Capítulo 5

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Sem dúvidas foi um momento constrangedor. Quantas pessoas se atiram em cima de um desconhecido do nada, sem terem nem mesmo uma gota de álcool no sangue como desculpa? Foi um beijo bem estranho, provavelmente pelo olhar de susto que ele tinha e a nossa falta sincronia totalmente óbvia.

O lado positivo é que durou pouco e o negativo é justamente que durou pouco e agora eu tinha que dizer alguma coisa, de preferência, sem parecer uma maluca. Ficamos nos encarando por um tempo até a chegada inevitável da minha mãe e amada priminha.

— Só entra no jogo, por favor. — eu sussurrei em seu ouvido antes de nos separarmos.

Acho que assisti à filmes de gângsteres demais, pois era como se eu fosse o seu superior lhe dando uma ordem irrecusável, porque ele simplesmente balançou a cabeça para cima e para baixo com aquela cara de perdido, como se estivesse prestes a embarcar numa missão suicida. Bem, de certa forma poderia até ser.

— Lili, filha, você não vai nos apresentar? — pela primeira vez na minha vida acho que deixei minha mãe sem graça.

— Claro! Mãe esse é o meu namorado... Ele é...

Eis o problema de apresentar um estranho para a família, você nem ao menos sabe o nome dele. Virei-me com um sorriso de socorro para o homem ao meu lado, e por um momento achei que ele iria abandonar o barco e sair gritando, até que ele assumiu as rédeas da encenação.

— Sou o Nicolas, mas pode me chamar de Nic ou Namorado, como essa coisinha linda me chama, Amoreco?

Alguém podia me matar agora! Coisinha linda? Amoreco? Só para os meus ouvidos isso soava como um pagode piegas? Ninguém nunca acreditaria que eu tivesse algum tipo de relacionamento com esse cara! Já até podia ouvir as acusações humilhantes que viriam em segundos.

— É um prazer Nicolas, ouvimos falar muito de você! — bem, talvez a minha mãe acreditasse.

— Mas que bonitinho! Vocês se tratam como Namorado e Namorada!

Mas não a minha prima. Claro que ela desconfiaria do fato de eu estar tão bem amorosamente como ela, com seus affairs milionários.

— É um título muito bonito e gosto de expor que estou com a... Mulher mais incrível que eu já conheci! — ele passou um braço ao redor dos meus ombros.

Se esse cara não era um ator, ele deveria ser. Eu quase acreditei nessa declaração, só espero que ninguém perceba a nossa falta de conhecimento, principalmente dos nomes.

— Uau! Acho que você tirou a sorte grande aqui, Lili!

Pela cara de felicidade da minha mãe, ela estava até planejando o casamento. Maravilha alguém acreditou! Mas por outro lado, a Gabriela encarava o pobre coitado ao meu lado como se ele fosse coco de cachorro na calçada.

— Que nada, senhora! Fui eu quem ganhou na loteria com ela!

— Vamos parar com essa coisa de senhora, pode me chamar de Estela ou Sogra se preferir!

Ele abriu um grande sorriso, daqueles de dar inveja aos comerciais de pasta de dente. Se eu tivesse contratado o cara não seria tão perfeito, mesmo eu me borrando de medo de tudo dar errado. Sabe aquela coisa do improviso, às vezes ela funciona. E já que o clima no ambiente era relaxado eu diria que o improviso foi infalível.

— Será um prazer, Sogra. Mas eu acabei de chegar de uma viagem e queria dar uma palavrinha com a minha namorada aqui, se é que me entendem...

— Viagem de quê Nic? — se não fosse pela minha tia, eu juro que a Gabriela já teria ido dormir com os peixes.

— Viagem de negócios. Cheguei mais cedo para uma surpresa e encontrei a... Lili aqui no hotel, a saudade foi muito grande para esperar. — ele me agarrou pela cintura, possessivamente. — Agora, se vocês nos dão licença...

Nesse momento eu me senti como um condenado no corredor da morte sendo arrastado para o fim. E a pior parte era que eu tinha acabado de apresentar o carrasco para a minha mãe.

Ele me levou para o lobby do hotel, num canto solitário. Pela primeira vez na minha vida, eu não tinha como explicar uma história, e estava começando a entrar em pânico por não tem palavras para essa confusão toda.

— Moça, será que você pode me explicar algumas coisas?

O ar deixou os meus pulmões e derramei tudo de uma vez.

— Começou com uma mensagem, aí veio a reunião da família e a minha prima e a minha mãe estavam falando e eu sem querer, foi mesmo sem querer, disse que eu tinha alguém, e daí ela ficou feliz e eu não podia voltar atrás e dizer para lambisgóia que tem o meu sangue que era mentira, daí minha mãe ligou daqui e pediu ajuda, então eu vim paguei a conta e te agarrei e você sorriu para elas e elas acreditaram. Ai meu Deus eu beijei você! E se você for casado? Aposto que você tem um filho te esperando e eu te ataquei! Deus, Deus, eu sou uma destruidora de lares!

— Uou! Moça respira que eu não entendi nada!

— Mas eu já falei tudo! E eu nem sei o seu nome!

— Então vamos às apresentações. Meu nome é Nicolas Azevedo, e você é a Lili?

— Lilian Medeiros. — eu estendi minha mão e ele aceitou.

— E agora me responde uma coisa, eu sou o seu namorado?





Trato Feito #1 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora