Começou como com a maioria das pessoas começa. Eu era um adolescente com menos de duas décadas quando descobri o significado da palavra "amor". Era tudo tão lindo e tão doloroso que chegava a ser o melhor paradoxo criado pela sociedade.
Eu o via e meu cérebro produzia ocitocina o suficiente para facilitar todos os partos naturais do mundo, ou para deixar todos os pais apegados a seus filhos. Era um sentimento "novo" que desempenhou o papel mais importante na minha vida.
Eu não sentia a mão soar, ou uma vontade incondicional de beijá-lo. Tudo que eu sentia era uma enorme vergonha de chegar perto dele, que se misturava com um êxtase emocionante, inebriando meus pensamentos mais racionais, transformando-me numa ameba não pensante.
Isso não quer dizer que eu ficava relaxado ao seu lado. Isso quer dizer que de dez pensamentos que passavam na minha cabeça, pelo menos oito eram sobre ele, senão os dez. Eu estava arrumado o suficiente para estar ao seu lado? Eu causaria constrangimento a ele com o meu jeito de ser? Eu deveria mudar a minha postura para chegar perto dele? Eu tenho que deixar claro o que eu sinto por ele, ou devo fingir com não me importo com sua presença?
A minha escolha não foi das melhores. Foi infantil e imatura, mas ele também era infantil e imaturo. Eu fingi não me importar com a sua presença, e ele escolheu fingir que se importava com a minha.
Eu dava respostas ríspidas e cheia de sarcasmo, quando ele escolhia bem as suas ações para me agradar, mas sempre com uma retaliação na ponta da língua. Esperando o momento certo para dar seu sorriso ladino e provocativo.
Esse sorriso era a coisa que mais me incomodava nele, e a coisa que eu mais amava. Era como se ele soubesse o que eu pensava e respondesse "Eu sei qual é o seu jogo, e eu decidi jogar até eu me entediar.". Eu gostava de suas provocações, e gostava do fato dele saber qual era o meu limite, e o ultrapassá-lo tão bruscamente, como quem dissesse "Já que eu vou jogar o seu jogo, vai ser com as minhas regras."
Eu adorava imaginar o que passava por sua cabeça, ou o que ele faria a seguir. Meu amigos e colegas de classe viam toda a interação entre nós, e geralmente eu ficaria com vergonha, mas não perto dele. Esse era o efeito da ocitocina. O sentimento de impermeabilidade em relação aos outros. Eu era invencível.
Essa historia tem tantos paradoxos que nem deveria existir. Uma vez minha professora de português disse que sempre é necessário deixar claro o seu posicionamento quando esta redigindo algo, mas isso não vai funcionar comigo. Eu não tenho um posicionamento. Mesmo na minha própria historia, eu sou um narrador observador e nunca notado. Sem escolhas.
A verdade sobre a minha vida, é que eu não tinha escolhido tê-la. Por que conseguiria escolher quem amo? Seria praticamente impossível pra mim.
É claro que antes disso tudo, eu achava que já sabia o que é amor. Eu já tinha sentido atração por alguém e pensei "Eu a amo". Mas não era a mesma coisa. O amor é uma animação, mesmo em meio à tristeza e rejeição. Uma inquietação que nunca acaba. Quando uma atração não correspondida acontece, é como um soco no estomago. Um vazio.
Já senti isso tantas vezes durante a vida, que saberia reconhecer em um milésimo de segundo.
Como quando eu tinha dez anos e achava que amava a namorada do meu irmão, ou quando eu tinha doze e jurava de pés juntos que eu estava perdidamente apaixonado pela Monara, uma garota da minha classe. Ou quando eu a troquei pelo Guilherme, que simplesmente decidiu parar de falar comigo do nada.
A verdade é que com ele foi diferente.
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Como Realmente Aconteceu
RomanceEu o via e meu cérebro produzia ocitocina o suficiente para facilitar todos os partos naturais do mundo, ou para deixar todos os pais apegados a seus filhos. Era um sentimento "novo" que desempenhou o papel mais importante na minha vida. É claro que...