Capítulo 4 - Sentido? Pra quê?

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Danilo chegou em casa saltitando de felicidade, por ter conseguido levantar, equilibrar e carregar o arroz até seu formigueiro, e seu pai ficou radiante ao descobrir que seu filhote já estava sabendo quem era Jesus e que ele tinha conseguido levar o arroz até lá por causa de sua nova, porém gigante, fé.

— Pai, sabia que eu sou fortão? Jesus me ajudou a levantar um arroz grandão! — empolgou-se Danilo, mostrando os gigantes músculos que seus bracinhos carregavam.

— É mesmo, Danilo? — Seu pai colocou os braços na cintura, piscando para Bella. — Então você teve fé, foi isso?

— Siim!! Como sabe? — o pequeno estranhou, deixando a cabeça despencar para um dos lados.

— Hmm... Só podemos realizar nossos desejos através de Jesus se tivermos fé. Sem fé, é impossível agradar a Deus. Você quer agradar a Deus, não é?

— Claro!! — exclamou Danilo. — E a Jesus!! Eles são meus melhores amigos! Deus criou todo mundo e Jesus dá superforça! Nós somos muito sortudos!!

Seu pai sorriu com o aprendizado formidável de seu filhote e se despediu de Bella com um aceno, vendo que ela estava de saída da pequena toca.

— Isso é incrível, não? Somos os insetos mais fortes do mundo por causa da fé que temos em Jesus! Existem humanos fortes, mas acho que a fé de uma formiga é maior do que a de um humano. Eles costumam ter a fé do nosso tamanho e nós, do tamanho de todos os humanos juntos e multiplicados — Juliano sabiamente pontuou, de acordo com sua vasta experiência.

Danilo se sobressaltou com a magnitude do que seu pai estava falando e pulou de pura alegria:

— Eu amo Jesus, pai! Não quero que a minha fé vá embora, nem que a dos humanos seja pequena. Será que dá pra nós orarmos e pedirmos que os humanos parem de ser desinteligentes?

— Claro, Danilo. Fico muito, muito feliz pelo seu pedido. Vamos agora?

— Vamos!

E então pai e filho ajoelharam-se à beira do sofá, composto por pouco mais de quatro grãos de areia, e Danilo olhou para Juliano, que sorriu e iniciou:

— Senhor Deus, nós estamos aqui para pedir que os humanos usem a sua inteligência com sabedoria, principalmente os teimosos, preguiçosos e os desinteligentes. Sabemos que alguns deles até sabem que Tu existe, mas às vezes nem fazem tanta questão de te procurar e de te servir. Queremos pedir que esses humanos te conheçam de verdade e que sejam salvos, pra que possam morar no céu junto contigo. Em nome de Jesus, amém.

Danilo se levantou rápido e muito feliz, sorrindo, e não resistiu à tentação de fazer uma pergunta batucante.

— Pai, os humanos vão para o céu? Eu não sabia disso.

— Sim! Se eles servirem a Deus e tiverem fé durante a vida, vão morar junto com Jesus lá no céu, que é o melhor lugar pra se estar. Lá não tem choro, nem dor, nem tristeza. Na verdade, não tem nada de ruim. É tudo lindo e maravilhoso e todos servem a Deus.

— Esses humanos deviam valorizar isso — observou Danilo, balançando a cabeça. — O Jesus morava no céu, tranquilo, os humanos erraram, Jesus teve que descer aqui pra consertar a burrada que fizeram e agora eu descubro que eles podem ir para o céu! Que privilégio eles têm!!

— Isso mesmo, Danilo — confirmou seu pai. — É muita bondade que Deus tem com eles e...

Juliano terminaria sua fala, claro, se não fosse uma imensa e devastadora lança que se esgueirava de uma maneira não muito delicada pela toca, acabando com todos os móveis de barro e esmigalhando as migalhas de arroz, amontoadas no canto da cozinha. As paredes vinham abaixo e várias formigas corriam de um lado para o outro, invadindo túneis cavados manualmente por elas mesmas e gritando muito alto, atônitas.

Danilo tentou esquivar-se da destruidora máquina mortífera que punha um fim à sua casa e ao formigueiro inteiro, mas a grossa linha sólida e prateada o alcançou antes que pudesse perceber e suas patas grudaram no metal de tal jeito que ele não conseguiu se soltar, e seu medo transbordou nitidamente por seus olhos.

— Pai!!!

— Danilo, não se preocupe!! — gritou Juliano, mas ele mesmo duvidava de suas palavras e a distância entre ele e seu filhote apenas aumentava, milímetro após milímetro. — Deus está com você, lembra?! É só ficar de olho no Senhor e vai dar tudo certo!

— Se não der errado!

E então a agulha chacoalhou e Danilo perdeu o equilíbrio, se agarrando a ela com apenas duas patas, totalmente impossibilitado de se concentrar em outra coisa senão em evitar a sua fatal queda.

Juliano seguiu o metal com os abundantes olhos o quanto pôde, percebendo que se formava no ar o desenho de dois grandes dedos que sustentavam a pequena grande arma e a faziam voar. Aos poucos, a figura foi se estendendo a uma mão, a um braço, a um ombro. Ele viu a silhueta inteira de um humano gigante e se desesperou mais a cada centímetro dilacerante que o separava de seu filhote. Então Danilo viu seu pai aflito e tudo escureceu.

— Seja criativo!!

*****

Fim.

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