— Mãe, eu posso ajudar a trazer arroz pra o formigueiro? Eu não quero ter preguiça! — animou-se Danilo mais uma vez, levantando-se muito disposto no dia seguinte.
Sua mãe, Bella, sorriu, ao lembrar-se de que seu marido havia contado que Danilo tinha descoberto várias coisas sobre Deus, arroz, humanos e preguiça. A pequena formiguinha sabia muito bem que os humanos e a preguiça se davam como ninguém.
— Você quer ajudar? Vejamos... Venha aqui, acho que conseguiremos achar um caminho para irmos — Bella o conduziu para fora de casa, acenando com duas patas para Juliano ao fechar a portinhola. — Está vendo todos esses corredores, Danilo? São diferentes túneis para irmos a diferentes locais desta imensa casa. Estamos em um formigueiro de humanos, mas bem escondidos. Eles não podem nos ver, mas nós podemos vê-los.
— Uau!! — admirou-se Danilo, com seus olhinhos a brilhar de tanta empolgação. — Isso é muito incrível! E nós somos pequenininhos! Eu quero muito ver um humano!
— Se tomarmos cuidado, vamos poder ver. Qual caminho você escolhe? — perguntou sua mãe, apontando para os cinco curtos tobogãs à sua frente.
Danilo pensou um pouco, pensou mais um bocado e chegou à conclusão de que queria ir ao quarto túnel, que levava justamente à cozinha do formigueiro dos humanos.
Assim que os dois avistaram o cômodo que Danilo escolhera, ele esfregou os grandes olhos para se acostumar à claridade e ficou impressionado com o tamanho do lugar.
— Uau, mãe! Que coisa graaande! — Danilo gritou, expressando essa grandeza com seus quatro braços esticados, cada um para um lado. — O arroz está aqui?
— Está, sim. Consegue ver aquela fila de formigas? — Bella apontou para uma fina e organizada linha que cortava as lajotas polidas da parede daquela cozinha, recebendo um enorme "sim" como resposta de seu filhote. — Elas estão sentindo o cheiro de arroz, que os humanos deixaram cair em algum lugar daquela enooorme plataforma, que se chama chão.
Danilo apostou corrida com sua mãe para chegar até lá, porque estava animado e com muita pressa para ajudar a levar comida para o seu formigueiro. Afinal, o formigueiro dos humanos ajudava o formigueiro das formigas.
— Mãe... — murchou um pouco Danilo, assim que viu a montanha de arroz à sua frente. — O arroz é grande demais... Ele é maior que eu! Dá três Danilos! Não consigo levar, sou fraquinho...
— Ora, pequeno... É claro que consegue — ela o encorajou, se abaixando algumas frações de milímetro para ficar na mesma altura que Danilo. — Por que você acha que não consegue?
— Sou pequeno, não tenho tanta força como as outras formigas... Eu acho que vou voltar... — entristeceu-se a formiguinha, já dando meia-volta.
— Danilo, olhe para mim. — Bella o impediu de continuar, tocando em seu ombro rechonchudo. — Você vai desistir assim? Você nem tentou!
— O arroz é muuuuito mais alto que eu, é pesado... Ele vai me esmagar...
— Sabia que Jesus não gosta de que a gente desista dos desafios? Ainda mais antes de tentar? — sua mãe pensou rápido e sorriu, em meio à melancolia do filhote. — Temos que acreditar que Ele vai dar força para nós.
— Jesus? — Danilo levantou a cabeça. — O que é Jesus?
— Jesus é o filho de Deus, e Ele também não gosta que as formiguinhas desistam de carregar um arroz porque acham que é pesado demais, sendo que nem tentaram... Sabia que as formigas são os animais mais fortões da Terra?
— Sério?
— Seríssimo, Danilo, e, se nós confiarmos em Jesus, podemos fazer qualquer coisa.
