~ ~- Nana já chega né, não era nem pra você está bebendo. - Pegou a garrafa da mão dela. - Te trouxe aqui pra você se sentir melhor.
- Minha mãe morreu Mário, como vou me sentir melhor? Me deixa em paz - Pegou a garrafa da mão do poeta. - Tá, me desculpe, você é meu melhor amigo, me tirou daquele velório depressivo e eu sendo uma idiota com você, só me deixa esquecer um pouco, esquecer o fato de que não terei a pessoa mais importante da minha vida do meu lado logo agora eu eu descobri que estou grávida. - Abaixou a cabeça sentando na barraca.
- Ei, eu só quero seu bem e eu estou aqui, sempre estarei.
- Então esquece comigo? - Oferece a garrafa a ele. - Bebe comigo, estamos seguros aqui na barraca, o bebê vai ficar bem - Sorriu tentando convencê-lo, sabia que Mário não resistia a ela.
- Tudo bem.
Os dois beberam e conversam olhando as estrelas durante a noite, Mário se sentia a pessoa mais feliz do mundo ali deitado ao lado de sua Mariana.
- Mário, você acha que eu serei uma boa mãe? - Ela colocou a cabeça em cima do peito dele em uma posição que pudesse olhá-lo.
- Tenho certeza que vai ser uma mãe maravilhosa. - Tirou os cabelos cacheados e longos dela de seu rosto. - Você é a pessoa mais sensível que eu conheço.
- A única que aceitava a minha arte era minha mãe Mário, não quero ter que deixar meus sonhos, meu pai nunca me entendeu e quando ele souber que estou grávida... - Deitou se afagando no peito do jovem Mário.
- Mesmo que todos sejam contra você eu vou estar do seu lado, tudo que você decidir eu vou te ajudar, tudo vai se resolver Nana.
- Porque você tem que ser tão cafona? - Sorriu se levantando. - Não vou desistir dos meus sonhos, vou criar minha filha e continuar fazendo minha arte nem que meu pai me expulse de casa e eu vá vender meus quadros na praia.
- Vai fazer muito sucesso, porque eles são espléndidos.
- De você não vale hippie cabeludo, você me ama. - Brincou com o amigo - Toca a nossa música? Em homenagem à minha mãe?
Mário pegou o violão e começou a cantar Um Amor Pra Recomeçar, Nana aconchegou a cabeça no ombro do poeta fechando os olhos e imaginando a mãe em sua memória. Continuaria com seus sonhos e planos por aquele bebê em sua barriga, sabia que poderia ser difícil por conta do pai, mas não poderia deixar de lado sua liberdade e felicidade, abriu os olhos e observou Mário e sorriu, saber que poderia contar com aquele maluco a deixava feliz.~~
...
- Não tenho como esquecer...
- Estava lembrando da sua mãe? - Mário perguntou e desceu sua mão até a mão de Nana, que se encontrava gelada pelo frio da noite.
- Também, aquela menina esperançosa realmente existiu? Eu tinha certeza de que continuaria com meus planos, mas... Meu pai adoeceu, o Marcos foi embora, o que eu podia fazer? Se eu não cuidasse do meu pai e da editora quem cuidaria? E no final meu pai morreu, perdi a editora, sou uma péssima mãe... Do que me serviu deixar meus planos de lado? De que me serviu me transformar nessa mulher? E pensar que aquela menina era tão feliz, toda aquela liberdade sabe, me dói porque eu me sinto presa... - Respirou fundo e deitou olhando o teto da barraca, evitando deixar as lágrimas caírem.
- Nana, nunca é tarde, aquela menina existiu sim, por causa das circunstâncias você se afastou dela, e agora eu vejo que ela ainda está aí dentro.
- Será? - Se virou o olhando. - Me ajuda? - A carinha dela fez com que Mário soltasse um leve sorriso.
- Lembra como eu fazia você dormir? - Nana sorriu. - Vira - Começou a acarinhar os cabelos da morena. - Com os cabelos cacheados era bem melhor.
- Ainda são cacheados Mário, só não tenho mais tempo de cuidar daquele tanto de cabelo que eu tinha.
- Continuam sendo lindos...
Em meio a conversa Mário percebeu que Nana havia dormido, pegou o coberto que estava dentro da bolsa e colocou sobre ela, fazendo com que a morena se virasse e encolhesse abraçando ele, tentou se desvencilhar dela apesar do saco de dormir ente eles, mas não conseguiu e admirando aquela bela mulher dormindo, agarrada em seu peito, sentindo o cheiro doce de seu perfume, também dormiu.
