O grande idiota

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Mais uma vez eu caminhava pela vila cabisbaixa, para variar, na noite anterior encontrei Sakura e Naruto conversando sob uma árvore de cerejeira. Enquanto eu remoía secretamente meu amor por ele, aliás, como Sakura podia fazer isso comigo? Sabendo que eu o amava? Certo, eu tinha noção de que os dois eram amigos e que Sakura precisava de apoio, por causa do Sasuke, que permanecia longe da vila.

Porém, às vezes ambos conversavam tão intimamente, que me dava ciúmes. Eu sabia que Naruto a amava, mas, até então, tinha ciência de que Sakura não o correspondia amorosamente. Para ela, Naruto era como um irmão, pelo menos era o que alegava sempre que conversávamos.

Portanto, ao vislumbrá-los muito próximos um do outro, senti um reboliço sem fim dentro de mim. Queria ir até lá e me enfiar no meio, gritar que era eu quem deveria estar pertinho dele, não Sakura. Ela não o amava como eu, ninguém o amava como eu!

Ao contrário disso, eu apenas corri para longe, longe daquela cena que tanto magoava meu coração presenciar.

Hoje, andando pela vila a esmo, enquanto a brisa gélida do inverno acariciava meu rosto. Pensava se valia a pena tudo isso. Se valia a pena continuar nutrindo todo esse amor em meu peito, esse sentimento unilateral que acreditava jamais ser correspondido. Nem após eu arriscar minha vida para salvá-lo na luta contra Pain, Naruto parecia se dar conta dos meus sentimentos. Era humilhante.

Tão absorta encontrava-me em meus próprios pensamentos, que não notei quando Naruto veio do outro lado e logo aproximou-se de mim

— Hinata-chan. - saudou-me animado e sorriu.

— Naruto-kun, boa noite. - respondi baixando os olhos.

Para ele não notar a tristeza que emanava deles. Se bem que, por que Naruto notaria? Eu não era a Sakura para receber esse tipo de atenção.

— Está tudo bem? - Naruto questionou e conseguia sentir seu olhar me queimando, apesar de não retribuir.

Como ele era alto!

Fiz que sim com a cabeça, antes de o fazer com a boca.

— Não é o que parece. - retrucou e abaixou-se para olhar nos meus olhos, debaixo para cima. - Hinata, olha pra mim? 

Levantei o olhar e encontrei suas duas safiras muito azuis a me encarar, estremeci com a intensidade com que Naruto me fitava.

— O que houve? - continuou e fez menção de tocar meu rosto, recuando no mesmo instante.

Naruto iria me tocar? Não, claro que não! Mas... ele de fato percebeu minha tristeza? Eu estava enganada?

— Nada, Naruto-kun. - menti desviando os olhos, tinha medo de que ele percebesse o tanto de amor que eu sentia apenas pelo meu olhar.

— Seus olhos estão tão tristes. - constatou e senti meu coração se quebrar em mim pedacinhos.

Quase gritei que era por sempre vê-lo grudado em Sakura; porém, somente desconversei:

— Impressão sua. 

— Eu te conheço, Hinata-chan. - retrucou e deu um passo em direção a mim. - Você não tinha esse olhar triste antes. O que aconteceu? Pode desabafar comigo, somos amigos, não somos?

"Amigos...", repeti em pensamento.

E, obviamente, era só por isso que Naruto preocupava-se comigo. Era pouco para mim. Diante de tanto amor que nutria por ele, essa tal de amizade era apenas uma migalha jogada ao chão e eu, como a bela tola que era, a pegava de bom grado. Pensando, assim, aquecer um pouco meu coração gelado.

— Está tudo bem. - garanti e olhei para seus olhos uma última vez, decidida a por um ponto final naquilo. Não aguentava mais sofrer. - Boa noite, Naruto-kun. - dito isso, fiz que iria embora de volta para o meu clã.

