A filha da Tríade

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Muitos e muitos anos depois


  Quanto tempo o tempo tem? Quanto tempo levaria para ela finalmente poder encontrá-lo?

Ele era real, ele estava naquele mundo? Ele seria... Como o antigo humano da sua praticamente irmã mais nova, de fato um idol oriental?

— Meg? Está tudo bem?

A voz de Natasha Craiova, a criança que viu nascer, viu viver uma vida intensa e até mesmo assim como ela, viver um longo tempo entre os humanos, ela, filha mais velha de Sehunie, estava diante de Megalla depois da tempestade, na polpa do barco enquanto os marujos tentavam arrumar as avarias feita pelo oceano em fúria.

Meg espremeu mais olhos depois de ter quase certeza de tê-lo visto de pé, sobre as águas, a olhando fixamente.

— Meg?

A voz da vampira parecia genuinamente tensa e para não a deixar ainda mais nervosa sorriu afável:

— Não foi nada, apenas divagando. Vamos, vamos ver no que podemos ajudar...

E assim saiu dali tentando se manter em paz e não surtar. Sua família inteira agora vivia com bruxas. Era hora de colocar todas aquelas cartas na mesa e resolver esses delírios, afinal ela morou séculos no Texas e uma mulher texana pegava pelo pescoço o seu destino e o punha no cabresto nem que fosse na marra.

Estava farta de delirar acordada.



Morango era uma bruxa loira, mignon, delicadinha mas seus olhos tinham uma força letal que as suas duas outras irmãs possuíam e já era lendária no mundo dos noturnos. Ela era uma bruxa do espírito e a mais sensitiva das irmãs. Estavam uma de frente a outra em uma das saletas do palácio dentro da montanha e a bruxa lhe olhava serena e atenciosa.

Já tinha entrado em contado com ela antes quando informou que visitaria seus 'pais', a tríade vampírica que a adotou e que lhe cuidou e educou mais do que fariam com uma filha e por quem mataria e morreria sem pensar duas vezes. Precisava conversar com alguém sobre aquilo e sabia que bruxas do espírito eram muito poderosas, além disso a mãe delas dominava o mundo dos sonhos como ninguém até sua morte anos atrás.

Se tinha alguém que poderia ter respostas para suas perguntas, seria ela.

— Eu vejo que anda tendo sonhos perturbadores... – Ela disse enquanto o som da fonte em um jardim interno soava plácido perto dali e Meg evitou emitir um som de susto... Nunca tinha ficado tão perto de uma bruxa antes, como...? – Não fique preocupada, eu não posso ler pensamentos nem nada assim, é que pelos seus olhos, parece que vai e volta para lembranças e eu apostei em sonhos – Ela deu uma risadinha fofa. Escolheu aquela bruxa para conversar porque das três, parecia a menos perturbadora e ainda assim... – E eu sinto que tem um caos lhe perturbando. Eu soube que você é como uma filha para o meu cunhado, eu quero ajudar se puder.

Xing era agora consorte da Amora, irmã dela  e sabia que aquelas bruxas eram tão ligadas uma as outras tanto quanto os Ryven e toda a família adjunta eram. A verdade era que agora com eles morando todos juntos, parecia que a simbiose foi tão bem-feita que não parecia algo novo.

Meg estava feliz por sua família estar feliz.

Abriu o jogo de vez:

— Eu sei que seus consortes são humanos, sei que são os grandes amigos e ex membros do grupo coreano de onde o consorte da Nat também participava e os dois consortes da Nina. Acho que esse foi o maior motivo de eu procurá-la, para falar a verdade. Você conhece bem humanos e ainda mais humanos famosos. Bem... Nos últimos dez anos eu tenho sonhado com esse garoto. Começou de maneira gradual, eu o via indo para a escola, ensaiando músicas no seu quarto e depois entrando em uma companhia para jovens que treinavam para ser idols. Era como se eu assistisse as atividades dele em tempo real enquanto dormia. Não era algo estático e ele foi envelhecendo, o tempo passando, era como se eu assistisse a um filme do dia a dia dele. Pareço louca?

A bruxa a sua frente sorriu de canto e negou:

— Meu pai sonhava com a minha mãe da mesma maneira. Zitao sempre soube que um dia a mamãe ia buscá-lo, ia atrás dele, meu pai era muito seguro sobre isso e foi o que de fato aconteceu. Sonhos assim... Não devem ser ignorados.

— Mas o fato é, um dia me deu a louca e eu fui atrás dele, eu sabia onde ele estava, eu apenas fui... Mas Morango, não era ele, era uma cópia. Não era o meu Cai Xukun. Aquele que eu vi... Não tinha os mesmos olhos, a mesma alma... Era só uma cópia ou... Eu estava delirando mesmo, foi a conclusão que eu cheguei.

Megalla suspirou e se recordou de vê-lo tão perto, olhar no rosto dele, o mesmo rosto, quase a mesma vida e, contudo... Não era o seu garoto.

— Meu pai Xiao nos últimos anos aqui conosco, vivia entre nossa casa e o paralelo sete – Ela disse do nada e Megalla quase mordeu a língua. Como? – Sim, isso mesmo que ouviu, meu pai atravessava uma fenda feita pela minha mãe para que ele pudesse cuidar de um humano especial desse outro mundo. Uma fenda entre os mundos no âmago de uma árvore profunda. Meu pai dizia que cópias de mundos opostos tendem a ser ainda mais parecidas em suas histórias de vida, quer dizer, se um é idol aqui, o outro poderia muito bem ser idol lá. Talvez... Seu Cai Xukun não seja do nosso mundo. Se dobrar os doze mundos, os doze paralelos em dois, verá que o paralelo três e nove estão justapostos. Temos muito em comum, ou seja, seu consorte pode ser do nove e exatamente por isso, seria mais simples a realidade dele interferir na sua através do mundo dos sonhos... Uma hipótese teórica, claro. Minha mãe costumava dizer que o paralelo nove era o mais discreto entre todos, porque não havia magia, não havia chamariz lá, nada, era como se catástrofes e monstros de outras esferas apenas os ignorassem, até os deuses meio que o ignoram. E isso era ótimo... Mamãe só não disse o porquê era ótimo, mas minha mãe levou com ela para a morte muitas reflexões que ainda não consegui desvendar. Enfim, Mundos justapostos tem muito em comum, para o bem e para o mal, mas nesse caso, acho que seja algo muito bom, reduz a procura.

Meg arregalou os olhos e então sentiu seu coração pulsar mais intensamente.

Aquilo era tão absurdo e impossível quanto era coerente. Um paradoxo, mas que explicava muitas coisas... Muitas... E, contudo...

— Mas e se esse não for o caso? E se eu só comecei a ficar louca mesmo? Sou uma transformada, Morango, meu tempo é mais finito do que a minha grande família... E eu sinto que estou ficando realmente muito velha.

— Você só tem duzentos e poucos anos, Meg, ainda tem mais do que isso de vida... Não veja as coisas dessa forma. E eu sinto... Que ele é real – Ela deu de ombros e sorriu – e eu sei quem pode nos dizer a verdade e tirar o resto das suas dúvidas.

— Um deus?

— Não, um espelho.

Ela piscou divertida e Meg ofegou. Um... Espelho!?




Notas: Esse último capítulo se passa anos depois dos acontecimentos de Lycan, não é necessário ler, mas é bom para se situarem no tempo. E também tem Consorte como intermediário. E a história Rainhas é no mesmo tempo <3

Beijinhos!



The Craiova'sOnde histórias criam vida. Descubra agora