A tarde mal havia se iniciado, e a forte chuva instalava-se naquela cidade litorânea. As escolas já tinham alertado os pais para que não levassem as crianças. Tanto as rodoviárias quanto o aeroporto, cancelaram suas viagens, devido ao mau tempo. Porém as ruas não estavam completamente vazias. Aqueles que tivessem olhos atentos poderiam debruçar-se em suas janelas e observarem um garoto com uma capa de chuva amarela, segurando algumas sacolas.
Os pequenos furos mostravam que ele usava uma camiseta preta por baixo da capa. Além disso, vestia uma calça jeans e calçava um par tênis esportivos. Ele andava apressado tentando fugir da chuva. Passou uns 15 minutos até que chegasse no final de uma rua, onde localizava-se uma peixaria.
Ele abriu a porta e deparou-se com um lugar empoeirado e sujo. Os freezers nas laterais refrigeravam alguns salmões, do qual exalava um péssimo odor. Ao olhar para frente, viu um balcão largo que continha as tabelas com os preços; e por trás dele, encontrava-se um homem que aparentava ter entre 40 e 45 anos, gordo e com um avental sujo de gordura.
Por que demorou tanto? – dizia o homem- Já basta esta chuva que afastou os meus clientes.
Não precisa estar chovendo para ninguém vir aqui. – sussurrou o rapaz enquanto olhava para baixo e descobria que tinha formado uma poça em seus pés.
É melhor prestar atenção no que fala. – falou o homem no mesmo momento em que cortava a cabeça de um robalo. – Ninguém mais vai querer contratar alguém como você.
Ele engoliu a seco a resposta que desejava falar, retirou a capa molhada e a colocou em um cabide. Depois dirigiu-se até a cozinha, onde iria preparar um café para aquecé-lo. Mas, antes mesmo que fervesse a água, o homem virou-se e falou: “Você não tem tempo para isso. Pegue o rôdo e comece a limpar o chão.”
Ele respirou, acalmou-se e foi fazer a sua tarefa. Voltou para onde havia deixado as sacolas e retirou delas produtos de limpezas. Enquanto esfregava o rôdo sobre o chão, começou a lembrar do dia que havia chegado naquela cidade.
Eram exatas 10 horas da manhã quando ele olhou, pela janela do ônibus, e viu o letreiro do nome cidade. Desceu, pegou suas malas e dirigiu-se para fora da rodoviária. Ele não tinha parentes ou qualquer conhecido naquele lugar. Não sabia onde tinham pensões ou até mesmo um quitinete que pudesse abrigar-se. Era realmente um novo mundo para ele.
Próximo da saída, viu um segurança e perguntou-lhe: “Com licença senhor, poderia me dizer onde há uma pensão por aqui?”. Com bastante educação e rigor, o segurança respondeu que conhecia uma pensão no leste da cidade. A dona já era idosa, viúva e, segundo ele, fazia a melhor canja de galinha da região. Ele agradeceu a gentileza e entrou no taxi que o segurança havia chamado.
Enquanto o táxi suavemente deslocava-se, ele observou como eram as coisas por ali. Em um primeiro instante teve a impressão de calmaria; viu pais brincando com seus filhos no parquinho, os velhinhos jogando xadrez e duas vizinhas conversando (talvez estivessem debatendo sobre a fofoca que viram na TV sobre o galã da novela). Porém essa ligeira impressão desapareceu quando ele viu um grupo de homens agredindo um travesti em um beco, um garoto comprando o que nitidamente era droga e depois, em uma varanda, viu uma mulher sendo arrastada para dentro de casa pelo que parecia ser seu marido.
Ele até pensou em ligar para a polícia. Mas, não tinha celular. O pouco dinheiro que possuía não permitia que ele, por enquanto, tivesse esse tipo de luxo. Então, logo após intalar-se na pensão, iria em busca de um emprego.
As 11:45, o táxi parou em frente a uma simples casa, nada diferente do que ele imaginava para uma pensão do subúrbio. Após pagar o motorista, subiu a pequena escadaria da entrada. No momento em que possicionava sua mão para girar a maçaneta, a porta abriu e dela saiu uma garota ruiva.
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Os Mistérios que nos Rodeiam
Mystery / ThrillerBruno vivia relativamente bem em uma cidade litorânea. Até que algo misterioso acontece e ele é acusado de um crime. Agora, ele e outros irão se deparar com os segredos que estão ao seu redor.