Contudo, Naruto segurou levemente meu pulso. Causando em mim o mesmo reboliço interior, como quando demos as mãos durante a guerra. E eu pensei que finalmente ficaríamos juntos se tudo acabasse bem. Me iludi mais uma vez. Era só o que eu fazia, me iludir com relação a Naruto. Ele jamais me veria como mulher, para Naruto eu seria para sempre aquela garotinha estranha, que ofereceu a prova para ele colar no exame chunnin.

— Não, não está. - revidou convicto. - Estou sentindo uma tristeza sem precedentes vindo de você, Hinata. Por favor, me diga o que eu posso fazer? - insistiu e eu quase comecei a chorar ali mesmo.

Era tão injusto, ele ainda tinha que sentir minha tristeza? Nem estava com o modo sennin ativado.

Ofereci um sorriso fraco e sem vida e fui me afastando, não diria nada, era humilhante demais. Ter que confessar ao homem que eu amava, como era a dor de ser rejeitada. Era melhor aceitar que seria para sempre assim, Naruto jamais retribuiria meu amor.

— Hinata? - chamou-me novamente e seus dedos resvalaram sobre a pele do meu pulso, aonde ainda mantinha um aperto sutil, quase rarefeito. - Não vou deixá-la ir embora assim, eu sinto que aconteceu alguma coisa, por que não pode me dizer?

Olhei para trás e fitei seu rosto angustiado, por um momento notei algo mais em seu olhar. Balancei a cabeça afastando o pensamento, não podia continuar a me iludir, do contrário, ninguém pegaria os caquinhos do meu coração depois. Por conseguinte, puxei delicadamente meu braço, retirando-o de seu aperto.

— Não se preocupe, ficarei bem. - reafirmei e sorri novamente, o sorriso mais falso da minha existência.

— Vem cá. - Naruto foi até mim e pegou minha mão abruptamente.

Senti todos os meus pelos arrepiarem com esse simples toque de mãos.

— Naruto-kun. - tentei contestar, no entanto, ele me ignorou e continuou caminhando comigo de mãos dadas pela vila, em que direção eu não saberia precisar.

— Vamos conversar em um lugar mais reservado, assim pode me dizer com tranquilidade o que está acontecendo. - suas palavras não soaram como um pedido, foi mais uma ordem.

Vislumbrei nossas mãos unidas e soltei um longo suspiro. Como eu queria que fosse para sempre assim!

Enquanto caminhávamos, algumas pessoas olhavam para nós e cochichavam. Outras arregalavam os olhos, talvez pensando que estivéssemos tendo um romance.

Corei só de imaginar isso e Naruto pareceu perceber também. Soltando minha mão na sequência.

— Desculpe. - pediu com as bochechas igualmente vermelhas.

Ele era tão lindo! Chegava a doer meu coração estar tão próxima e ao mesmo tempo tão distante do amor da minha vida. 

— Anh, tudo bem Naruto-kun. - respondi com o rosto queimando.

Sentia falta de seu toque e de sua mão na minha. Aliás, por um momento, a chama que queimava sem se cansar em meu coração — mas que desde ontem jazia quase apagada — novamente ganhou força. 

Como se Naruto tivesse jogado gasolina no fogo do meu amor por ele, sem ao menos dar-se conta, com esse simples gesto. 

Ficamos nos olhando por alguns segundos e Naruto sorriu para mim, porém, quando iria aproximar-se novamente. Surgiram umas três garotas sabe se lá de onde e se jogaram para cima dele.

— Naruto-senpai... - diziam em um tom de voz incrivelmente meloso e até libidinoso, eu diria.

— Ah, oi meninas. - ele coçou a nuca encabulado; entretanto, não afastou-se. - Tudo bem com vocês? - sorriu para cada uma e eu senti a minha chama tremeluzir dentro de mim.

Quase se apagar, pois agora, ele jogava era um balde de água fria no meu amor.

Afastei-me a passos ágeis, tanto que Naruto nem deve ter me visto. Algum tempo após, estava chorando sozinha no meu quarto, como a bela covarde e idiota que eu era.

Eu iria enterrar meu amor por Naruto de uma vez por todas, esse sentimento não iria me destruir. 

Antes, eu o destruiria.

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