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Serei para sempre uma virgem solteirona... É o meu destino viver com sete gatos e plantas em um apartamento isolado do mundo inteiro para não ter que ver a felicidade alheia. Nem mesmo televisão terei na minha casa. A amargura está fadada a permanecer comigo até meu último suspiro.

— Ka? Você não está feliz por mim, mana? — minha irmã pergunta ao ver que estou apática, com o queixo apoiado nas mãos, largada na mesa da cozinha, enquanto ela conta com ânimo sobre o pedido hiper-romântico de um namorado que eu nem sabia que ela tinha.

— Estou, Keilinha. Só... Você não acha que está cedo demais? Eu nem mesmo conheço esse seu namorado, daí agora me aparece dizendo que vai se casar, menina?

— Ah, Karen, sabe quando a gente sente que é o cara? — Ela solta um suspiro sonhador, e solto outro. Não, não sei, porque nunca aconteceu comigo. É o que queria responder de um jeito mal-humorado, mas fico calada.

Seguro sua mão entre as minhas, encarando o anel com um misto de alegria e tristeza. Alegria por vê-la tão contente e tristeza por... Bem, vocês já sabem a novela que passo.

Observo os olhos verdes brilhantes de Keila e me pergunto se um dia verei o mesmo brilho nos meus. Nós somos praticamente iguais na aparência, mas não poderíamos estar mais diferentes agora em relação ao estado de espírito.

Vejo-a sacudindo os cabelos loiros e lisos, que caem lindamente em cascatas pelos ombros desnudos, e penso que ela dará uma linda noiva. Poderia ser eu? Poderia. Mas, ainda assim, ela ficará linda.

— E me conta... Quando irei conhecê-lo? — pergunto, tentando me animar por ela. Não quero estragar sua empolgação.

— Pretendo levá-lo para casa no Natal! A mamãe vai ficar tão feliz quando conhecê-lo, Ka. Ele é um príncipe de tão lindo!

— Ah, no Natal...

Isso não poderia ficar melhor, sinceramente. No Natal, parece que o espírito casamenteiro baixa na casa dos meus pais e a família gigante passa a querer casar até o cachorro. Achei que terei uma cúmplice na solteirice, como sempre, mas não... Agora serei a única sem nem mesmo um namorado para apresentar para a família.

Os dias serão longos... Será que tem como cancelar?

— Não fica triste, minha irmã. Você sabe que irá encontrar alguém também. — Sinto a mão de Keila afagando a minha e só então percebo que não disfarcei muito bem meus sentimentos.

— Não sei, Keilinha — falo, abrindo um sorriso fraco. — Mas vai dar tudo certo! O que é meu está sendo preparado com muito carinho por Deus.

— Está sim! Assim que se fala, mana! Ele pode estar pertinho de você, boba.

O dia com Keila corre como sempre é, recheado de guloseimas e frases de besteira saindo da boca da criatura desmiolada. Apesar de a minha família inteira ser religiosa, sempre tem os mais loucos, como a Keila. A curiosidade dela chega a um nível que a minha prefere nem pisar perto. Não sou santa, claro que não, mas evito certos tipos de assuntos porque a tentação já é grande demais sem a gente precisar ir atrás.

— Fiquei sabendo, Ka. Dizem que é grande e grossa feito um tora de madeira.

— Keila! Não exagera e deixa de besteira, sua cabeça de vento — protesto, levantando-me do chão da sala com um pote vazio de sorvete. — Não acha que está na hora de ir para casa? Já acabou com toda a minha despensa de besteira. Era para durar a semana toda.

— Ain, sua ruim! Para de me expulsar! — Mesmo sob protestos dramáticos, ela se levanta e me ajuda a arrumar a bagunça antes de se preparar para ir embora.

Casamento Inesperado: uma mentirinha de Natal [AMOSTRA]Onde histórias criam vida. Descubra agora