Prelúdio do Cap. 1: Um menino-homem adentra o bar

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Natanael Uchôa chegava ao Gotas às sete e trinta e cinco da noite. Era sempre mais ou menos essa hora e nunca antes, como um compromisso marcado. Ele adentrava o bar como se fosse algum executivo importante e o estabelecimento uma sala de reunião conhecida. Não chegava como a maioria dos outros: aos troncos e barrancos, dando uma risada ligeira ou olhando para as garrafas com uma veemência incompreensível que a bartender sempre via, mas nunca entendia.


Todos os dias, desde que ela se lembrava por gente, ele vinha e se sentava em um dos banquinhos com mosaicos que o pai da bartender havia comprado e apenas fazia seu pedido. Simples e prático. Talvez um pouco prático demais para um menino-homem tão misterioso.

A bartender havia escutado as mesmas histórias que todo mundo. Demônios, espíritos e santos. Havia escutado tanto que ultimamente quando evocava qualquer uma das teorias, elas não causavam nenhum efeito dentro dela. 

Mas as teorias existiam: as de que Natanel era órfão e que seus pais haviam ido para a guerra, a de que ele teria matado a própria mãe e então seguido em frente e executado o pai (rezava a lenda que os corpos foram jogados em alguma vala inexistente de LEAF, embora a vila não tivesse qualquer sinal de buracos ou arroubos porque tinha uma boa flora e fauna). 

Haviam aqueles que também acreditavam (e essa teoria era a favorita de todos) que Natanael havia sido possuído pelo diabo quando criança e como preço de sua criação errônea deus havia arrebatado as almas dos responsáveis por ele.

A bartender não sabia no que acreditar. Ou se sequer podia acreditar em alguma coisa. Nunca havia conversado com ele de verdade. Seu pai sim e ele mesmo afirmava que Natanael era uma pedra. E até onde ela se lembrava, pedras não falavam.

O que a bartender sabia do demônio da vila era que ele era um repelente. As pessoas atravessavam a rua e puxavam seus filhos quando ele estava por perto. Na escola em que ele estudava haviam pichações com seu nome seguido da palavra do tinhoso e notas de repúdio dos pais de alguns alunos. Para eles era inadmissível que o demônio em si tivesse o mesmo direito que seus filhos de se sentar e assistir aulas. Havia até mesmo o boato rolando de que Natanael se metia em brigas com um menino direto e reto.

A bartender já tinha presenciado situações de intolerância antes. As pessoas da vila, por mais próximas que parecessem, eram esclusas do resto do mundo. Mas quando aplicavam isso a Natanael, as coisas se perdiam. Elas ficavam hesitantes, supersticiosas e histéricas. Como se eles estivessem na idade das trevas e precisassem caçar bruxas e outros monstros de novo.

E Se Naruto fosse uma história de romance americano?Where stories live. Discover now