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Any Gabrielly

Final de ano na Broadway está sendo bem mais tranquilo para mim do que eu achei que seria. As peças de natal crescem e é a busca mais procurada pelas pessoas no final do ano, então, todas as outras peças, com exceção das clássicas, claro, perdem uma sessão. De certa forma, é triste deixar de se apresentar em um horário para dar lugar à uma peça natalina, mas, também é relaxante saber que terei mais tempo para descansar no final do dia.
O dia hoje foi bem agitado na parte da manhã, além das aulas extras que eu tive que fazer devido as faltas da semana passada, eu ainda tive que cobrir um figurante em uma peça que não é minha, só pela grana. A Broadway me paga muito bem, nada de surreal, mas, ainda é meu maior salário da vida, e com ele, eu posso ajudar em casa e ainda guardar um pouco para o meu casamento com o Josh.

Casamento...
Isso me parece tão distante às vezes, e outras, me parece minha maior certeza. Josh falava sobre isso quase todos os dias quando nos mudamos, ele era um bobo apaixonado, sonhador com o esperado dia, porém, as coisas mudaram um pouco de uns meses para cá. A pior coisa que poderia acontecer, aconteceu, nosso relacionamento caiu na rotina. Era quase impossível não deixar isso acontecer, a vida nova-iorquina exige muito da gente, nossas profissões exigem demais de nós, e nossa carga horária de trabalho nos impossibilita de aproveitar muitas vezes. Sei que Josh sente falta da nossa relação antes, quando éramos apenas jovens apaixonados, agora, apesar da idade, estamos vivendo vidas de adultos, adultos rotineiros.

Perceber que Josh está se afastando tem um tempo foi doloroso para mim, eu mal consigo ver o brilho nos seus lindos olhos azuis de antes, e isso não é uma coisa fácil para digerir. Dizer "eu te amo" parece ter perdido a graça para nós, às vezes, por isso, eu venho decidindo que preciso trazer aquele fogo de antes de volta, trazer aquela chama, e deixar queimar, tanto quanto deixávamos queimar no começo do relacionamento. Quero que Josh me deseje como ele costumava desejar, que ele ainda sinta a paixão por mim consumir seu ser, assim como consome o meu. Afinal, ainda somos jovens com hormônios à flor da pele, a melhor fase da vida, não podemos de deixar passar. Certo?

Entrando na recepção da academia, eu passo direto para os elevadores, por já ser reconhecida pela recepcionista, que sempre autoriza minha entrada quando venho deixar o almoço do Josh algumas vezes, ou entregar algo que ele acabou esquecendo em casa.
Subindo até o terceiro andar, eu torço para que ele esteja sozinho agora, porque não pretendo sair daqui sem conseguir o que eu quero.

Professor? – bato na porta de madeira entreaberta, forçando uma voz provocante.

— Any? O que você está fazendo aqui? Essa hora, ainda por cima. – Josh assume uma expressão surpresa, guardando seu celular dentro do seu bolso.

Entro na sala, fechando a porta e apagando as luzes, deixando o local iluminado apenas pelas luzes de lede coloridas que ficam no chão, perto dos vidros.

— Fui liberada mais cedo, quis fazer uma visita surpresa – digo, chegando perto suficiente para lhe dar um beijo.

Sua mão aperta minha cintura, enquanto ele me beija profundamente. Josh não rompe o beijo até perdermos o fôlego.

— Por que apagou as luzes?

— Para criar um clima – sussurro em seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha. Empurro Josh para a pequena salinha que fica dentro do estúdio, onde tem um sofá, uma mesa e um frigobar somente dele. Sem dar qualquer chance dele assimilar o que está acontecendo.

NIGHTMARES {beauany}Onde histórias criam vida. Descubra agora