"Oh, espero que algum dia eu consiga sair daqui
Mesmo que demore a noite toda ou cem anos
Preciso de um lugar para me esconder, mas não consigo encontrar nenhum por perto
Quero me sentir vivo, lá fora não consigo enfrentar meu medo."
Lovely - Billie Eilish (part. Khalid)
A aurora crescia conforme o dia chegava, o nascer do sol acordava todas as aves ao ouvir o choro melancólico da mãe Terra dando à luz outra vez.
Era hora de acordar para quem trabalhava, seguir o dia fazendo o que lhe fora designado ou viver brandalhão, o que não parecia inteligente. Aqueles que almejavam comer o pão de cada dia tinham que suar e produzí-lo através deste, caso contrário viveriam com fome naquele vilarejo que já não mais era o mesmo desde a primeira guerra.
A moça de cabelos ruivos levantava, alongou-se e socou o ar três vezes, como uma oração matinal. Lavou o rosto e percebeu que a água já era pouca, teria que lembrar de carregar mais. Trocou as vestimentas e desceu as escadas de madeira que tanto odiava devido ao ranger a cada degrau. Abriu todas as cortinas do local que mais parecia um bar, no entanto, era uma casa de remédios que ela mesma produzia com ervas e sementes.
Finalmente abriu as portas, vendo que algumas pessoas já apareciam andando por ali, algumas até apressadas aquela hora da manhã. Pegou a vassoura que ficava atrás da porta e tratou de varrer a calçada, deu bom dia a uma senhora, e viu sua tia aparecer na porta, tomando a vassoura de sua mão.
- Deixe que eu termino, querida. Abra os potes de alfazema.
Apenas assentiu. Colocavam alfazema e vodca em potes e deixavam fechados por dias, para finalmente abrir e deixar que o cheiro enchesse o lugar. A vodca era cara, mas valia a pena, pois muitos clientes gostavam do cheiro e encomendavam frascos.
Gwendolyn se prostrou atrás do balcão e encarou as costas de Tsunade, a mulher que lhe ensinara tudo que sabia sobre medicina e combate. Quem visse aquela moça de cabelos rosados e traços delicados, jamais imaginaria que poderia derrubar três homens de uma vez.
Se sua mãe a visse agora, estaria orgulhosa, mas também lhe daria uma bronca sobre como uma moça deveria se portar. Matilda havia partido quando tinha vinte anos, seu pai lhe levou para viver com sua tia Fiona e foi para a guerra. Isso há dois anos. Gwendolyn não sabia mais o que fazer com as suas esperanças de que ele voltasse vivo ao ouvir os rumores sobre o exército inimigo, mas se tinha uma coisa que aprendeu com sua mãe foi de que pessoas como ela tinham que se agarrar à esperança com as duas mãos, e mesmo que seus dedos sangrassem e suas unhas fossem arrancadas, não deveria jamais soltá-la, ou cairia em desespero profundo.
Sorriu com a lembrança de sua falecida mãe fazendo gestos, se agarrando ao ar para lhe dar uma demonstração de como fazer.
Foi tirada de seus devaneios quando o primeiro cliente do dia chegou.
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A Última Esperança
AcakO início da Segunda Guerra Maldita trouxe mortes infelizes e corações quebrados. Para Gwendolyn, aquele era o fim de toda sua esperança, a morte cruel de seus sonhos e anseios. Seu pai era seu escudo e sua espada, e fora tomado de si quando foi à...