O segundo bloco das entrevistas foi retomado com duas horas de atraso. A cobertura midiática e os presentes naquele set de gravação só se acalmaram após o registro do boletim médico de que a situação do filósofo Otáreo era estável. Assim, as atenções retornaram para o programa televisivo que passaria a tratar da doutrinação ideológica nas escolas.
Para tal, o convidado especial era o advogado, procurador, pai de família e defensor dos valores conservadores, o Miguel Gibi.
O debate estreia com a apresentação do respectivo convidado.
APRESENTADOR: - Mais uma vez, boa noite! Iniciaremos o segundo bloco do programa juntamente com o nosso querido Miguel Gibi. Diga-nos, no que consiste a doutrinação ideológica e como podemos combatê-la?
O entrevistado se ajusta na poltrona, alinha o terno preto e seus óculos de armação fina no rosto e toma a palavra.
MIGUEL: - Olá, Danilo Ingentil! É um grande prazer estar aqui! Gostaria de começar dizendo que o nosso sistema brasileiro de ensino é marcado por abusos. Ele tem sido usado para se fazer política.
APRESENTADOR: - E você poderia nos dar alguns exemplos?
MIGUEL: - Claro! Gosto de relatar o que aconteceu na escola da minha filha. Uma vez, em uma aula de história, o professor dela fez a comparação entre o Che Guevara, o guerrilheiro assassino, com o Santo mais amados por todos, Francisco de Assis. É um absurdo! Essa comparação grosseira tinha por intenção de defender valores comunistas em sala de aula.
APRESENTADOR: - E você Sócrates, na sua cidade também há relatos de doutrinação ideológica?
SÓCRATES: - Perdoe-me a ignorância Danilo, mas antes preciso saber o que é doutrinação? [O Miguel toma a palavra].
MIGUEL:- É simples! Trata-se da apologia a um modelo de pensamento. É o mesmo que bombardear a cabeça dos alunos com ideias de um grupo específico...
SÓCRATES: - Entendo... A doutrinação é o uso do ensino para defender um ideal em detrimento de outro?
MIGUEL:- Exato!
SÓCRATES: - Portanto, a educação deve ser um processo do saber em que não se defenda nenhum ponto de vista?
MIGUEL:- Sim! A educação deve ser neutra. Não cabe ao professor parar a aula para fazer comentários sobre noticiário político. Há tanta coisa importante para falar, por que então, polemizar as aulas com assuntos controversos?
O âncora retoma a palavra e se dirige ao Miguel.
APRESENTADOR: O fenômeno de doutrinação, quando começou?
MIGUEL:- Acontece há séculos em países comunistas como: Cuba, China, Coréia do Norte! No Brasil é recente! Os professores têm usado a sala de aula para impor suas crenças e valores.
APRESENTADOR: - Mediante a essa bela explicação, nos diga Sócrates, o mesmo ocorre em sua sociedade?
SÓCRATES: - Se definirmos que a doutrinação é a apologia a um modelo de pensamento, assim, gostaria de convidá-los a examinar se ela não é algo que perpassa todo o sistema de educação mundial?
Reações de espanto na plateia e do âncora...
APRESENTADOR: - Como assim?!
SÓCRATES: - Veja o caso da civilização Egípcia (1250 aC) no período mesopotâmico. Lá o governo mantinha o que vocês chamam de escolas públicas. No entanto, o objetivo da educação era formar, em sua maioria, escribas destinados a trabalhar na administração do Estado Faraônico. Logo, a educação e o Estado se misturavam. Em Esparta e Atenas (400 aC) esta relação é mais explícita. [Interrompido pelo Miguel].
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Tudo que você precisa saber para ser um ignorante: Sócrates no Brasil
Fiction HistoriqueCom humor e ironia, a história narra a vinda de Sócrates da Grécia Antiga para o Brasil. Trazido pelo governo em uma máquina do tempo, a saga almejava uma consultoria educacional para o país. Entretanto, ao questionar ideias e valores em voga, a con...