— Qualquer coisa? — maravilhou-se Danilo, voltando a enfeitar seu rosto marrom com um sorriso talvez maior do que o da sua mãe. — Até levantar aquele arroz enooorme?
— Até levantar aquele arroz enooorme — garantiu sua mãe.
— Mesmo que eu tenha nascido hoje e seja pequeno?
— Sim, Danilo. A nossa fé não pode ser medida com base no nosso tamanho, e sim no tanto que acreditamos em Deus e em Jesus — inteligentemente Bella respondeu, feliz por ter o privilégio de ter um Deus tão extraordinário.
Danilo avaliou um pouco a ideia, pensando que, se já era incrível ter Deus, era mais incrível ainda ter Jesus. Deus tirava a preguiça e Jesus dava força. Tinha como ser melhor?
— Então eu consigo, já que Jesus dá força! Sou fortão com Ele! — convenceu-se Danilo, chegando cada vez mais perto do pequeno grande monte de arroz. — Eu posso escolher este maiorzão?
— Claro, pequeno. Jesus vai te ajudar a levantar o arroz, mesmo que pareça grande.
Danilo, mesmo sem saber exatamente o significado da palavra, teve muitíssima fé, quando disse para si mesmo que aquela era uma tarefa possível. Afinal, com Deus, podemos realizar quaisquer sonhos.
Um pouco desequilibrada, a pequena formiguinha conseguiu levantar um grão de arroz que era três (ou quatro) vezes maior do que ele, sem muito esforço. Depois de estabilizar a enorme bolinha branca em suas costas com a ajuda de Jesus e de sua mãe, comemorou:
— Olha, mãe! Eu consegui!!
— Você está indo muito bem! — orgulhou-se ela. — Com Jesus, somos capazes de fazer qualquer coisa!
— E como que Ele dá essa força pra gente? — quis saber Danilo, fazendo cada vez menos esforço para manter o arroz em suas costas. — Como Ele consegue isso? Achei que fosse só Deus.
A sua mãe pegou um grão de arroz também e, enquanto andavam os dois, ela ia explicando tudo que o filhote perguntava.
— Jesus é o filho de Deus, que foi enviado pra fazer um enorme sacrifício por todos nós. Foi por causa de um vacilo dos humanos, e...
— Esses humanos de novo? Que coisa... — riu Danilo, com uma pitada de desaprovação.
— É, os humanos de novo — Bella entrou no clima. — Eles fizeram uma coisa errada há muito tempo, e então depois Jesus teve que sair do céu para consertar a bagunça aqui na Terra.
— Ele morava no céu?! — Danilo quase deixou o arroz cair, de tanto espanto. — Veio pra cá pra arrumar uma bagunça dos humanos bagunceiros? Mas por que Ele fez isso? Tinha que ter um motivo muito bom.
— E Jesus tinha. — Sua mãe balançou a cabeça, convicta. — Ele ama todo mundo, o mundo todo, por isso se sacrificou para salvar tooodos os humanos.
— Eita! Até os teimosos?
— Até os teimosos — afirmou sua mãe.
— Nossa... Então os humanos são sortudos por serem salvos, deviam dar muito valor. Eles têm Deus, têm Jesus, Ele se sacrificou porque amava tooodas as pessoas, arrumou a bagunça que os próprios humanos tinham feito, dá força, tira a preguiça, é nosso amigo, criou todo mundo... e mesmo assim ainda tem gente que é teimosa. Isso é desinteligência pura! — indignou-se Danilo, enrolando a língua.
— Exatamente, filho... Nós não entendemos esses humanos — concordou Bella.
— Eles são desentendíveis... e desinteligentes.
***
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Formiguinhas
Short Story[Conto finalista do Prêmio Literário da Academia Juvenil Acreana de Letras na categoria de Contos, com direito a medalha e certificado. Fui a única finalista garota e também a única menor de idade. Girl power, meninas!] Dividido em quatro capítulos...