welcome to the mansion

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"A vida é efêmera"

A frase ecoava na cabeça de March a cada minuto que passava naquela sala escura. Ela não conseguia sentir nada ao olhar para aquela parede parcialmente descascada que antes possuía a cor totalmente cinza, e foi assim que ela passou aquela noite: em estado mórbido, sem conseguir falar ou agir.

Bateram na porta mais uma vez naquela manhã, ouviu uma voz do outro lado da madeira escura que pedia permissão para entrar, mas a garota continuou em seu silêncio fúnebre, encarando a sua frente com os olhos sem vida.

— Olá, eu vim ver se você terminou de comer. — Uma voz masculina se manifestou ao seu lado — Poxa, não tocou no prato que a Lyss trouxe...

Por mais que tentasse, ela não tinha forças para se mover. Seu psicológico estava fortemente abalado pelo ocorrido da noite passada. Podia ouvir os passos do rapaz vindo em sua direção, parando bem na sua frente. O moreno se sentou, a observando.

— Me desculpe por ter batido na sua cabeça naquela noite no telhado — a voz abafada pela focinheira ecoou pelo quarto — pensei que poderia machucar Brian, ou pior, se machucar.

Contentou-se em levantar os olhos e analisar a feição do garoto em sua frente. Sua voz infantil causou certa confusão em March, pois aparentava ser um pouco mais velha que a mesma. Ele estava sem os óculos dessa vez, os cabelos desgrenhados e as olheiras fundas demonstravam seu extremo cansaço. Abaixou os olhos e viu as mãos do rapaz: estavam machucadas com arranhões e mordidas.

Franziu o cenho e esticou os dedos magros, tocando a pele ferida.

— Quem fez isso com você? — A voz de Robbie saiu arrastada e fraca.

— É uma longa história, mas não precisa se preocupar, não sinto dor.

A garota suspirou e voltou a olhar para o nada.

— Desculpe a intromissão.

— Não tem problema, dizem que sou muito intrometido também — ele sorria largamente por trás da focinheira — e implicante, invasivo, imbecil...

— Isso é bem cruel...

— Timothy é bem cruel, mas você se acostuma. Meu nome é Tobias, mas pode me chamar de Toby! — Ele estendeu a mão para March, que a apertou.

— Sou a March, mas me chame de Robbie, por favor.

— Muito prazer! Não quer conhecer os outros?

— Toby, eu nem queria estar aqui...

— Na teoria, nenhum de nós queria, Robbie — ele dizia animado, um pouco nervoso — mas eu prometo, você vai se acostumar.

Sorriu fraco para o menino que mais uma vez lhe retribuiu com uma animação invejável. Ele a convenceu a sair daquele quarto, passou o braço por seus ombros e a levou até um longo corredor, onde parecia ter uma outra parte daquela mansão.

Ao se aproximar, teve a confirmação, pois viu uma sala com diversas pessoas conversando. Analisou um por um rapidamente antes de Toby anunciar sua chegada no recinto.

— Olha quem eu convenci a sair do quarto!

— Ela não me parece convencida, aterrorizada sim.

— Você é o pior, Tim! — Ele deu um pequeno empurrão na garota, fazendo-a dar um passo a diante — Essa é a March, a nova escrava!

March se contentou em acenar e sorrir fraco, exibindo seu desinteresse e desânimo. Cada um fez uma breve apresentação, para que a novata decorasse os nomes.

— Mas então, eu gostaria de saber que história é essa de escrava.

— Se ele te escolheu, é porquê você tem algo que o interesse. — Annabeth disse.

— Okay, ele quem?

— Slenderman, o homem sem rosto que foi te buscar conosco ontem. — Lyssandra se manifestou — Você matará em nome dele, cada missão dada a você deve ser cumprida, ou...

— Ou o que?

— Deixe isso pra outro dia, em breve o chefe dará todas as instruções a ela. — Toby cortou a ruiva antes que ela respondesse.

— Não me importa, não farei porra nenhuma. Não escolhi estar aqui, não vou ficar, quero o caralho da minha vida de volta.

O rapaz de máscara branca gargalhou cinicamente.

— E você acha que tem uma escolha? Caia na realidade, você não tem.

— Me levem até Slenderman.

Eles se entreolharam com dúvida, um pouco de receio também.

— Certo — Masky levantou, enquanto todos o olhavam desconfiados — ele ficará feliz em vê-la.

O sorriso cínico se alargou por detrás da máscara. Quando ele ia guiá-la pelo extenso corredor, a estática tocou o ouvido de ambos.

Venha até mim, Ruddy. Mas só você.

A morena recebeu as instruções de como chegar até a sala onde se encontrava o homem sem rosto. Empurrou a grande porta de madeira escura, dando de cara com a enorme criatura sentada em uma poltrona de couro negra, atrás de uma mesa que possuía quase a mesma tonalidade.

— Eu quero ir pra casa.

Você está em casa.

Suspirou enquanto fechava os olhos devagar. Sabia que seria inútil tentar debater com aquele ser medonho, sabia também que ele a mataria se não seguisse suas regras.

Mas o quanto valia sua vida agora que havia perdido tudo?

— Me perdoe, senhor. Eu não vou ficar aqui, eu não quero.

O que Masky lhe disse está correto, você não tem mais uma escolha.

— O que eu tenho que lhe interessa?

Isso você só saberá se viver o suficiente para que eu lhe mostre.

Alguns segundos de silêncio — que pareciam horas — se passaram enquanto os dois se encaravam. March não queria aquilo, isso era um fato concreto para ambos, mas sua curiosidade para saber o seu diferencial começou a se tornar um incômodo naquele exato momento.

— O que eu terei que fazer?

O que todos fazem: treinar. Em breve irei te designar para um grupo de acordo com suas habilidades.

— Eu tenho que ficar nesta mansão?

Sim, assim como todos os Proxies e Creepypastas que servem a mim.

Cerrou os dentes levemente, pensando em suas possibilidades. Ela não queria ser uma Proxy e ficar a mercê de um controle mental sempre que Slenderman quisesse.

Se não tiver minha marca, não terá minha proteção, mas continuará leal a mim. Ficará por sua conta e risco.

— O que tenho que fazer para isso acontecer?

Mostre que pode se virar, assim não precisa se tornar Proxy.

— E quando posso passar por essa provação?

Por que não agora?

RuddyOnde histórias criam vida. Descubra agora