O cansaço o consumia. A distância da pensão até a peixaria era de uns 3 quilômetros, e ele havia percorrido tudo isso a pé. Mesmo assim, ele sentia-se aliviado por não ter que ver a cara do Luigi, pelo menos pelo resto do dia.
Ao entrar na pensão, cumprimentou a Dona Nice, o senhor Rodolfo, alguns outros inquilinos e a Carla. Ele tinha se tornado amigo de todos lá, com exceção de uma pessoa: a Berta. Desde o primeiro instante que ela o viu, mostrou repulsa. Mas, Bruno não era daquele tipo de pessoa que se importava com que os outros pensavam dele.
Depois de um bom banho relaxante, ele dirigir-se para o quarto, onde vestiu sua roupas. Graças ao salário que recebia (que não era lá grande coisa), sua vida pode melhorar um pouco. Comprou roupas novas, uma pequena televisão para o seu quarto e um novo par de tênis.
Ele estava tão exausto, que preferiu dormir sem ao menos ter jantado. No dia seguinte, acordou cedo, tomou banho, escovou os dentes e desceu para tomar café. Ele era sempre o primeiro inquilino a chegar na sala de jantar. Lá, o cheiro das panquecas feitas por Carla deixava a manhã mais alegre.
Bom dia Carla! – Ele a cumprimentava enquanto ela o servia. – Como você está?
Bom dia Bruno! – Ela respondeu colocando as panquecas e uma xícara de café sobre a mesa. – Estou bem.
Nossa como a manhã está tão gélida! Você deveria colocar um casaco.
Obrigado pelo conselho! O tempo deve estar assim devido às chuvas de ontem. – Disse Bruno devorando as panquecas.
Carla era uma pessoa muito legal. Ela havia sido gentil desde o momento que o conheceu. Poucas pessoas foram dessa forma com ele. Isso fazia com que Bruno se sentisse bem quando estava próximo dela. Ela realmente era especial para ele.
Depois de tomar café-da-manhã, ele voltou para o seu quarto e pegou um casaco. Ao sair, foi parado por Dona Nice.Bruno desculpe pela indiscrição, já fazem dois meses que não me paga. Não pense que estou pressionando, mas a situação da pensão não está boa. Compreende? – falou Dona Nice.
Eu entendo Dona Nice. E se eu estiver com sorte, poderei pagar pelo menos um mês para a senhora. – Disse Bruno um pouco desconfortável, mas esperançoso.
Deus te ousa rapaz. - disse Nice enquanto voltava para o seu quarto.
Bruno saiu pensativo. Um coisa que nunca gostou era de dever para alguém. Ele passou alguns minutos no ponto de ônibus até que o mesmo chegasse. Umas meia hora ainda passariam até Bruno chegar a peixaria.
Quando chegou, o local já estava aberto. Ele bateu o ponto, fez uma faxina rápida na entrada e foi aos fundo do comércio. Tudo isso enquanto o Luigi tirava uma soneca na cozinha. Nos fundos, havia uma bicicleta encostada em um daqueles tonéis de lixo. Ele pegou um caixote e colocou no bagageiro da bicicleta. Em seguida, montou nela e dirigiu-se ao seu destino.
Toda a sexta-feira, Bruno entregava uma encomenda para uma casa na zona norte da cidade. Apesar de ser um pouco curioso, ele nunca abriu nenhuma dessas caixas. Não se importava em saber qual era o peixe da vez.
Geralmente se passavam duas horas para que ele chegasse. Sua parada era uma casa branca no estilo colonial e afastada do centro. Bruno desceu da bicicleta, desamarrou o caixote e o levou para à porta da casa. A casa tinha uma aparência de Halloween: as cercas estavam todas enferrujadas, o mato parecia não conhecer um jardineiros já faz um século, haviam cupins na madeira da casa, entre outras coisas. Tudo isso despertava um pouco do seu lado supersticioso, que não era grande. Ele havia herdado isso da sua mãe.
