March🥀
Faz algumas semanas que perdi o controle da minha vida para algo que deseja tomá-la a todo custo. Eu não sei direito quem ou o que anda me perturbando e qual o propósito de tudo isso, mas se querem meu mal, vão conseguir.
Há muito tempo eu não sei o que é colocar algo sólido no estômago, nem dormir por mais de três horas. Meus ossos já começaram a aparecer, principalmente as costelas e a espinha. As olheiras se destacam tanto em minha pele pálida que nenhuma maquiagem consegue cobrir.
Passo os dias me arrastando de um lado para o outro em meu quarto. Com o fim do semestre, eu não tinha mais razão para sair de casa. Apenas me contentava em abrir a janela e fumar um cigarro, às vezes dois.
Minha mãe e meu pai tentam de toda forma me ajudar, e céus como sou grata por ter pais incríveis como eles. Mas a culpa de vê-los sofrer por minha causa não demorou para começar a me corroer. Ontem à noite ouvi minha mãe chorando, ela dizia ao meu pai que eu não tinha mais solução, que possivelmente definharia até a morte e que não demoraria a ir para o céu.
É claro que isso é mentira, todos sabemos que garotas como eu vão diretamente para o inferno, sem necessidade de julgamento. Eu sei disso pelo que vem acontecendo nesse tempo: as aparições, as vozes, a estática...
Alguma entidade maligna se interessou por mim, ela quer minha alma e qualquer outra coisa que eu puder oferecer. Seus servos me perseguem dia e noite. Aquela máscara branca me perturba durante a noite, o rosto infeliz está sempre no banco de trás do meu carro, ouço passos e estalos — como se fossem tiques nervosos — vindos do sótão, a ruiva me segue pela rua juntamente com sua amiga de máscara bizonha.
Eu não aguento mais. Sinto que vou perder o controle e a sanidade a qualquer instante. O cheiro de carne podre e queimada que está invadindo o meu quarto é completamente sufocante, fazendo meu estômago embrulhar. Tive que correr para o banheiro e vomitar o suco gástrico que queimava meu estômago.
Seria sorte se fosse apenas isso, mas meu refluxo tinha um tom avermelhado tão intenso que fez meus olhos arregalarem.
Sangue, eu havia vomitado sangue.
Me afastei vagarosamente do vaso sanitário. Me arrastava pelo ladrilho frio do banheiro até encostar na bancada da pia. Mais uma vez, aquela estática agonizante tocou meus ouvidos, me fazendo tapá-los inutilmente. Senti algo subir do meu estômago mais uma vez, soltando o líquido escarlate viscoso de minha boca. Ele escorria dos meus lábios até minha camiseta branca, que já ganhava a cor avermelhada.
Eu precisava dar um fim nisso, não suportava mais toda aquela tortura psicológica. Me sentia fraca, inútil...
Estava sendo um peso para meus pais, eles não precisavam disso.Me levantei em um impulso e corri para a varanda que ficava no sótão. Lá, eu conseguiria ter acesso ao telhado, o único lugar alto o suficiente para um suicídio bem executado.
As telhas cortavam meus pés, fazendo com que eu praguejasse vez ou outra. Olhei para baixo e respirei fundo, repensando minha decisão.
Eu precisava fazer isso por eles.
Fechei os olhos e comecei a me inclinar para frente, quase consegui sentir meu corpo cair, mas, para a minha surpresa, uma mão agarrou meus cabelos e me puxou de volta. Não consegui ver seu rosto, apenas um dos braços cobertos com um moletom amarelo mostarda que envolveu meu pescoço em um mata leão e a outra mão enluvada, que colocou um pano úmido em minha face.
Prendi a respiração. Sabia que apagaria se inalasse aquela coisa. Dei uma cotovelada no homem que tentava me desacordar, fazendo com que o mesmo soltasse um grunhido e me largasse.
Quase morri ali mesmo ao me virar: ele usava uma máscara de pano preta com um rosto triste em vermelho, o mesmo que eu via de relance no banco de trás do meu carro.
Não houve tempo para mais nenhuma reação. Senti algo acertar minha cabeça com muita força. Antes de apagar, olhei para meu agressor e reconheci os óculos alaranjados, ele havia me acertado com o cabo de um machado. Pensei que cairia do telhado e morreria de vez, mas um abraço de alguém que usava um casaco preto envolveu o meu corpo.
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Ruddy
FanfictionEra uma vida normal como qualquer garota da idade de March poderia querer, mas as coisas nem sempre ocorrem da maneira que desejamos. Em um dia, a vida da garota estava perfeita, mas algo que estava além de seus conhecimentos resolve trazê-la a um m...