, então até lá preciso convencer alguém de que estou me casando com você por vontade própria, até eu arranjar outro jeito pelo menos. Se vamos nos casar, provavelmente vamos ter que morar na mesma casa, então se prepare porque eu não vou pro seu apartamento, você vai dormir no quarto de hóspedes.
- Então você pensou em tudo...
- Não, queria ter pensando em uma forma de não passar por tudo isso, mas infelizmente eu acho que não há.
- Te parece tão horrível assim a ideia de conviver comigo?
- Sim e por isso vou evitar o máximo que eu puder "conviver " com você, boa noite Mário.Mário pensou em ir para casa, mas sabia que não ia conseguir dormir, a história toda tinha ido longe demais, como ele poderia pensar que o final daquilo seria bom? Não tinha nem começado e Nana já o odiava mais que antes, como acreditar que aquela mulher que Nana tinha se tornado, poderia mudar ou tirar o que ele apenas chamava de "capa". Pensará estar enganado e que sim a sua Mariana mole meiga, sonhadora e feliz não existia e que havia se perdido a muito tempo. Parou em um bar e bebeu, bebeu cansado de amar a vida toda e nunca ser correspondido e no fim da noite, já sem poder caminhar normalmente foi em busca de um táxi; como sempre consciente sabia que não estava em condições nenhuma de dirigir e em uma tentativa de atravessar a rua, quase foi atropelado.
A motorista saiu do carro pedindo desculpas por estar distraída, mas ao perceber que Mário estava bêbado, se calou e ofereceu ajuda o levando até em casa.
- Já chegamos? - Ele levantou a cabeça ainda meio tonto.
- Sim, está entregue, tome cuidado andando por aí Mário. - Ela sorria a ele.
- Se for pra ganhar esse tipo de carona eu até deixo ser atropelado - Ele brincou - Mas como você sabe meu nome?
- Eu trabalho no restaurante do outro lado da editora, que eu acho que você trabalha, você foi lá algumas vezes com seus amigos, sou boa de memória.
- Então, prazer ...
- Aline, me chamo Aline. - Sorriu a ele de maneira doce.
...
9hrs am, todos já estavam no cartório, os próximos a serem chamados eram Nana e Mário e o poeta ainda não havia chegado.
Nana ligava para ele disfarçando a irritação, que o querido advogado Marques estava lá para "acompanhar" o casamento. Não demorou muito e Mário chegou, cumprimentou todos e sentou ao lado de Nana esperando a hora de assinar o "contrato", ou melhor, os papéis do tão "feliz casamento".
Após assinarem junto com Marcos e Paloma o juiz os declarou casados, senhor e senhora Vianna.
- Não tem nenhum beijinho? - Advogado Marques perguntou curioso enquanto Nana se virou para Mário o encarando.
- Claro - Ela Sorriu - Vem amor - Ela chamou Mário e se aproximou do poeta constrangida - Só um beijinho... - Ela deu um selinho nele o que não foi bastante para o senhor Marques e nem para Marcos, que se divertia com toda a situação.
- Ah não maninha, um beijo de verdade né, igual aqueles que vocês dão lá na editora - Mentiu, rindo e debochando, Nana que se virou novamente para o poeta.
- Calma - Ele colocou a mão quente no rosto dela - É só um beijo - Ele sussurrou a ela
- Anda logo, acaba com... - Antes da morena acabar a frase, Mário a puxou e a beijou, ele foi lentamente sentindo o gosto da boca de Nana pela primeira vez e pra ele era um sonho, mas sabia que para ela não era o mesmo, então em segundos, deixou a intensidade de lado e encerrou o beijo, de maneira que fosse natural beijar aquela mulher.
- Felicidades - Doutor Marques a cumprimentou.
- Obrigado - Ela falou ainda se acostumando com o fato de ter beijado Mário, não deveria ter sido... Ruim? Pensava ela, o melhor seria esquecer e não colocar coisas em sua cabeça, já tinha problemas demais,a carência a tinha deixado sensível, não tinha nada haver com o beijo dele, jamais gostaria de um beijo dado por um homem que vestia camisas coloridas e recitava poemas cafonas até dormindo.
Como era domingo Nana não tinha para onde fugir, mostrou o quarto onde Mário ficaria e falou a filha que ele apenas ia ficar uns dia com elas, não disse e pediu para que ninguém contasse a Sofia o fato da mãe ter casado. Se trancou em seu quarto para terminar de revisar contratos e por lá ficou o dia inteiro. Mário chegou à noite com o restante das suas roupas e livros, no caminho do quarto, viu Sofia na biblioteca sozinha, foi até ela que olhava o espaço atentamente.
- É bem grande aqui né... - Mário sentou do lado da pequena.
- Sim, era o lugar preferido do meu avô, sabia?
- Sabia, quando eu era pequeno ele lia histórias pra mim, pra sua mãe e pro seu tio Marcos, ninguém contava histórias como ele...
- É verdade - Sofia suspirou pegando o livro que havia deixado no sofá com a intensão de sair.
- Eu não sou o comandante e eu não sei contar histórias como ele, mas eu sei de umas ótimas que ele me contava, você quer ouvir?
- Quero sim - Ela Sorriu a ele - Minha mãe disse que ia ler uma história pra mim hoje, enquanto ela não vem você pode me contar algumas.
- De acordo - Eles sentaram no sofá marrom no meio da biblioteca.
- Primeiro me conta, porque você usa essas camisas tão coloridas? - Ele riu.
Mário contou várias histórias e quando se deu conta Sofia dormia encostada no sofá, ele a pegou e levou em direção ao quarto cor de rosa a colocando em sua cama, a pequena exalava carência. Antes de Mário chegar até a porta para sair, Nana entrou no quarto e se assustou ao vê-lo.
- Que susto, você já voltou...
- Sim, esposa.
- Shiiii a Sofia ! - Olhou a filha que dormia.
- Ela está dormindo, não se preocupe, não vai saber que agora eu sou o padrasto dela. - Ele a provocou.
- Padrasto? O tio das camisas esquisitas é meu novo padrasto? - Sofia indagou sonolenta.
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Contrato
RomanceA editora que Nana dirige está a ponto de ir a falência, seu pai morreu deixando ela e o irmão administrando o patrimônio que se encontrava cheio de dívidas, e sem encontrar outra saída para salvar o legado de seu pai a executiva aceita uma proposta...