Sempre fui uma pessoa organizada. Minhas tarefas são listadas em ordem prioritária, minha mesa é milimetricamente arrumada e muitos dizem até que sofro de alguma doença, mas só acho que as soluções dos problemas são mais visíveis quando se tem ordem. A matemática demonstra isso, se você não segue a ordem dos símbolos, seu cálculo estará errado.
E eu não gosto de errar. Então, comecei a listar minhas pendências em busca de uma solução.
1º Encontrar uma maneira de ganhar o caso celebridade e rir na cara do Beto.
2º Dar um jeito na confusão do namorado inexistente sem deixar a minha querida priminha feliz com isso.
3º Sobreviver a mais uma reunião com a família e bolar novas respostas para as perguntas clichês dos meus tios.
4º Levar o carro para a revisão.
5º Comprar papel higiênico (na verdade acho que esse deveria ser o primeiro item).
Mesmo com a lista feita, eu não tinha ideia de como encontrar a solução para as três primeiras tarefas e isso raramente acontecia — ênfase no raramente — mas, quando acontecia, só existia uma pessoa a quem eu recorria, e ela estava na minha discagem direta do celular.
— Me diz que você achou um velho bilionário e que ele quer me adotar, porque estou pensando em mudar de profissão! — a voz do outro lado da linha era puro desânimo.
A Bia era assim, sempre após uma sessão com um paciente, ela ficava num estado de melancolia e acidez irônica que afugentava qualquer ser vivo há quilômetros de distância. Ela dizia serem ossos do ofício, pois ser psicóloga requer sentir além de você para entender o outro e muitas vezes você se depara com sentimentos negativos. Mas, eu estava desesperada e já havia sido vacinada contra o humor volátil dela.
— Estou em apuros, Bianca! Me ajude!
— Você está bem? Aconteceu alguma coisa? — sua voz soou preocupada.
— Minha mãe está na cidade e eu meio que sem querer disse que tinha um namorado...
— Todo esse desespero só por isso?! Lili eu quase tive um enfarto aqui!
— Não é só isso, Bia, a cobra da Gabriela estava com ela! Então, eu não posso só dizer a verdade. — eu disse num tom de resignação. — Eu estou perdida, não sei o que fazer.
— Gabriela é aquela sua prima Lili? A que foi sacana com você a vida toda? — ela parecia estar coletando informações em sua memória.
— Essa cretina mesmo! E a reunião dos Caceffo está chegando, se ela descobrir que eu menti vai ser humilhante!
— Então, nesse caso, amiga, você tem que arranjar um namorado. — a Bia usou um tom despreocupado, como se a tarefa fosse mais fácil do que respirar.
— Bianca, era para você me ajudar a sair dessa! — eu podia sentir minhas mãos suando frio. — Eu preciso de uma desculpa para ter um namoro com o Homem Invisível!
— Você sabe que quanto mais você fugir vai ser pior, né? — eu ouvi um suspiro do outro lado do telefone. — Já sei, vamos àquele barzinho que adoro! Eu te empresto um vestido decente e garanto que você consegue um pretendente hoje mesmo!
— Minha flor, minha mãe chega hoje e um cara aleatório não vai querer conhecer minha família! Você, que é minha melhor amiga, foge toda vez que tem uma reunião dessas! — eu apontei esse fato muito óbvio para a Bia.
— Não força me chamando de flor, seja sincera e xinga a minha mãe. — ela disse num tom azedo, mas completamente sincero. — Mas, já sei! Eu posso ligar para o meu primo e pedir um favor!
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Trato Feito #1 (DEGUSTAÇÃO)
RomanceUma pequena mentira pode mudar a sua vida? Lilian Medeiros sempre teve o completo controle de sua vida. Bem, menos quando surge sua família na questão. Prestes a ter a chance de ser promovida em seu emprego, Lilian se vê presa à tradicio...