Pela primeira vez em anos Nana deixou seu escudo de lado, todo aquele ambiente tinha realmente mexido com ela, a lembrança da mãe e de toda a vida planejada e deixada de lado, doía, precisa respirar um pouco de liberdade, a prisão que era sua vida a estava sufocando.
...
- Eles estão dormindo agarradinhos Peter - Sofia sorriu. -
- Ué Sofia eles são casados né?
- Sim, mas nunca vi eles assim.
Nana ouviu o sussurro das crianças, percebendo que a morena tinha acordado saindo apresadas, olhou para o lado e viu Mário dormindo, percebeu que estava abraçada a ele e se afastou rapidamente, o momento de noite passada que ela chamava de fraqueza não iria se repetir, saiu da barraca, se arrumou e em vez de pegar seu notebook pensou em passear com as crianças, queria estar perto da filha, de alguma forma a lembrança da mãe a despertou ou pelo menos acordou uma parte da Nana do passado.
Sofia acordou Mário avisando que iriam até o lago, o poeta ao ver Nana se distanciando com as crianças lembrou da noite e da conversa, a sua Mariana continuava a mesma, estava ali, apesar da barreira continuava ali; sabia que a mulher era durona então decidiu não comentar sobre e continuar tratando ela da mesma maneira, sem gracinhas ou qualquer outra coisa, quem sabe assim ela se mostraria mais e ele poderia ter a oportunidade de ver a Mariana que ele tanto amava.
Almoçaram antes do último passeio da tarde, Mário logo depois marcou de fazer uma pequena trilha com Sofia e Peter, enquanto Nana aproveitando o silêncio, tentou pegar o computador e terminar o trabalho, mas a imagem da mãe dizendo "Eu acredito tanto em você minha filha, você é minha pequena artista, siga seus sonhos meus amor, apenas seja feliz." Pouco antes de morrer a tirava do foco.
- Não consegui mãe... - Nana sussurrou.
- Falando sozinha mãe?
Nana se assustou com a chegada dos três, guardou os pensamentos para si e fechou o notebook, estava na hora de voltarem para casa.
Mário não tocou no assunto e muito menos puxou outro, permanecia o mesmo de antes da viagem, todo esse tempo demonstrando o seu amor não havia dado em nada, quem sabe não era hora de mudar a tática.
Ao chegarem em casa, Nana percebeu que o cobertor de Mário estava em sua coisas, foi até o quarto do poeta, bateu e sem ter uma resposta entrou, ouviu o barulho da água, imaginou que ele estivesse no banho, se aproximou da cama para deixar o coberto em cima e viu o celular do homem tocando, 'Aline' era o nome do chamador, se encheu de raiva, deslizou recusando a chamada.
- Nana? - Mário saiu com a toalha enrolada em si, escondendo apenas sua masculinidade. - O que faz aqui? Esse é meu celular? - Chegou perto dela que sem entender, tremeu.
- Si... sim, eu vim deixar seu coberto, eu bati mas... - Mário olhou o celular na mão dela. - O celular estava caído, aqui no chão e eu peguei.
- Entendi, obrigado, você pode me dar licença, é que eu estou com um pouco de pressa.
- Você... Vai sair? - Caminhou até a porta na qual ele a guiava.
- Sim, Boa noite Nana. - Fechou a porta - É impressão minha ou ela parecia... Enciumada? Não Mário, você está viajando poeta. - Sorriu.
Nana entrou em seu quarto furiosa; Sofia e Peter já dormiam, estavam cansados da viagem; a morena foi até o banheiro, seus pensamentos eram só um, ele disse que não tinha nada com Aline e agora se arrumava apressadamente para encontrá-la?
- Deve estar indo ao encontro dela, porque mais ela ligaria. - Passava seus cremes noturnos com raiva.- Será que ela sabe que ele é casado? Safado, não deve ter contato a ela, mas eu não me importo, ele que fique com quem ele quiser, poeta maluco. - Deitou na cama furiosa apagando o abajur.
Era madrugada quando Nana ouviu um barulho no corredor, foi até lá ver o que era com medo de que pudesse ser alguém querendo assaltar a casa, se preocupou pela filha.
- Mário? Você está bêbado? - Acendeu a luz e o viu andando torto.
- Oi Nana, eu só estava indo DOrmiR...
- Meu Deus, você está péssimo! - Antes de terminar a frase ela viu o homem cair. - Mário! - Foi até ele tentando levantá-lo. - Eu não acredito que estou te ajudando depois de você chegar em casa nesse estado, a essa hora e ainda por cima estando com outra mulher.
Mário olhou para ela e sorriu.
- Ainda por cima ri de mim, talvez eu mereça.
Ela o ajudou a levantar, antes de chegar na cama, ele vomitou fazendo com que Nana revira-se os olhos; mudando de destino, levou o homem até seu quarto tirando seus sapatos e direcionando o poeta até o chuveiro.
- Eu to de roupa Mariana, aí a água tá gelada.
- Tá gelada? Ótimo! Fique aí que eu vou pegar uma roupa pra você se trocar e tirar esse fedor, eu não sei o que deu em você Mário, nunca bebeu mais que dois copos, sinceramente.
...
A noite de Mário havia sido frustrante, Marcos havia brigado com Paloma e estava com medo de perdê-la, então ligou para o amigo. Mário sofria com sua dor diária que era amar Nana e para compartilhar com o amigo, bebeu mais do que devia, antes que ele pudesse falar algo, Marcos decidiu ir atrás de Paloma deixando Mário sozinho, o poeta não poder ir atrás da mulher que ele queria, machucava, não poderia ir atrás de alguém que nunca foi seu, então bebeu mais ainda, mais do que ele costumava, como todas as vezes que sofria por amar demais.
...
Nana foi até ao quarto de Mário procurando por roupas que ele pudesse colocar facilmente, o quarto estava inabitável, o fedor do vômito a fez entrar com rapidez, ao revirar as roupas de Mário viu um desenho, não poderia ser ela, como ele tinha aquele desenho.
- O primeiro desenho que eu fiz... - Enrolou e guardou no bolso do seu roupão. - Essas devem servir.
Levou as roupas até seu quarto entregando a Mário que já estava quase seminu; ao terminar ele saiu do banheiro quase tropeçando.
- Não da pra dormir no seu quarto Mário, amanhã vou pedir que limpem, você já comeu alguma coisa?
- Não se preocupe, eu estou bem, eu vou...
- Dormir, vem - Colocou ele no sofá preto que tinha do lado de sua penteadeira. - Porque você bebeu tanto hein? A sua musa te deixou assim?
- Não é culpa dela, acho que a culpa é minha por querer uma mulher tão linda - Sorriu a Nana que fechou a cara ao ouvir Mário dizer aquilo, pensou que ele falava de Aline e teve certeza de que o poeta estava apaixonado, tentava entender porque aquilo a incomodava tanto, o fato de que ele estava com outra, sofrendo por outra estando casado com ela. - Acho que ela nunca vai me amar como eu a amo. - Mário procurou o olhar de Nana.
- Sinto muito, durma um pouco e me deixe dormir também, amanhã acordo cedo. - Tentou levantar, mas ele impediu a puxando, fazendo com que ela caísse sobre ele.
Nana sentiu seu corpo aquecer estando tão perto de Mário, que inferno estava acontecendo com ela? Porque estava sentindo tudo aquilo? Seu olhar permanecia em Mário que olhava cada parte do rosto dela, o poeta levou seus dedos até a pele morena do rosto dela, acarinhando cada parte fazendo com que ela fechasse os olhos.
- Ela é tão linda, sonho em te-lá mas nunca serei correspondido.
Dita essas palavras, Nana levantou se recompondo, o medo de tudo aquilo que sentiu era aparente, não podia estar sentido nada por aquele maluco, se enfureceu novamente naquele dia por ouvir palavras sobre o que ela pensava ser referente a Aline "outra mulher com quem ele passou a noite", como estava sendo idiota, só podia estar louca.
- Pare de falar bobagens, vá dormir Mário - Apagou a luz. - Boa noite.
Se odiava e procurava desculpas para aquele aparente desejo, a anos não era tocada por nenhum homem, desde que se separou do marido e até bem antes disso, o sexo era algo de rotina, uma rotina meio falha e que não a satisfazia, talvez nunca ninguém tinha tocado Nana com amor e quem sabe por isso se sentisse tão carente e vulnerável. Precisava se afastar de Mário antes que a "carência"; que depois de muito rolar na cama imaginando ele ali do lado; nomeada como o sentimento que a aterrorizava.
Nana era imatura com seus sentimentos, amadureceu rápido profissionalmente, mas em relação aos seus sentimentos era uma menina, sem experiências de como se ama e se é amada de verdade.
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Contrato
RomanceA editora que Nana dirige está a ponto de ir a falência, seu pai morreu deixando ela e o irmão administrando o patrimônio que se encontrava cheio de dívidas, e sem encontrar outra saída para salvar o legado de seu pai a executiva aceita uma proposta...