Deixou o caixote no local de sempre e foi embora. Enquanto pilotava a bicicleta, virou-se para trás e pode observar um homem muito estranho recolhendo a encomenda. O cara tinha a aparência de um motoqueiro de gangue de estrada. Por que alguém moraria em um local como esse? E também, por que faria encomendas de peixes toda a sexta? Mas tais questionamentos não passavam de curiosidade para ele.
Depois de outras duas horas, ele retorna a peixaria. O Luigi já tinha acordado e estava organizando o estoque. Sinceramente, Bruno ficou surpreso. Luigi Andrade trabalhando era algo extremamente raro. Talvez o fim dos tempos estivesse mais próximo. Ele entrou e, no momento em que iria começar a varrer, Luigi o chamou até o estoque, depois da cozinha.
Bruno, a peixaria vai fechar mais cedo. – Disse Luigi com um semblante bem nervoso. – Vou fechar as 14 horas. Não esqueça de pegar o seu bônus pela entrega.
Bruno não falou nada, apenas balançou a cabeça para confirmar que havia entendido. Algo estranho estava acontecendo. O Luigi nunca perderia a oportunidade de ver Bruno trabalhando (ou sofrendo) por mais tempo. Mas, a desconfiança foi substituída por uma momentânea alegria, já que largar cedo não era algo que acontecia todo o dia. Bruno voltou para a entrada para começar a varrer o chão.
Parecia que o tempo estava brincando com Bruno. Os ponteiros insistiam em não se aproximarem das 14 horas. Mas, como o tempo não para, a hora de ele largar havia enfim chegado. Ao sair, sua sorte o surpreendeu novamente. O ônibus não demorou para aparecer e não estava lotado.
Depois de passar por um trânsito não engarrafado, ele chegou as 14:35 na pensão. Nesse horário a pensão estava quase vazia. A maioria dos hóspedes estavam trabalhando. Berta passa a maior parte do dia fora. E Carla auxiliava um centro comunitário nas sextas. Ou seja, apenas a Dona Nice estava lá.
A sede o consumia, fazendo com que Bruno fosse até a cozinha para tomar um copo d'água. Ele entrou na cozinha, pegou a garrafa que estava na geladeira e a colocou em cima da pia. Porém, o princípio de algo que mudaria sua vida acabará de acontecer. Ele ouviu um grito vindo do andar superior. É, logicamente, aquele grito pertencia à Dona Nice. Bruno não pensou duas vezes: pegou uma faca que estava sobre a pia e subiu para ver o que estava acontecendo.
Ele subiu as escadas com tanta pressa que, rapidamente, ficou sem fôlego. Mas, isso não o deteve. Por um instante, pensou ser mais rápido que o próprio Flash. Ao chegar no andar superior, foi em direção ao quarto dela, que localizava-se no final do corredor à direita.
Ao abrir aquela porta, teve uma visão que jamais esqueceria. Viu Dona Nice amarrada em uma cadeira. Mas o pior não era isso. Dona Nice estava morta. Um corte profundo em seu pescoços jorrava uma cachoeira de sangue que alimentava a poça ao redor da cadeira.
Vários sentimentos confundia a cabeça de Bruno: medo, tristeza, perplexidade, entre outros. Ele ficou totalmente paralisado e pasmo. Não esboçava nenhuma reação.
De repente, algo o cutuca. Ele vira-se instantaneamente. Era Rodolfo. Seu semblante também era de desespero. E sem nenhum aviso, deu um soco no rosto de Bruno. Isso fez com que ele caísse desmaiado sobre a poça de sangue.
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Os Mistérios que nos Rodeiam
Mystery / ThrillerBruno vivia relativamente bem em uma cidade litorânea. Até que algo misterioso acontece e ele é acusado de um crime. Agora, ele e outros irão se deparar com os segredos que estão ao seu redor.